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Yahoo Notícias, 4 de junho de 2020
Julio Croda (à esquerda) ao lado de Joao Gabbardo Reis, que também deixou ministério da Saúde -
Julio Croda, ex-chefe do departamento de imunização e doenças transmissíveis do Ministério da Saúde na gestão de Luiz Henrique Mandetta, revelou ao jornal El País que os integrantes da pasta já esperavam uma falta de respostas efetivas do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus.
"A gente sentia dentro do
Governo que não existia união sobre o que deveria ser feito e que a resposta
seria pífia, como está sendo. Saí antes que houvesse qualquer impacto desnecessário
para o setor técnico", afirma ele, que pediu demissão no dia 23 de março,
pouco menos de um mês antes da demissão de Mandetta.
Croda, que é medico infectologista,
destacou que não há um alinhamento entre as ações do governo federal e as dos
estados e municípios.
"Os estados vão tomando as
atitudes sem nenhum apoio do Ministério da Saúde. O Rio Grande do Sul tem um
programa de flexibilização, São Paulo lançou o seu, Minas Gerais também tem um
plano... Mas não existe nenhuma definição técnica do Ministério da Saúde",
criticou.
As diretrizes do isolamento social,
medida defendida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para frear o avanço da
pandemia pelo mundo, foram uma das questões centrais tanto da queda de
Mandetta, quanto do seu sucessor Nelson Teich, que permaneceu menos de um mês
no cargo.
Ambos, Mandetta e Teich, defendiam as
medidas de isolamento social, enquanto Bolsonaro queria a flexibilização das
mesmas, sob o argumento de proteção da economia do país.
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"Em nenhum momento esse assunto
é revisitado, existe um esquecimento do ponto de vista técnico", lamenta o
ex-membro do ministério da Saúde.
Ao El País, Croda ainda revelou um
episódio chocante. Ele diz ter ouvido de Solange Vieira, que chefia a
Superintendência de Seguros Privados do Ministério da Economia, que “é bom que
mortes se concentrem entre os idosos... Isso melhorará nosso desempenho
econômico, pois reduzirá nosso déficit previdenciário", teria dito a
mulher em referência a parcela da população considerada mais vulnerável à
Covid-19.
A agência de notícias Reuters, ouviu
outra autoridade que confirmou a fala de Solange. Procurada pela agência, ela
não se manifestou. O ministério da Economia, por sua vez, informou que ela
observou os impactos de vários cenários "sempre com foco na preservação de
vidas" e que a participação na reunião atendeu um convite de Mandetta.
Diante da condução descoordenada da
pandemia, Croda prevê um grande número de mortes até a situação no país se
estabilizar.
"Até lá vai morrer muita gente
sem assistência. E a doença já circula principalmente entre os mais pobres, que
contam com menos leitos de internação. Vai ser muito triste o que vai acontecer
no Brasil", afirma.
De acordo com boletim mais recente do Ministério da
Saúde, divulgado na noite desta quarta-feira (03), o país registrou mais 1.349
mortes confirmadas em 24 horas, totalizando 32.548 óbitos. Além disso, já são
584.016 casos confirmados.
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