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As operadoras de telecomunicação
repassarão informações sobre a circulação de pessoas para que o governo faça
avaliações e desenvolva estratégias de prevenção e combate à epidemia do
novo coronavírus. A parceria vai durar o período da calamidade
pública da covid-19 e envolve as empresas Vivo, Claro, Oi, Tim e Algar.
De acordo com o sindicato das
empresas do setor (Sinditelebrasil), serão repassados dados agregados e
anonimizados da circulação dos seus clientes. Os dados permitirão visualizar
“manchas de calor” da concentração de pessoas em localidades de todo o país,
auxiliando o governo a localizar onde estão ocorrendo aglomerações.
Quando uma pessoa liga um celular, o
aparelho se conecta a uma antena, chamada no linguajar técnico de Estação
Rádio-Base (ERB). Segundo o presidente executivo do Sinditelebrasil, Marcos
Ferrari, a informação repassada ao governo será de quando e onde ocorreram
essas conexões entre usuário e redes das operadoras.
“O que nós estamos disponibilizando
para o governo é este dado estatístico agregado. Não vamos falar em número de
linha nem em nome da pessoa. Em tal dia estavam conectadas tantas linhas em tal
antena. Isso é um mapa. Olha por cima do país e enxerga como se dá a
concentração de pessoas, deslocamento delas por meio deste mecanismo
estatístico”, disse Ferrari.
Os dados serão consolidados no fim do
dia e repassados a um servidor da empresa estadunidense Microsoft, de onde
poderão ser acessados pelo governo. Assim, o “mapa” mostrará a situação sempre
do dia anterior. As cinco operadoras possuem uma grande base de dados, somando
214 milhões de chips (embora vários clientes tenham mais de um chip).
“A forma como o governo vai usar esse
dado pode ser de diversas maneiras. A gente não vai interferir nisso, pois é
uma decisão do governo. Pode ser uma universidade que pode fazer esse uso dos
dados, ou empresa terceirizada que lide com inteligência artificial. Para isso
governo está botando a governança dele para aplicar de maneira eficiente estes
dados”, comenta o executivo do Sinditelebrasil. Ele acrescenta que os
princípios de proteção previstos na Lei Geral de Proteção de Dados e do Marco
Civil da Internet serão respeitados.
Transparência
Na avaliação do conselheiro do
Laboratório de Políticas Públicas e Internet da Universidade de Brasília
(Lapin) Thiago Moraes, é importante que o governo se certifique que os dados
disponibilizados na “nuvem” da Microsoft não sejam usados para outras
finalidades. Mesmo não estando em vigor a Lei Geral de Proteção de Dados, ele
defende que seus princípios e diretrizes sejam respeitados.
“O Art. 6º atenta para que o
tratamento seja limitado ao mínimo necessário, e se evite o uso excessivo dos
dados. Isto significa, entre outras coisas, que uma vez superada a crise, os
dados coletados devem ser eliminados. É importante também que tão logo uma
política pública seja definida, sua finalidade seja transparecida à população
[o princípio da transparência previsto no art. 6º]”, destaca o pesquisador.
A Lei Geral de Proteção de Dados
instituiu as normas para coleta e tratamento de dados. Aprovada em 2018, ela
entraria em vigor em agosto, mas o Senado adiou o início da vigência para o
início do ano que vem. Contudo, o Marco Civil da Internet (Lei 12.965 de 2014)
também prevê a garantia da privacidade dos dados dos internautas.
Para a coordenadora do Coletivo
Intervozes Marina Pita, a falta de uma legislação cria um vácuo preocupante e
seria importante ter mais informações sobre como os dados da grande maioria da
população serão tratados.
“Princípios como proporcionalidade,
necessidade e finalidade, incluindo o descarte após atingida a finalidade, por
exemplo, estão sendo observados? Deveria haver mais detalhes inclusive em
relação aos procedimentos de anonimização e agregação utilizados porque há
vários exemplos de reidentificação de dados anonimizados. Um sistema como esse
não pode perdurar e deveria haver formas de auditar e fiscalizar o seu uso”,
defende.
A Agência Brasil entrou em contato com os ministérios da Saúde
(MS) e da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e aguarda
retorno.
EM TEMPO: O avanço da tecnologia é inversamente proporcional a nossa privacidade. Infelizmente.
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