Imagem: SINDUECE |
O PIONEIRISMO DE
CAMILO SANTANA (PT) NA RETIRADA DE DIREITOS SOCIAIS
Alex Santos – PCB
Ceará
Tornou-se prática
pioneira do governante cearense, anunciar de véspera a retirada de direitos
coletivos e individuais do serviço público estadual, direitos conquistados a
duras penas por meio de lutas homéricas e heroicas. O pioneirismo dessa atitude
macabra do referido gestor, endossada por sua base de apoio político na
Assembleia Legislativa (ALCE), está no fato do anúncio acontecer na véspera de
datas, simbolicamente, importantes para o cristianismo. Quando não do Natal
(nascimento de Cristo), na Páscoa (ressurreição e ascensão aos céus do filho do
Criador).
Passemos à
contextualização das primeiras iniciativas, para na sequência focarmos na mais
recente e que adota como justificativa a crise sanitária e econômica causada
pelo COVID-19. O fato é que a famigerada pandemia tem assolado o mundo,
deixando um rastro de mortes e desalento, abrindo um flanco para discussões
sobre o futuro da humanidade, principalmente, atualizando com mais intensidade
a tese de Rosa Luxemburgo: “Socialismo ou Barbárie”.
Diante dessa indicação luxemburguiana, o governo do Ceará tem seguido o rumo da
barbárie, por adotar a linha econômica e necropolítica do neoliberalismo.
Ao segui-la, em 2016, na véspera de Natal, o(a) servidor(a) público(a) recebeu
dois presentes de grego, verdadeiros Cavalos de Troia.
Primeiro, a aprovação
da Emenda Constitucional (EC) nº 88, de 21 de dezembro de 2016, com a
instituição do Novo Regime Fiscal. Essa EC restringiu os gastos públicos em
despesas primárias, por exemplo, saneamento básico e financiamento das despesas
de custeio das universidades públicas (UECE, UVA e URCA); dificultou a
realização de concursos públicos para diversos órgãos de serviços essenciais no
Estado (saúde, educação, etc.), no intuito de aumentar as reservas fiscais para
pagamento de juros e amortizações da “eterna” dívida pública. Pagamento
destinado aos bancos e banqueiros, além de assumir a isenção fiscal oferecida a
industriais e outros empresários que atuam nas plagas cearenses, sugando a
riqueza produzida pelos(as) trabalhadores(as) assalariados(as) e informais e
explorando até o limite do suportável sua força de trabalho.
Com essa medida
aprovada pelo parlamento cearense, após mensagem nº 8.070, em regime de
urgência, encaminhada pelo governador Camilo Santana (PT), o serviço público
cearense sofre um duro golpe com o congelamento das despesas primárias
correntes por dez anos, com repercussão negativa para o custeio de todos os
órgãos públicos. Aqueles órgãos que atualmente já têm dificuldades de manter
seus serviços básicos funcionando por escassez de recursos, como é o caso das
universidades estaduais (UECE, UVA e URCA), estão sob o risco de ter um colapso
financeiro com o congelamento dos gastos por uma década (SINDUECE, 2016) .
Segundo, a
antecipação ao próprio governo golpista e/ou ilegítimo do presidente Michel
Temer, quando encaminhou para aprovação do parlamento a Mensagem nº 8.073/2016
que, ao chegar na ALCE, converteu-se em Projeto de Lei Complementar (PLC) nº
11/16 e, depois de aprovado, Lei nº 167, de 27 de dezembro de 2016. Esta peça
legal aumentou de 11% para 14%, a contribuição da alíquota previdenciária de
trabalhadores(as) ativos(as) do serviço público. O PLC foi votado em 22 de
dezembro de 2016, na dinâmica do período natalino, época de anúncio de “boas
novas”, exceto para as diversas categorias do funcionalismo estadual.
Um terceiro episódio,
anunciado pelos poderes executivo e legislativo que fere os(as) direitos de
servidores(as), ocorreu recentemente, véspera do Natal de 2019, quando,
seguindo a linha de Paulo Guedes e Bolsonaro, o governo da terra que pariu
“Dragão do Mar” aprovou a contrarreforma da Previdência Estadual. Pior presente
de Natal que alguém poderia receber, verdadeiro veneno amargo que veio junto
com bombas de gás lacrimogênio, spray de pimenta e cassetetes, em virtude da
truculência do batalhão de choque da polícia militar. O conjunto compõe um
coquetel de agressões ingeridas por aqueles(as) que resolveram protestar e
resistir nas proximidades da Assembleia Legislativa, contra a subtração de mais
um direito social conquistado.
Como quarto ponto,
ocorrido em abril de 2020, trata da “postergação [suspensão], até 2021, da
implantação em folha das ascensões funcionais referentes ao exercício de 2020
de todos os agentes públicos estaduais, vedado pagamento retroativo; […]
vedação enquanto durar a pandemia no Estado, da nomeação de candidatos
aprovados em cursos públicos” (RESOLUÇÃO CONSELHO DE GOVERNANÇA FISCAL n.
01/2020).
Aproveitando-se da
situação de calamidade pública em que o COVID-19 colocou os entes federativos e
a própria nação brasileira, Camilo Santana (PT) e seu staff de assessores,
orientados por Mauro Filho, botaram em prática os aspectos já previstos desde
2016, quando foi aprovada a EC 88/16, como denunciou o SINDUECE.
Ampliando o raio de
ação das maldades a PEC 03/16 [EC 88/16], em seu Artigo 45, nos incisos de I a
VIII reproduz o conteúdo da PEC 55/16 [EC 95/16] com um golpe de morte aos(as)
servidores(as) públicos(as). As vedações, das quais tratam os referidos incisos
reduzem o serviço público estadual a pó. A aplicação do seu conteúdo impede
ascensão e progressão nas carreiras, reajuste ou reposição salarial, realização
de concursos públicos, mudança de regime de trabalho de 20 para 40 horas ou
pedido de dedicação exclusiva. Essas medidas tratadas pelo governo como
fundamentais para o “equilíbrio financeiro” e o “desenvolvimento sustentável”
têm uma finalidade basilar que é o desmonte do serviço público para garantir
investimentos que deem sustentação à lucratividade do capital financeiro e
especulativo.
É flagrante na
iniciativa do governo o sacrifício que recai sobre as costas do servidor
público e a atitude perdulária para beneficiar o capital especulativo, já que
está prevista, na mesma PEC 03/16 [EC 88/16], a isenção de inclusão no
congelamento dos gastos das “despesas com o aumento de capital de empresas
estatais não dependentes” (Art. 43, § 7º). Estas empresas, de acordo com nota
da Auditoria da Dívida Pública, “são pessoas jurídicas de direito privado e
operam escandaloso esquema de transferência de recursos públicos para o setor
financeiro privado, tendo em vista que vendem a investidores privilegiados, com
desconto que pode chegar a 60%, debêntures com garantia real (dada pelos entes
federados), pagando juros estratosféricos que podem ultrapassar 20% ao ano”. O
efeito devastador desse esquema já foi sentido pelo povo grego, sendo este um
dos responsáveis pela quebradeira na economia da Grécia (SINDUECE, 2016) .
Dessa vez o
filisteísmo de Camilo Santana (PT), ao avisar seu mais novo golpe no serviço
público, teve uma alteração na data da véspera, que se transferiu dos festejos
natalinos para a Páscoa, deslocando-se do nascimento para a ressurreição de
Jesus Cristo. No entanto, suas ações draconianas seguiram o curso como um cálculo
racional e uma verdadeira equação matemática, na linha política sugerida por
Maquiavel em “O Príncipe”.
Pergunta-se: por que
o alvo do governador é sempre o serviço público para desferir suas maldades e
não os bancos e banqueiros, que continuam sendo beneficiados com os juros e
amortizações de uma dívida pública, a qual quanto mais se paga, mais se deve?
Só em 2019, o tesouro
estadual destinou a cifra de um bilhão, quatrocentos e cinquenta e um milhões,
oitocentos e cinquenta mil e oitocentos e vinte reais para o pagamento de juros
e amortizações da dívida pública. Algo inconcebível e bizarro se a lógica fosse
a humanização da vida e não a valorização do mais valor como exigência do
capital.
Por que o governante
não responsabiliza as grandes fortunas do Estado e começa a taxá-las para que
empresários(as) parasitas comecem a pagar pela crise em curso? Na divulgação
feita pela revista Forbes (2019), aparece uma lista de 15 exploradores(as) da
força de trabalho cearense, a quem se atribui o adjetivo de “bilionários”.
Cândido Pinheiro,
fundador do Hapvida, é o homem mais rico do Ceará. Com fortuna avaliada em R$
7,6 bilhões, o médico e fundador do grupo ocupa a 26ª posição entre os
bilionários no País. O IPO da operadora de saúde colocou outros dois nomes na
lista da Forbes, Jorge Lima e Cândido Júnior. Filhos do fundador e donos de 20%
da empresa, eles têm, cada um, fortuna avaliada em R$ 3,8 bilhões, ocupando a
67ª posição no ranking nacional.
Acumulando R$ 5,76
bilhões, Consuelo Dias Branco ocupa o segundo lugar no Ceará e o 42º no País. O
sobrenome aparece seis vezes na lista, com as estreias de Ivens Júnior,
Cláudio, Marcos, Maria das Graças e Maria Regina. Cada um deles tem fortuna
avaliada em R$ 1,15 bilhão.
A lista ainda conta
com Mário Araripe e família, com R$ 5,5 bi, ocupando o 47º. Eles são donos do
fundo Salus, que controla a gigante de energia Casa dos Ventos. Amarílio Macêdo
e família, da indústria de alimentos J. Macêdo, têm R$ 3,5 bilhões, ficando na
posição 72 do ranking. Deusmar Queirós e família, da Pague Menos, têm R$ 3,2
bilhões, ficando em 76º. Carlos Jereissati e família, da La Fonte
Participações, controladora do Iguatemi, têm R$ 2,2 bilhões, em 105ª colocação.
Everardo Telles e família, do Grupo Telles, têm R$ 1,25 bi, em 156º lugar, Aristênio
Canamary do grupo Confiança, tem 1,15 bi, em 160º lugar (MAGNO, 2019) .
É necessário romper
com essa lógica desigual e combinada do capital financeiro e especulativo, bem
como de um Estado que a ela serve incondicionalmente. Mostrar que vidas
humanas, propriamente da classe trabalhadora, importam mais que os lucros de
banqueiros e industriais é uma bandeira imprescindível, principalmente no atual
contexto de pandemia.
Dessa forma
precisamos, mesmo em situação de distanciamento e confinamento social, nos
posicionar contra as atitudes maquiavélicas do governador petista,
desmascarando sua subserviência aos interesses do capitalismo senil, genocida e
necrófilo. Nesse momento devemos continuar denunciando a política de tal
governante, que calcula racionalmente as chances imperativas de desferir a
espada do Estado sobre os direitos sociais adquiridos, em especial, de
servidores(as) públicos(as).
Destacamos, ainda, a
importância de que as entidades sindicais que representam as diversas
categorias do funcionalismo estadual encontrem um ponto de congruência para
agir com solidariedade de classe e direcionar suas forças para combater tais
avisos de véspera. Contra aqueles que têm alimentado a obsessão da trupe no
poder ao querer descontar os sintomas da crise econômica, originada, seja pela
falência do capital e/ou pandemia, sempre, nos proventos do(a) servidor(a)
público(a) e não nos lucros dos bancos e na acumulação de capital pelas grandes
fortunas.
Ousar lutar, ousar
vencer!
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