quinta-feira, 18 de junho de 2020

Prisão de Queiroz coloca mais pressão em momento crítico para Bolsonaro


Por Lisandra Paraguassu

Reuters

 

Fabrício Queiroz chega ao aeroporto de Jacarepaguá após ser preso no interior de SP

BRASÍLIA (Reuters) - A prisão de Fabrício Queiroz na casa de Frederick Wassef, advogado de Flávio Bolsonaro, é mais uma peça em um jogo que tem deixado o presidente Jair Bolsonaro ainda mais na defensiva e pode fazê-lo investir cada vez mais no que o elegeu: as redes sociais e a massa bolsonarista fiel.

A operação que levou à prisão de Queiroz e revelou que o ex-assessor de Flávio estaria sendo escondido pelo advogado ligado à família Bolsonaro traz a crise do escândalo da "rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro para dentro do Palácio do Planalto, algo que Bolsonaro sempre tentou evitar.

O desdobramento ocorre em uma semana em que o presidente viu mais uma operação da Polícia Federal atingir diretamente seus aliados mais fiéis -- inclusive com a quebra de sigilos, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), de 11 parlamentares da base mais fiel do governo. A investigação, sobre o financiamento e organização de atos antidemocráticos, se soma ao inquérito sobre produção de fake news que também atingiu em cheio grupos bolsonaristas fiéis.

Depois de partir para um confronto direto, ao menos em palavras, com o STF, com críticas aos ministros Alexandre de Moraes e Celso de Mello, Bolsonaro foi aconselhado a evitar novos conflitos. A operação de terça-feira, no entanto, fez o presidente afirmar a apoiadores, no dia seguinte, que "eles estão abusando" a "olhos vistos".

À tarde, ao dar posse ao novo ministro das Comunicações, Fábio Faria, Bolsonaro fez questão de lembrar que tem "grande parte da população confiante no nosso trabalho", enquanto tinha a seu lado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, e Dias Toffoli, presidente do STF.

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"Começo cumprimentando o povo, que dá o nosso norte, que nos inspira pela democracia e acima de tudo a liberdade. Não são as instituições que dizem o que o povo deve fazer, é o contrário, o povo que diz o que as instituições devem fazer", destacou.

Nesta quinta, voltou ao mote: "Eu faço o que o povo quiser", afirmou em um vídeo em que o agora ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciava sua saída do governo.

Ainda nesta semana, o plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) incluiu na pauta da próxima terça-feira o julgamento de uma ação que pede a cassação da chapa presidencial Bolsonaro-Mourão, movida pelo PT, que alega o uso de outdoors com padrões em favor da campanha vitoriosa em 2018. Essa é a terceira das oito ações que tentam cassar a chapa Bolsonaro-Mourão que vai a julgamento pelo TSE.

Com uma crise atrás da outra, o presidente tenta revigorar as bases bolsonaristas nas redes sociais que foram essenciais na sua eleição. A participação nos atos a seu favor que passaram a ser feitos todos os domingos em Brasília ajudou a tentar aquecer os grupos, mas não conseguiu criar um movimento de peso em defesa do governo.

Ao contrário, grupos opositores começaram a se organizar e, mesmo em meio à epidemia do novo coronavírus, conseguiram reunir nas ruas mais gente que os grupos bolsonaristas.

A operação que mirou blogueiros, youtubers e parlamentares aliados a Bolsonaro conseguiu, esta semana, revigorar um pouco essa base nas redes sociais.

O levantamento mais recente da Sala de Democracia Digital da Fundação Getúlio Vargas, feito na terça-feira, mostra que os perfis de apoio ao governo se mantêm abaixo dos 20% no debate nacional desde o início deste ano, mas na terça-feira, dia da operação que atingiu justamente esses grupos, foram responsáveis por 51% das postagens e retuítes.

Nesta quita, no entanto, o escândalo da prisão de Queiroz baixou os ânimos. Eduardo e Carlos, os filhos de Bolsonaro mais ativos nas redes, não entraram no debate e praticamente passaram o dia sem novas postagens. Os grupos bolsonaristas não conseguiram emplacar nenhuma hashtag em defesa do governo, e o debate foi dominado por críticos ao governo.

O mote de que foi eleito por 57 milhões de votos --desconsiderando que outros 89 milhões de eleitores não o escolheram-- é usado pelos bolsonaristas nas redes sociais para vender ainda a ideia de que o presidente tem, por trás das suas ações, um apoio popular forte, o que não aconteceria com os demais Poderes.

Com uma rede de influenciadores digitais, blogueiros e youtubers --muitos deles acusados de produzir notícias falsas--, os bolsonaristas movimentam as redes em defesa do governo, subindo hashtags e passando a impressão de um apoio ao governo maior do que o existente na realidade.

De acordo com as últimas pesquisas, no entanto, o grupo que ainda considera o governo bom ou ótimo tem aparecido abaixo dos 30% e, mesmo nas redes sociais, o governo não consegue mais dominar a narrativa.

Sem conseguir uma estratégia de defesa convincente, o Planalto nesta quinta-feira optou pelo silêncio.


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