(AP Photo/Leo Correa) |
Renato Grandelle
O Globo, 21 de junho de 2020
A woman walks amid symbolic graves on Copacabana beach, dug by activists from NGO Rio de Paz protesting the government's handling of the COVID-19 pandemic in Rio de Janeiro, Brazil, Thursday, June 11, 2020. A Brazilian Supreme Court justice ordered the government of President Jair Bolsonaro to resume publication of full COVID-19 data, including the cumulative death toll, following allegations the government was trying to hide the severity of the pandemic in Latin America’s biggest country.
Fronteiras abertas, falta de testes, apagão de dados públicos, quarentenas descumpridas e brigas de autoridades. Uma sucessão de erros levou o Brasil à vexaminosa marca de 50 mil óbitos pela Covid-19. Afinal, a doença já havia deixado um rastro de tragédias bem antes de aterrissar aqui — segundo estudos da Unicamp, o país foi o último entre as 15 maiores nações do mundo acometidas pelo novo coronavírus.
[Convém deixar bem claro: a briga é patrocinada pelo presidente Bolsonaro, o qual chamou de "gripezinha", zombou dos brasileiros com o seu "E daí", provocou a saída de dois Ministros da Saúde, receitou ilegalmente a "Cloroquina", desmontou a técnica e a ciência do Ministério da Saúde e questiona constantemente o isolamento social, além das agressões indevidas do seu governo à China, a OMS e aos Prefeitos e Governadores - grifo deste Blog]
Não faltaram exemplos internacionais
sobre como evitar — ou, ao menos, amenizar — a onda de óbitos no Brasil. Hoje
estável em diversas regiões do país, o índice de mortes pode voltar a subir nas
próximas semanas, diante da abertura precoce de serviços em grandes centros
urbanos, como Rio e São Paulo.
— A Argentina fechou suas fronteiras
e registrou menos de mil mortes. O Brasil é um país muito maior e esta operação
seria mais complicada, mas poderia ter sido feita, ao menos, nos aeroportos de
Rio e São Paulo, com um centro de controle para testagem de passageiros — diz o
pesquisador de imunologia Alessandro Farias, coordenador da força-tarefa da
Unicamp contra a Covid-19.
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A falta de testes impediu um panorama
sobre o alastramento da doença no país.
— O Brasil optou por concentrar os
exames em pacientes suspeitos ou em estado grave. Assim, temos uma taxa de
testes positivos superior a 30%. Em muitos países, este índice é de 5%, porque
há testes para examinar mais pessoas — explica. — A subnotificação é fenomenal.
Estima-se que a taxa de óbitos seja pelo menos cinco vezes maior do que a notificada.
Farias adverte que mesmo os casos bem
sucedidos de quarentena podem sofrer revezes, o que implicaria em restringir
novamente a circulação de pessoas:
— Muitos governos sucumbiram ao lobby
econômico e a pressão da população e permitiram a reabertura dos serviços antes
da hora. O aumento do número de infecções pode pressionar a necessidade de
leitos de UTI. O ideal é que menos de 80% deles estejam desocupados, e esta não
é a realidade em diversos locais do país — alerta o pesquisador.
Farias ressalta que a comunidade
científica mundial conhece muito pouco sobre o Sars-COV-2. Entre suas
características preocupantes está o alto tempo em que fica no organismo — até
21 dias — e o fato de que não precisa passar por muitas mudanças até atingir o
sistema imunológico. É, como define, um vírus “muito bem sucedido”. A
ocorrência de uma “segunda onda” é provável — sua duração e gravidade,
desconhecidas.
Descontrole do
governo
Doutor em Epidemiologia pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Paulo Petry sublinha a alta taxa de
contágio do Sars-COV-2. No Brasil, cada infectado transmite o vírus para três
pessoas, segundo estudo do Imperial College de Londres.
— O distanciamento das pessoas é
fundamental para o achatamento da curva epidemiológica. Mas enfrentamos
problemas como a aglomeração nas periferias — lamenta.
O “descontrole governamental”,
segundo Petry, também impulsionou a curva de óbitos. A população assistiu a
declarações que comparavam a Covid-19 a uma “gripezinha”, como fez o presidente
Jair Bolsonaro, além de embates com prefeitos, governadores e os próprios
ministros.
As discórdias com Bolsonaro
despejaram Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich do comando do Ministério da
Saúde. A pasta é agora ocupada pelo interino Eduardo Pazuello, que não tem experiência
na área. Uma das marcas do início de sua gestão foi o “apagão” de dados do
portal do governo sobre o coronavírus. Pesquisadores protestaram contra o
sumiço de dados sobre o histórico da pandemia no país.
— Houve uma tentativa de apagar os
dados, que são fundamentais para gerar informações científicas e, depois,
políticas públicas — explica Petry. — Um ministro que não é da área da Saúde
não fornece uma diretriz para o combate à pandemia. Estamos pagando com vidas o
baixo investimento em pesquisas, o equipamento precário do SUS. Se houvesse
investimentos, dependeríamos menos do insumo e da tecnologia estrangeira para
atender os pacientes. Poderíamos produzir os nossos respiradores.
O epidemiologista estima que, com o
início do inverno, a taxa de mortalidade provocada por doenças respiratórias,
entre elas o coronavírus, pode até quadruplicar, mostrando como a pandemia
ainda está longe do fim.
Na casa da professora Márcia de
Paiva, de 58 anos, em Petrópolis, o coronavírus provocou um estrago avassalador.
Ela, o marido, o irmão e a mãe contraíram a Covid-19 — a mãe, Maria Lucia
Cabral, de 85 anos, faleceu.
— No começo, pensávamos que só era
gripe ou dor de garganta. Mas depois senti falta de ar, perdi o apetite, quase
desmaiei porque não comia. Meu irmão queria me levar ao hospital para tomar
soro, mas eu não quis, tinha medo de me contaminar — lembra Márcia.
Ao fazer o diagnóstico, o médico
recomendou que a professora tomasse cloroquina. Márcia recusou, por temer os
efeitos colaterais.
— É muito triste ver a dimensão que uma doença pode
ter. Vejo algumas pessoas andando sem máscara na rua. Só vão sentir a dor
quando a doença chegar as suas famílias.
EM TEMPO: Uma boa parcela dos governantes são preguiçosos e descompromissados, pois só fazem alguma coisa se receberem muito dinheiro, mesmo assim só agem se forem cobrados. Por exemplo: as "barreiras sanitárias": inexistem na maioria das cidades e as que existem demoraram muito a serem instaladas. Porém o custo é pequeno. Lembrando que hum medidor de temperatura, a laser, custa em torno de R$70,00. O controle de entrada e saída de pessoas, da cidade, é fundamental. As pessoas que desembarcam dos ônibus vindos de outras regiões do país, especialmente São Paulo, deveriam ficar em observação médica. Mas, tudo é muito livre e o vírus se propaga com facilidade. Agora durmam com essa bronca, mas fiquem em casa, se puderem, é claro.
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