Correio Braziliense - Jorge Vasconcellos
© Mandel Ngan/AFP - Sergio Lima/AFP - Ernesto Araújo e Ricardo Salles estão na mira da ala militar do governo
Depois de baixar o
tom na relação com o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso, o presidente
Jair Bolsonaro agora está preocupado com os prejuízos do discurso radical do
governo para política externa. No momento em que o país enfrenta o maior
isolamento internacional de sua história, o chefe do Executivo tem ouvido de
auxiliares e parlamentares que chegou a hora de fazer mudanças em setores de
grande repercussão no exterior, como a diplomacia e o meio ambiente.
Os ministros da
Casa Civil, Braga Netto, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, são os
principais conselheiros de Bolsonaro nessa discussão, após articularem uma
trégua entre o Executivo e os demais Poderes. Na avaliação desses generais, o
recuo nos ataques ao STF era urgente, ante o avanço de investigações incômodas
para o Planalto, como o inquérito que apura se o presidente tentou interferir
politicamente na Polícia Federal.
Na mira dos dois
representantes da ala militar do governo, agora, estão os ministros Ernesto
Araújo, das Relações Exteriores, e Ricardo Salles, do Meio Ambiente. Ambos
também são os mais citados, no meio político, em conversas sobre uma possível
reforma ministerial.
O viés ideológico
da gestão de Araújo no Itamaraty, motivo de sucessivos embates com organismos
globais, é visto por interlocutores do presidente como um obstáculo à
recuperação da imagem do Brasil no exterior, agora ainda mais manchada em razão
dos números trágicos da pandemia do novo coronavírus. Já a política ambiental,
conduzida por Salles, tem sido alvo de ameaças de retaliações comerciais ao
Brasil, em um momento de grave retração econômica.
Araújo, diante de
rumores sobre sua saída do governo, vem tentando mostrar serviço. Na
terça-feira, ordenou que todas as divisões do Itamaraty produzissem uma relação
das ações desenvolvidas pelo do ministério desde o início do governo. De
visitas oficiais ao exterior a acordos assinados.
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O isolamento
internacional do Brasil subiu de patamar nesta semana. Na segunda-feira,
autoridades sanitárias da China suspenderam a compra de produtos de três
frigoríficos brasileiros, em razão da gravidade da pandemia no país. Ontem, a
União Europeia reabriu suas fronteiras externas e deixou entrar no bloco apenas
turistas de 14 países que conseguiram barrar o avanço da covid-19. Brasil e
Estados Unidos ficaram fora da lista. No fim de maio, o presidente americano,
Donald Trump, já havia imposto restrições à entrada de pessoas procedentes do
Brasil.
Na quarta-feira, o
Ministério das Relações Exteriores divulgou nota informando que “vem
acompanhando permanentemente os trâmites internos da UE com vistas à reabertura
coordenada das fronteiras”. A pasta acrescenta que “a lista será revista e
poderá ser atualizada periodicamente, a cada duas semanas, com base na evolução
do quadro epidemiológico em cada país”.
Para o professor
Juliano da Silva Cortinhas, do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB), essas medidas restritivas se devem a uma
política externa equivocada, ao avanço do desmatamento no Brasil e a
deficiências na resposta do país à pandemia. “Esse isolamento imposto ao Brasil
é uma consequência direta da irresponsabilidade brasileira na mitigação da
crise do novo coronavírus”, destacou. “Nós vamos, a partir de agora, pagar um
alto preço, tanto em vidas quanto em medidas que nos restringirão a capacidade
de nos movimentarmos pelo sistema internacional.”
Panos quentes Na quarta-feira, Ricardo Salles
tentou minimizar uma eventual demissão. “Se ele quiser trocar o ministério, tem
todo o direito de fazer isso, no Meio Ambiente ou em qualquer outro. Então,
acho que isso não tem problema nenhum, o governo é dele”, frisou, em entrevista
à Rádio Jovem Pan. Ele ressaltou, ainda, que na política há sempre gente
querendo fazer intrigas. “Isso faz parte da vida pública, da política.”
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