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ESTADÃO - Fausto Macedo e Pepita Ortega
O delegado Maurício Valeixo, ex-chefe da Polícia Federal, afirmou, durante o depoimento prestado na
manhã desta segunda, 11, na sede da corporação em Curitiba, que o
presidente Jair Bolsonaro lhe
disse que não tinha nada 'contra a sua pessoa', mas queria um diretor-geral com
quem tivesse mais 'afinidade'. A oitiva do homem de confiança do
ex-ministro Sérgio Moro no
inquérito sobre suposta tentativa de interferência do presidente na PF teve
início às 10h10 da manhã e terminou às 16h20. Foram pouco mais de seis horas de
depoimento.
O depoimento de
Valeixo foi agendado para a manhã desta segunda, após decisão do ministro Celso
de Mello, do Supremo Tribunal Federal, relator da investigação que apura as
acusações feitas por Moro a Bolsonaro quando anunciou sua saída do governo. O
decano atendeu a pedido do procurador-geral da República Augusto Aras e
determinou ainda a oitiva de outros quatro delegados, três ministros e da
deputada Carla Zambelli.
Também estão
previstas para esta segunda as oitivas do delegado Ricardo Saadi, ex-chefe da
PF no Rio, e do diretor da Agência Brasileira de Inteligência Alexandre Ramagem
Rodrigues. Os depoimentos estão marcados para as 15h no edifício sede da
corporação em Brasília.
Valeixo é pivô
central nas crises entre e Moro e Bolsonaro. O primeiro dos atritos públicos
entre o presidente e o ex-ministro, relacionada a primeira tentativa do
Planalto de trocar o comando da PF no Rio, incluiu até uma ameaça de demissão
de Valeixo. "Se eu não posso trocar o
superintendente, eu vou trocar o diretor-geral. Não se discute isso aí",
afirmou o presidente na ocasião.
Já a crise mais
recente culminou na demissão de Moro da pasta de Justiça e Segurança Pública do
governo Bolsonaro, sendo que ao anunciar sua saída do cargo, o ex-juiz acusou o presidente de
tentar interferir politicamente no comando da Polícia Federal para obter acesso
a informações sigilosas e relatórios de inteligência.
Antes da
formalização da demissão, Moro chegou a avisar o presidente que deixaria a
equipe caso ele impusesse um novo nome para a diretoria-geral da PF. Na
prática, Valeixo já havia tratado com Moro de sua saída do cargo, reportando-se
a um 2019 tenso no comando da PF. Moro buscava encontrar um nome de sua
confiança quando foi surpreendido pelo comunicado de Bolsonaro de que mudanças
na corporação ocorreriam nos próximos dias.
A exoneração de
Valeixo do comando da PF foi publicada dias depois do aviso, na madrugada do
último dia 24, com a assinatura do então ministro Sérgio Moro e a indicação de
que a saída teria se dado 'a pedido'. No entanto, ao anunciar sua demissão Moro
frisou que não assinou a exoneração de seu homem de confiança e afirmou que o
então diretor-geral não queria deixar o cargo.
No pronunciamento,
Moro indicou ainda que Bolsonaro relatou em conversas preocupação com o
andamento de inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF). O
ministro disse que não tinha como continuar no ministério 'sem preservar
autonomia da PF', avaliando que a interferência política na corporação poderia
levar a 'relações impróprias' entre o diretor da corporação e o presidente da
República.
Após a saída de
Valeixo e Moro do governo escolheu André Mendonça e Alexandre Ramagem para a
pasta da Justiça e Segurança Pública e para a chefia da PF, respectivamente. No
entanto, a nomeação de Ramagem, amigo da família Bolsonaro, foi barrada por
decisão do ministro Alexandre de Moraes. A União acabou revogando o ato e
nomeou Rolando Alexandre, braço direito de Ramagem na Abin, para a diretoria-geral
da PF. Apesar da troca, o presidente segue insistindo em Ramagem.
Semana de depoimentos e exibição de
vídeo de reunião ministerial
As últimas
atualizações do inquérito que trata das acusações feitas por Moro contra
Bolsonaro são as oitivas agendadas para esta semana e ainda a exibição, a um
grupo seleto de autoridades, do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, na
qual, segundo Moro, o presidente teria cobrado a substituição do diretor-geral
da PF e do superintendente no Rio.
Com relação as oitivas,
os investigadores vão ouvir na tarde desta terça, 12, no Palácio do
Planalto, três ministros próximos do presidente
- Augusto Heleno (GSI), Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos
(Secretaria de Governo) - que teriam testemunhado,
segundo Moro, ameaças proferidas pelo presidente contra o ex-ministro caso ele
não concordasse com a troca da direção-geral da PF.
Antes das oitivas,
durante a manhã, a PF vai exibir a gravação entregue
pelo governo a restrito grupo de autoridades que tiveram permissão
ministro Celso de Mello, incluindo Moro, o procurador-geral da República
Augusto Aras e o advogado-geral da União José Levi Mello do Amaral Júnior.
A exibição foi agendada após decisão dada pelo decano na noite de sábado,
9, que indicou que a delegada Christiane
Corrêa Machado mostraria o conteúdo integral do HD entregue pelo Planalto em
'ato único'.
Moro vai a Brasília
para acompanhar o acesso ao vídeo. Segundo a PGR, assistirão ao vídeo os
procuradores que já acompanham o caso - João Paulo Lordelo Guimarães Tavares,
Antonio Morimoto e Hebert Reis Mesquita.
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