Bolsonaristas atacam STF com fogos de artifício
para simular bombardeio
IGOR GIELOW
Folhapress, 14 de junho de 2020
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ministros do Supremo Tribunal Federal e integrantes do Governo do Distrito Federal trabalham com a hipótese de o ataque simbólico de manifestantes contra a corte na noite de sábado (13) ter sido facilitado pela Polícia Militar em conluio com o Palácio do Planalto.
De tão séria, a conexão ainda está
sendo tratada com o máximo de reserva. O Ministério Público Federal abriu uma
investigação sigilosa sobre o ataque, nominalmente de autoria do grupo 300 do
Brasil, que havia sido desalojado de seu acampamento na Esplanada dos
Ministérios na manhã do sábado.
O grupo defende o governo Jair
Bolsonaro e prega intervenção militar contra o Supremo e o Congresso. Sua
líder, Sara Winter, pseudônimo tirado de uma notória espiã britânica nazista,
já disse que há armas entre os militantes.
Neste domingo, Bolsonaro não
participou de atos antidemocráticos. Já seu ministro da Educação, Abraham
Weintraub, esteve na Esplanada no domingo pela manhã com manifestantes
golpistas --sem máscara, contra a lei local, e contra o veto a atos naquele
ponto, determinado sábado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB).
Chamou a atenção de todos os
observadores do episódio a inação policial durante a instalação dos fogos de
artifício na praça dos Três Poderes, que foram lançados com impropérios em
direção ao prédio do Supremo.
Segundo informações que chegaram ao
Supremo, a falta de reação policial pode ter sido combinada com pessoas da área
de inteligência do governo. A Folha procurou o GSI (Gabinete de Segurança
Institucional), responsável pelo setor, para comentar o caso, mas não houve
resposta.
O governo do Distrito Federal agiu
rapidamente e destituiu o subcomandante da PM, Luiz Ferreira de Souza, na tarde
do domingo. Ele é o chefe efetivo da polícia, já que o comandante está se
recuperando da Covid-19.
Um dos envolvidos na ação, Renan
Silva Sena, foi preso também durante a tarde. Membros do governo distrital se
dividem ao comentar o caso, dado que a relação entre a comunidade de
inteligência federal e a PM local não é considerada por alguns como das mais
azeitadas.
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Seja como for, no Supremo a situação
sugere uma degeneração. Se não foi conluio, tudo indica uma inação espontânea,
que joga lenha na fogueira de temores de infiltração do bolsonarismo nas forças
policiais.
Provocação não falta. No sábado, o
filho presidencial Eduardo Bolsonaro, deputado pelo PSL-SP, visitou
manifestantes do 300 do Brasil e postou em redes sociais críticas à ação da PM
que retirou o acampamento da agremiação na Esplanada.
Já seu irmão Carlos, vereador pelo
Republicanos do Rio, chamou o ministro Gilmar Mendes (STF) de "doente
mental" por ter criticado a sugestão feita pelo presidente de invasão de
hospitais para filmar supostos leitos vazios --ele acredita que governadores
inflam dados da Covid-19 para prejudicá-lo.
A tensão institucional vem se
acumulando nas últimas semanas. Na sexta (12), o presidente divulgou nota em
que dizia que as Forças Armadas não respeitariam "ordens absurdas" ou
"julgamentos políticos", uma referência indireta às decisões que
contrariam Bolsonaro no Supremo e à ação que pede a cassação de sua chapa com
Hamilton Mourão em 2018.
O vice-presidente, general da
reserva, assinou a nota com o chefe e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo.
Como a Folha de S.Paulo mostrou, o tom intimidador causou repúdio no Supremo e
entre militares da ativa.
A reação por ora é institucional. O presidente do
Supremo, Dias Toffoli, respondeu por ora com uma nota acerca do ataque de
sábado. Mas há poucas dúvidas, entre os togados, de que os eventos do fim de
semana dificultaram o caminho para acomodações que se insinuavam nas últimas
semanas com o Executivo.
EM TEMPO: Bolsonaro depende e confia no cartucho dos outros. No caso os militares. Por isso incentiva essa baderna. Caso os militares, cerca de 3.000, desembarquem do governo Bolsonaro, o Brasil voltará a normalidade, a saúde tenderá a melhorar e o Poder Judiciário irá trabalhar sem sofrer pertubação de quem quer que seja. Agora durmam com essa bronca.
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