(Photo by Andressa Anholete/Getty Images) |
"Temos que botar
limites", disse o presidente Bolsonaro sobre ações no STF que desagradam o
governo, como operação da PF contra fake news.
O Brasil tem 26.754 mortos pela Covid-19 e já soma
438.238 casos confirmados da doença, de acordo com balanço divulgado pelo
Ministério da Saúde na quinta-feira (28).
Os efeitos da crise econômica causada
ainda pelo novo coronavírus já são visíveis no mercado de trabalho brasileiro.
A taxa de desemprego no país atingiu 12,8 milhões de pessoas, segundo dados do
IBGE.
Mas não são os números de mortos, nem
de doentes, muito menos dos desempregados que incomodam o presidente da
República, Jair Bolsonaro.
As principais preocupações do
presidente são inquéritos em andamento no Supremo Tribunal Federal que ameaçam
seu governo e investigações que envolvem seus filhos.
FAKE NEWS
“Acabou, porra!”, gritou Bolsonaro,
na saída do Palácio da Alvorada, na quinta-feira (28), em reação à operação da
Polícia Federal que realizou busca e apreensão em endereços de apoiadores do
governo. “Temos que botar limites”, disse.
A ação foi autorizada pelo relator do
inquérito que apura a veiculação de notícias falsas contra o Supremo Tribunal
Federal (STF), ministro Alexandre de Moraes.
O inquérito que apura a veiculação de
notícias falsas e ameaças a integrantes do STF está cada vez mais próximo do
Palácio do Planalto.
Em operação na quarta-feira (27), a
Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços de aliados
do presidente.
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Entre as pessoas suspeitas de
envolvimento com a rede de divulgação de ofensas, estão os empresários Luciano
Hang, fundador da Havan, e Edgar Corona, presidente das redes de academias
Smart Fit, a militante Sara Winter, os blogueiros Wiston Lima e Allan dos
Santos, o deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP) e o presidente nacional do
PTB, ex-deputado federal Roberto Jefferson.
Oito parlamentares bolsonaristas são
investigados, mas não foram alvo de recolhimento de material em seus endereços.
Moraes determinou que eles sejam ouvidos em dez dias e proibiu que suas
postagens em redes sociais sejam apagadas.
Entre eles, estão Bia Kicis (DF),
Carla Zambelli (SP), Daniel Lúcio (RJ), Filipe Barros (PR), Geraldo Junio (MG)
e Luiz Phillipe de Orleans e Bragança (RJ).
Mas a suspeita é de que o “gabinete
do ódio” seja coordenado de dentro do Palácio do Planalto e comandado pelo
vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Depoimentos de testemunhas que
descreveram o suposto esquema apontaram os servidores da Presidência da
República Matheus Sales, Mateus Matos Diniz e Tercio Arnaud Tomaz como os
principais integrantes da rede que produz e distribui fake news contra diversas
autoridades, personalidades e até integrantes do Supremo Tribunal Federal.
CASSAÇÃO
No entanto, o que acendeu o alerta
vermelho para Bolsonaro não é só o andamento do processo, apontando para o
filho 02 e que pode respingar ainda no 03, o deputado federal Eduardo Bolsonaro
(PSL-SP).
As provas colhidas pela Polícia
Federal na operação podem trazer novos elementos às ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e fortalecer os processos que analisam os
pedidos de cassação da chapa de Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão por eventuais
crimes eleitorais.
Na operação contra apoiadores do
presidente, o ministro do STF Alexandre de Moraes quebrou os sigilos fiscal e
bancário do empresário Luciano Hang, suspeito de financiar a disseminação de
notícias falsas durante as eleições de 2018.
Além do disparo de mensagens em massa
ser vedado pelo TSE, o financiamento desse esquema não foi contabilizado na
Justiça Eleitoral e pode configurar crime de caixa dois.
INTERFERÊNCIA NA PF
O presidente Jair Bolsonaro também é
alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal que apura interferência na
Polícia Federal, com base na denúncia do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro.
Caso o processo avance, o chefe do
Executivo pode ser acusado de crime de responsabilidade e ser afastado do
cargo. Entre os crimes investigados estão falsidade ideológica, coação no curso
de processo, advocacia administrativa, prevaricação, obstrução de Justiça e
corrupção passiva.
No vídeo de reunião ministerial do
dia 22 abril, divulgado na íntegra pelo relator do inquérito, ministro Celso de
Mello, Bolsonaro afirmou:
"Eu tenho o poder e vou
interferir em todos os ministérios, sem exceção. (…) Eu não posso ser
surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações”.
"Já tentei trocar gente da
segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu
não vou esperar f... minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu
não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à
estrutura. Vai trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar
o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira”.
O vídeo e os depoimentos colhidos até
agora no inquérito reforçam a narrativa do ex-juiz da Lava Jato, sobre a
interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal, sobretudo em
relação ao Rio de Janeiro.
Após apuração da PF, a
Procuradoria-Geral da República (PGR) vai avaliar se haverá acusação contra
Bolsonaro.
O procurador-geral Augusto Aras é
visto como alinhado ao Palácio do Planalto, mas segundo membros da PGR, Aras
poderá transferir para o Congresso Nacional a tarefa de julgar a suposta
interferência do presidente na PF. A saída seria descartar a prática de crime
comum e indicar a possibilidade de crime de responsabilidade na conduta de
Bolsonaro.
Ao comunicar a Câmara dos Deputados
sobre os indicativos de crime de responsabilidade, uma comissão seria aberta
para analisar a prática e, eventualmente, dar andamento ao processo que, se
aprovado por 342 deputados, afastaria Bolsonaro do cargo por 180 dias, até
julgamento final pelo Senado.
NOVO ELEMENTO
As investigações ganharam novos
elementos com o depoimento do empresário Paulo Marinho. Segundo ele, assessores
do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) foram informados com antecedência
sobre a operação Furna da Onça por um delegado da PF, em 2018, após o primeiro
turno das eleições.
O senador era alvo da operação, que
apurou irregularidades na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), na
época em que Flávio era deputado estadual.
Movimentações financeiras do
ex-assessor Fabricio Queiroz chamaram a atenção e indicaram um esquema de
“rachadinha”, que consiste no repasse, por parte de um servidor público, de
parte de sua remuneração a políticos e assessores.
Os relatos do empresário, além das
provas que ele ficou de entregar à Justiça, podem servir como novos elementos
de prova no inquérito de interferência na Polícia Federal.
FILHOS
O caso que implica Flávio no esquema
de “rachadinha” ainda é investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.
Para os investigadores, ele é chefe de uma organização criminosa que atuou em
seu gabinete na Alerj entre 2007 e 2018, e parte dos recursos movimentados no
esquema foi lavada em uma franquia de chocolate da qual ele é sócio.
Esse seria um dos motivos pelos quais
o presidente Jair Bolsonaro tem tanto interesse em interferir na Polícia
Federal do Rio de Janeiro.
Carlos Bolsonaro também é investigado
pelo Ministério Público do Rio de Janeiro após reportagens apontarem que
assessores nomeados em seu gabinete nunca exerceram de fato essas funções.
Promotores suspeitam da existência de um esquema de rachadinha.
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