quarta-feira, 3 de junho de 2020

Onda de manifestações pró-democracia acende alerta entre partidos que se aproximaram de Bolsonaro


NELSON ALMEIDA VIA GETTY IMAGES

 

“Se tem um negócio que mexe com o político é a reação do eleitor e povo na rua”, disse um deputado do Centrão ao HuffPost.

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By Grasielle Castro

onda de manifestações pró-democracia, aliada aos chamamentos de protestos nas ruas, ecoou entre os parlamentares e trouxe como resultado ao menos duas sinalizações de recuo do governo de Jair Bolsonaro. Na Câmara dos Deputados, grupos que têm se aproximado do Planalto nos últimos meses estão em alerta e, nos bastidores, falam em não endossar qualquer postura autoritária ou enfrentamentos ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Parlamentares ouvidos pelo HuffPost Brasil viram nos posicionamentos de setores da sociedade que se manifestaram contra eventual ruptura institucional um lembrete de que é grande a parcela da população que não aceitará uma escalada autoritária no País. A percepção é que o movimento também atingiu o presidente. Um exemplo citado como recuo foi a mudança de comportamento do filho do presidente, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Na semana passada, ele afirmou que não era questão de “se”, mas de “quando” haveria uma ruptura. Propôs ainda que as Forças Armadas fossem convocadas para “colocar panos quentes” e zerar o jogo democrático. Nesta terça-feira (2), Eduardo falou que isso “já passou” e evitou insistir no assunto. O presidente, que costuma inflar suas bases, se esquivou de fazer comentários à imprensa.

Como exemplo de falta de apoio a Bolsonaro no Congresso foi citado o descrédito com o qual foi visto o projeto de lei do deputado ligado ao presidente Daniel Silveira (PSL-RJ) que tipifica grupos “antifas” (antifascistas) como organizações terroristas. Questionado se iria pautar o texto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ironizou. “Você quer mesmo que eu responda? Um projeto completamente absurdo desses não merece nem resposta”, disse a jornalistas. Ele acrescentou que não iria pautar um votação que a ampla maioria da Casa rejeita.

Para parlamentares, forte reação pró-democracia fez Bolsonaro recuar. 

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Lideranças não escondem o descontentamento com os arroubos autoritários do presidente. No plenário da Casa, o líder do Republicanos — partido de dois dos filhos de Bolsonaro (Flávio e Carlos) —, Silvio Costa Filho (PE), chamou atenção para o acirramento da crise entre as instituições “muitas vezes provocadas pelo presidente”. O parlamentar disse estar preocupado e pediu “respeito às instituições”.

Ao HuffPost Brasil, outro cacique do centrão disparou: “O presidente está acuado com a pressão e não viu amparo no Legislativo. Há um recuo dele nesses últimos dias. É possível ver isso no tuíte que ele pede para bolsonaristas não irem às ruas e também no aceno feito pelo vice-presidente Hamilton Mourão dizendo que golpe está fora de propósito”.

Ainda assim, a onda pró-democracia que existe hoje é limitada e não é capaz de unir os partidos, na avaliação de um dos líderes da Casa. “Esses protestos mudam a cena, dão fôlego ao discurso da oposição para bater, mas não interferem no posicionamento geral da Câmara. Já vínhamos firmes contra o autoritarismo, contra aquela fala do Eduardo, mas não há intenção de atuar junto com a oposição. Está todo mundo de olho nessa movimentação, mas ninguém está interessado em polarização”, diz.

Outro parlamentar do centrão acrescenta que o povo nas ruas coloca em xeque o alcance do apoio que Bolsonaro tem dentro da Câmara. Para ele, os protestos tendem a crescer. “E se tem um negócio que mexe com o político é a reação do eleitor e povo na rua”, diz. O deputado, porém, ressalta que episódios de vandalismo podem ter efeito reverso.

No fim de semana, torcedores de times adversários de São Paulo foram às ruas manifestar apoio à democracia.

Os conflitos registrados em atos no último domingo muniram parlamentares a endossar críticas ao movimento. “Fomos obrigados a ver criminosos ateando fogo na nossa bandeira nacional”, afirmou o deputado Guilherme Derrite (PP-SP). Falando pelo PSD, o deputado Reinhold Stephanes (PR) afirmou que “as coisas estão radicalizando no Brasil” e que “tem gente que não está respeitando o resultado das urnas”. Ele criticou a depredação de lojas e acusou a esquerda de promover os atos.

Manifestos pró-democracia

Desde o fim da semana passada cresce a quantidade de entidades da sociedade civil que têm se manifestado contra escalada autoritária no País. O ápice foi o fim de semana, com os movimentos suprapartidários Estamos Juntos e Somos 70%, que uniram de Fernando Haddad (PT) a Fernando Henrique Cardoso (PSDB), incluindo o ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro Luiz Henrique Mandetta (DEM). Os grupos ganharam repercussão nas redes sociais ao ressaltar que representam “parte da maioria que defende a vida, a liberdade e a democracia” ― como descreve o Estamos Juntos.

O movimento afirma que é “hora de deixar de lado velhas disputas em busca do bem comum”. “Esquerda, centro e direita unidos para defender a lei, a ordem, a política, a ética, as famílias, o voto, a ciência, a verdade, o respeito e a valorização da diversidade, a liberdade de imprensa, a importância da arte, a preservação do meio ambiente e a responsabilidade na economia”, diz o manifesto.

Entidades de classe ligadas à Justiça, como AMB (de magistrados), ANPR (de procuradores da República) e Ajufe (de juízes federais), também se pronunciaram. No domingo, torcidas de times adversários de São Paulo se manifestaram na Avenida Paulista, em São Paulo. Em plena pandemia do novo coronavírus e contrariando as orientações por isolamento social, torcedores foram às ruas em oposição a grupos bolsonaristas que têm ocupado as ruas, especialmente de Brasília, todos os domingos. Há novos protestos convocados para o próximo domingo em defesa da democracia. 


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