Por Lisandra Paraguassu
Fabrício Queiroz
chega ao aeroporto de Jacarepaguá após ser preso no interior de SP
BRASÍLIA (Reuters) - A prisão de Fabrício Queiroz na casa de Frederick Wassef, advogado de Flávio Bolsonaro, é mais uma peça em um jogo que tem deixado o presidente Jair Bolsonaro ainda mais na defensiva e pode fazê-lo investir cada vez mais no que o elegeu: as redes sociais e a massa bolsonarista fiel.
A operação que
levou à prisão de Queiroz e revelou que o ex-assessor de Flávio estaria sendo
escondido pelo advogado ligado à família Bolsonaro traz a crise do escândalo da
"rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro para dentro
do Palácio do Planalto, algo que Bolsonaro sempre tentou evitar.
O desdobramento
ocorre em uma semana em que o presidente viu mais uma operação da Polícia
Federal atingir diretamente seus aliados mais fiéis -- inclusive com a quebra
de sigilos, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), de 11 parlamentares
da base mais fiel do governo. A investigação, sobre o financiamento e
organização de atos antidemocráticos, se soma ao inquérito sobre produção de
fake news que também atingiu em cheio grupos bolsonaristas fiéis.
Depois de partir
para um confronto direto, ao menos em palavras, com o STF, com críticas aos
ministros Alexandre de Moraes e Celso de Mello, Bolsonaro foi aconselhado a
evitar novos conflitos. A operação de terça-feira, no entanto, fez o presidente
afirmar a apoiadores, no dia seguinte, que "eles estão abusando" a
"olhos vistos".
À tarde, ao dar
posse ao novo ministro das Comunicações, Fábio Faria, Bolsonaro fez questão de
lembrar que tem "grande parte da população confiante no nosso
trabalho", enquanto tinha a seu lado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da
Câmara, e Dias Toffoli, presidente do STF.
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"Começo
cumprimentando o povo, que dá o nosso norte, que nos inspira pela democracia e
acima de tudo a liberdade. Não são as instituições que dizem o que o povo deve
fazer, é o contrário, o povo que diz o que as instituições devem fazer",
destacou.
Nesta quinta,
voltou ao mote: "Eu faço o que o povo quiser", afirmou em um vídeo em
que o agora ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciava sua saída do
governo.
Ainda nesta
semana, o plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) incluiu na pauta da
próxima terça-feira o julgamento de uma ação que pede a cassação da chapa
presidencial Bolsonaro-Mourão, movida pelo PT, que alega o uso de outdoors com
padrões em favor da campanha vitoriosa em 2018. Essa é a terceira das oito
ações que tentam cassar a chapa Bolsonaro-Mourão que vai a julgamento pelo TSE.
Com uma crise
atrás da outra, o presidente tenta revigorar as bases bolsonaristas nas redes
sociais que foram essenciais na sua eleição. A participação nos atos a seu
favor que passaram a ser feitos todos os domingos em Brasília ajudou a tentar
aquecer os grupos, mas não conseguiu criar um movimento de peso em defesa do
governo.
Ao contrário,
grupos opositores começaram a se organizar e, mesmo em meio à epidemia do novo
coronavírus, conseguiram reunir nas ruas mais gente que os grupos
bolsonaristas.
A operação que
mirou blogueiros, youtubers e parlamentares aliados a Bolsonaro conseguiu, esta
semana, revigorar um pouco essa base nas redes sociais.
O levantamento
mais recente da Sala de Democracia Digital da Fundação Getúlio Vargas, feito na
terça-feira, mostra que os perfis de apoio ao governo se mantêm abaixo dos 20%
no debate nacional desde o início deste ano, mas na terça-feira, dia da
operação que atingiu justamente esses grupos, foram responsáveis por 51% das
postagens e retuítes.
Nesta quita, no
entanto, o escândalo da prisão de Queiroz baixou os ânimos. Eduardo e Carlos,
os filhos de Bolsonaro mais ativos nas redes, não entraram no debate e
praticamente passaram o dia sem novas postagens. Os grupos bolsonaristas não
conseguiram emplacar nenhuma hashtag em defesa do governo, e o debate foi
dominado por críticos ao governo.
O mote de que
foi eleito por 57 milhões de votos --desconsiderando que outros 89 milhões de
eleitores não o escolheram-- é usado pelos bolsonaristas nas redes sociais para
vender ainda a ideia de que o presidente tem, por trás das suas ações, um apoio
popular forte, o que não aconteceria com os demais Poderes.
Com uma rede de
influenciadores digitais, blogueiros e youtubers --muitos deles acusados de
produzir notícias falsas--, os bolsonaristas movimentam as redes em defesa do
governo, subindo hashtags e passando a impressão de um apoio ao governo maior
do que o existente na realidade.
De acordo com as
últimas pesquisas, no entanto, o grupo que ainda considera o governo bom ou
ótimo tem aparecido abaixo dos 30% e, mesmo nas redes sociais, o governo não
consegue mais dominar a narrativa.
Sem conseguir
uma estratégia de defesa convincente, o Planalto nesta quinta-feira optou pelo
silêncio.
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