Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino |
Yahoo Notícias, 3 de junho de 2020
Fabio Wajngarten, chefe da Secom, ao lado do presidente Jair Bolsonaro
Foram identificados mais de dois
milhões de anúncios pagos com verba da Secretaria de Comunicação Social da
Presidência da República (Secom) em sites, aplicativos de celular e canais de Youtube
que veiculam conteúdo considerado inadequados. O relatório foi produzido a
pedido da CPMI das Fake News e relevado pelo jornal O Globo.
Entre os sites que recebem anúncios
pagos pela Secom, estão páginas com notícias falsas, conteúdo pornográfico e
que oferecem investimentos ilegais.
De acordo com O Globo, os dados que
integram o relatório foram obtidos pela Lei de Acesso a Informação (LAI).
Apesar de terem sido solicitadas informações entre janeiro e novembro de 2019,
a Secom entregou apenas dados de um período de 38 dias: 6 de junho e 13 de
julho do ano passado.
Mesmo com o recorte mais restrito,
ainda foi possível localizar 2.065.479 anúncios em 843 canais considerados
inadequados.
À época, a verba utilizada era
destinada para campanha em prol da Reforma da Previdência. A publicidade foi
direcionada de forma automática aos sites pelas plataformas Adwords e Adsense
do Google. Ainda assim, é possível que o anunciante bloqueie sites específicos
se assim desejar.
Dentre os 843 canais inadequados
estão: 741 canais do Youtube que foram removidos pela plataforma por
descumprimentos de regras, 47 sites que divulgas notícias falsas, 12 sites com
notícias sobre jogos de azar, sete que fazem ofertas de investimentos ilegais e
quatro com conteúdo pornográfico.
Entre os sites colocados na categoria
de veiculadores de notícias falsas estão: “Jornal da Cidade Online",
“Terça Live", “Folha do Brasil” e “Diário do Centro do Mundo". A
classificação dos veículos nessa categoria foi realizada pelos integrantes da
CPMI das Fake News.
O blogueiro Allan dos Santos, do site
“Terça Livre", é um dos investigados no inquérito que tramita do Supremo
Tribunal Federal (STF) e que apura uma suposta máquina de notícias falsas e
ataques a ministros da Corte.
Durante uma oitiva na CPMI, o
blogueiro, apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), afirmou que não
recebia dinheiro público. Contudo, os dados da Secom mostram que seu canal no
Youtube recebeu 1.447 anúncios.
Constam ainda no relatório, segundo O
Globo, cinco canais que fazem promoção de autoridades como o próprio
presidente. Entre eles, há um denominado “Bolsonaro TV” e o canal pessoal do
senador Flavio Bolsonaro (PSL-RJ).
Segundo o próprio relatório, a
destinação de verba pública para a promoção pessoal de autoridades pode ser
configurada com violação à Constituição Federal.
"A veiculação de anúncios, pela Secom, em
canais desse tipo pode gerar questionamento com base no § 1º do art. 37 da
Constituição, pois abre a possibilidade de se interpretar tal fato como
utilização da publicidade oficial para promoção pessoal, conduta vedada pela
Carta Magna", diz um trecho do documento.
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