NELSON ALMEIDA VIA GETTY IMAGES
“Se tem um negócio que mexe com o político é a
reação do eleitor e povo na rua”, disse um deputado do Centrão ao HuffPost.
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A onda de manifestações
pró-democracia, aliada aos chamamentos de protestos nas ruas, ecoou
entre os parlamentares e trouxe como resultado ao menos duas sinalizações de
recuo do governo de Jair
Bolsonaro. Na Câmara dos Deputados, grupos que têm se aproximado do
Planalto nos últimos meses estão em alerta e, nos bastidores, falam em não
endossar qualquer postura autoritária ou enfrentamentos ao STF (Supremo
Tribunal Federal).
Parlamentares ouvidos pelo HuffPost
Brasil viram nos posicionamentos de setores da sociedade que se manifestaram
contra eventual ruptura institucional um lembrete de que é grande a parcela da
população que não aceitará uma escalada autoritária no País. A percepção é que
o movimento também atingiu o presidente. Um exemplo citado como recuo foi a
mudança de comportamento do filho do presidente, deputado Eduardo Bolsonaro
(PSL-SP).
Na semana passada,
ele afirmou que não era questão de “se”, mas de “quando” haveria uma ruptura.
Propôs ainda que as Forças Armadas fossem convocadas para “colocar panos
quentes” e zerar o jogo democrático. Nesta terça-feira (2), Eduardo falou que
isso “já passou” e evitou insistir no assunto. O presidente, que costuma inflar
suas bases, se esquivou de fazer comentários à imprensa.
Como exemplo de falta de apoio a Bolsonaro no Congresso foi citado o descrédito com o qual foi visto o projeto de lei do deputado ligado ao presidente Daniel Silveira (PSL-RJ) que tipifica grupos “antifas” (antifascistas) como organizações terroristas. Questionado se iria pautar o texto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ironizou. “Você quer mesmo que eu responda? Um projeto completamente absurdo desses não merece nem resposta”, disse a jornalistas. Ele acrescentou que não iria pautar um votação que a ampla maioria da Casa rejeita.
Para parlamentares, forte reação pró-democracia fez Bolsonaro recuar.
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Lideranças não escondem o descontentamento com os arroubos autoritários do presidente. No plenário da Casa, o líder do Republicanos — partido de dois dos filhos de Bolsonaro (Flávio e Carlos) —, Silvio Costa Filho (PE), chamou atenção para o acirramento da crise entre as instituições “muitas vezes provocadas pelo presidente”. O parlamentar disse estar preocupado e pediu “respeito às instituições”.
Ao HuffPost Brasil, outro cacique do
centrão disparou: “O presidente está acuado com a pressão e não viu amparo no
Legislativo. Há um recuo dele nesses últimos dias. É possível ver isso no tuíte
que ele pede para bolsonaristas não irem às ruas e também no aceno feito pelo
vice-presidente Hamilton Mourão dizendo que golpe está fora de propósito”.
Ainda assim, a onda pró-democracia que
existe hoje é limitada e não é capaz de unir os partidos, na avaliação de um
dos líderes da Casa. “Esses protestos mudam a cena, dão fôlego ao discurso da
oposição para bater, mas não interferem no posicionamento geral da Câmara. Já
vínhamos firmes contra o autoritarismo, contra aquela fala do Eduardo, mas não
há intenção de atuar junto com a oposição. Está todo mundo de olho nessa
movimentação, mas ninguém está interessado em polarização”, diz.
Outro parlamentar do centrão acrescenta
que o povo nas ruas coloca em xeque o alcance do apoio que Bolsonaro tem dentro
da Câmara. Para ele, os protestos tendem a crescer. “E se tem um negócio que
mexe com o político é a reação do eleitor e povo na rua”, diz. O deputado,
porém, ressalta que episódios de vandalismo podem ter efeito reverso.
No fim de semana, torcedores de times adversários de São Paulo foram às ruas manifestar apoio à democracia.
Os conflitos registrados em atos no
último domingo muniram parlamentares a endossar críticas ao movimento. “Fomos
obrigados a ver criminosos ateando fogo na nossa bandeira nacional”, afirmou o
deputado Guilherme Derrite (PP-SP). Falando pelo PSD, o deputado Reinhold
Stephanes (PR) afirmou que “as coisas estão radicalizando no Brasil” e que “tem
gente que não está respeitando o resultado das urnas”. Ele criticou a
depredação de lojas e acusou a esquerda de promover os atos.
Manifestos
pró-democracia
Desde o fim da semana passada cresce a
quantidade de entidades da sociedade civil que têm se manifestado contra
escalada autoritária no País. O ápice foi o fim de semana, com os movimentos
suprapartidários Estamos Juntos e Somos 70%, que uniram de Fernando Haddad (PT)
a Fernando Henrique Cardoso (PSDB), incluindo o ex-ministro da Saúde do governo
Bolsonaro Luiz Henrique Mandetta (DEM). Os grupos ganharam repercussão nas
redes sociais ao ressaltar que representam “parte da maioria que defende a
vida, a liberdade e a democracia” ― como descreve o Estamos Juntos.
O movimento afirma que é “hora de
deixar de lado velhas disputas em busca do bem comum”. “Esquerda, centro e
direita unidos para defender a lei, a ordem, a política, a ética, as famílias,
o voto, a ciência, a verdade, o respeito e a valorização da diversidade, a
liberdade de imprensa, a importância da arte, a preservação do meio ambiente e
a responsabilidade na economia”, diz o manifesto.
Entidades de classe ligadas à Justiça, como AMB (de
magistrados), ANPR (de procuradores da República) e Ajufe (de juízes federais),
também se pronunciaram. No domingo, torcidas de times adversários de São Paulo
se manifestaram na Avenida Paulista, em São Paulo. Em plena pandemia do novo
coronavírus e contrariando as orientações por isolamento social, torcedores
foram às ruas em oposição a grupos bolsonaristas que têm ocupado as ruas,
especialmente de Brasília, todos os domingos. Há novos protestos convocados
para o próximo domingo em defesa da democracia.
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