(Andressa Anholete/Getty Images) |
Yahoo Notícias, 20 de maio de 2020
Em nota divulgada na madrugada desta
quarta-feira (20), o vice-presidente do PSL, deputado federal Júnior Bozzella
(SP), afirmou que o partido irá cobrar do senador Flávio Bolsonaro (ex-PSL,
hoje no Republicanos-RJ) a devolução de cerca de R$ 500 mil de recursos
públicos direcionados ao escritório de advocacia de um ex-assessor.
De acordo com o PSL -partido pelo
qual a família Bolsonaro foi eleita em 2018, mas com o qual rompeu no final de
2019-, houve desvio de finalidade na aplicação do dinheiro do fundo partidário,
além de Flávio ter mentido nas explicações que deu, em redes sociais, na noite
desta terça-feira (19).
Conforme a Folha mostrou, o PSL
nacional contratou em fevereiro de 2019, a pedido de Flávio, o escritório de
advocacia de um ex-assessor que hoje tem o nome envolvido no suposto vazamento
de informações da Polícia Federal em benefício da família do presidente da
República.
Foram 13 meses e meio de contrato
para serviços jurídicos ao PSL do Rio, então comandado por Flávio, com custo
aos cofres públicos de ao menos R$ 500 mil.
Na terça, a defesa de Granado afirmou
que o contrato "firmado pelo Diretório Nacional tinha como objeto
regularizar a prestação de contas do diretório regional do estado do Rio de
Janeiro, bem como, prestar assessoria jurídica para os 92 diretórios municipais
do partido".
Flávio reforçou, em suas redes
sociais: "O senador não 'repassou' nada e, mais, enquanto no comando do
diretório estadual do Rio de Janeiro, optou por não receber recursos
partidários e manter as despesas jurídicas, contábeis e administrativas à cargo
do Diretório Nacional".
A nota do PSL contesta essas
afirmações, afirmando que o diretório do Rio não estava apto juridicamente para
receber recursos do fundo partidário, única razão pela qual o contrato foi
feito pela executiva nacional do partido.
"O PSL concedeu ao então
presidente do diretório do RJ, senador Flávio Bolsonaro, a prerrogativa da
seleção e fiscalização dos prestadores de serviços para atuar na regularização
dos diretórios municipais no estado, assim como ocorre com todos os demais
diretórios estaduais", diz a nota, acrescentando ser "torpe a
tentativa da defesa de Flávio Bolsonaro de redirecionar as acusações ao seu
cliente, por uso ilegal de recursos públicos, para o diretório nacional do
partido, que só efetuou a contratação porque o diretório estadual do RJ não se
encontrava apto a receber recursos para faze-lo diretamente."
Ainda de acordo com o PSL, durante a
gestão de Flávio Bolsonaro nenhum dos 87 diretórios no RJ que se encontravam
irregulares tiveram a sua situação sanada. Os 17 regularizados até agora o
foram após a saída de Flávio, afirma a legenda. "O senador deve agora dar
as explicações sobre a utilização do fornecedor para outros fins, que não os
quais foi contratado."
À Folha de S.Paulo, Bozzella disse
que o escritório contratado a pedido de Flávio "não trabalhou para o
partido e recebeu R$ 540 mil. Desvio de finalidade".
"O maior indício de desvio de
finalidade é o Flávio ter falado que o advogado foi contratado para regularizar
os diretórios municipais do RJ, e os diretórios municipais não terem sido regularizados
no período de vigência do contrato. E também o fato do serviço não ter sido
prestado para o PSL conforme contratado, porém o advogado atuou para o senador
em outras ações, não para atender o PSL, como na loja de chocolate",
disse.
Para o líder do PSL no Senado, Major
Olimpio (SP), os fatos merecem ser apurados pela direção nacional do partido. O
senador enviou um ofício ao presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE),
pedindo que seja feita uma auditoria no contrato. Ele pede, em caso de irregularidades,
que o partido requeira a responsabilização e a devolução do dinheiro público
por parte dos envolvidos.
Victor Granado foi funcionário do
gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio no período da suspeita de
existência de um esquema de "rachadinha" operado por Fabrício
Queiroz. O advogado também teve seu sigilo bancário quebrado nas investigações.
Victor também já foi advogado da
franquia de chocolate de Flávio suspeita de ser usada para lavar dinheiro
desviado no esquema de "rachadinha" operado por Queiroz. Como mostrou
nesta segunda-feira (18) o Jornal Nacional, da TV Globo, o próprio advogado é
proprietário de duas franquias da mesma rede de chocolate. As lojas são
investigadas.
A reportagem procurou na manhã desta
quarta Flávio e Victor Granado, e aguarda uma manifestação.
A nota do PSL também reproduz a
informação de que o PSL está cobrando ressarcimento de dinheiro do fundo
partidário pago ao escritório da advogada Karina Kufa, hoje na linha de frente
da criação do Aliança pelo Brasil, o partido que Jair Bolsonaro tenta colocar
de pé.
"Em São Paulo, por exemplo,
quando o diretório era presidido pelo deputado Eduardo Bolsonaro [outro dos
filhos do presidente], foi contratada a advogada Karina Kufa. Dos 491
municípios em que está presente em São Paulo, o PSL tem hoje 461 diretórios
regularizados, sendo 393 após a saída de Eduardo Bolsonaro e outros 68 antes de
sua chegada. Nenhum diretório municipal foi regularizado durante sua
gestão", afirma a nota do PSL, afirmando cobrar na Justiça o ressarcimento
dos valores pagos a ela, por desvio de finalidade. "O mesmo deve ocorrer
com a Granado em relação ao Rio de Janeiro."
Segundo a prestação de contas do PSL,
Kufa tinha dois contratos com o partido, um de R$ 200 mil para representar o
PSL em ações no Supremo Tribunal Federal e outro, de R$ 40 mil ao mês, desde
março de 2019, para serviços jurídicos ao PSL de São Paulo.
Ninguém no gabinete de Eduardo
Bolsonaro atendeu a telefonemas na manhã desta quarta. A Folha procurou e
aguarda uma manifestação de Karina Kufa.
Da FOLHAPRESS
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