ESTADÃO - Roberta Jansen
© Gabriela
Biló/Estadão O presidente
Jair Bolsonaro ao lado do novo ministro da Saúde, Nelson Teich
A escassez de
testes de diagnóstico e insumos para a covid-19 em todo o mundo é o maior desafio para a gestão
do novo ministro da Saúde, Nelson Teich, na opinião de especialistas ouvidos pelo Estado. A testagem em massa da população
foi a estratégia apresentada pelo oncologista para obter mais informações sobre
a epidemia e ter subsídios para traçar um plano alternativo ao isolamento
horizontal atualmente em prática no País.
A ideia de um
programa de testes foi lançada na primeira manifestação de Teich após ser
apresentado pelo presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto, como o substituto do
ex-ministro, Luiz Henrique Mandetta. Na sexta, 17, ao tomar posse, Teich
afirmou que a atuação do Ministério da Saúde será focada nas pessoas e que os
mais pobres sofrerão com maior intensidade os efeitos da pandemia do
coronavírus.
Especialistas
concordam que testagem em massa, como vem sendo realizada na Coreia do Sul, por
exemplo, seria ideal, mas ressaltam as limitações para que essa medida seja
colocada em prática. Entre os desafios, estão obter kits de qualidade e traçar
uma estratégia para realizar os exames. Para eles, o
distanciamento social, medida que vem sendo criticada por Bolsonaro e que
colocou o presidente em rota de colisão com Mandetta, é a única disponível
neste momento para conter um crescimento exponencial do número de casos e o
colapso do sistema de saúde. O próprio Teich disse que, por enquanto, não
haverá nenhuma mudança brusca.
PERSPECTIVAS
‘Exames foram aprovados a toque de
caixa', diz Sergio Cimerman, infectologista e colunista do ‘Estado’
O médico
infectologista e colunista do Estado Sergio
Cimerman destaca que a falta de experiência no Sistema Único de Saúde (SUS) do
novo ministro Nelson Teich, vindo da iniciativa privada, pode ser contornada
com a formação de boa equipe técnica. “Ele tem de tomar atitudes técnicas,
médicas, não políticas. Manter o isolamento horizontal, fazendo uma reavaliação
a cada 15 ou 30 dias, para não haver um colapso no sistema hospitalar”, afirma. A qualidade dos
exames, diz, é um desafio para a testagem em massa. “O problema desses testes,
no mundo todo, é que foram aprovados a toque de caixa, emergencialmente, não
têm validação, nenhum teste tem validação. A sensibilidade é baixa. Um teste
adequado deve ter sensibilidade acima de 90% e esses não chegam a 90%.”
Segundo ele, porém,
a testagem é uma boa solução, já que há subnotificação de casos no País. “Com a
testagem, vamos saber o perfil epidemiológico do Brasil e o número real”, diz.
“Mas é impossível testar 212 milhões de pessoas, é um país continental, tem
município onde nem se consegue chegar. A ideia é começar por profissionais de
saúde.”
‘É preciso saber onde usar diagnóstico’, diz
Fernando Reinach, biólogo e colunista do ‘Estado’
O biólogo e
colunista do Estado Fernando
Reinach aponta que o problema da testagem em massa é ter um planejamento. “O
que ele vai fazer? Vai isolar as pessoas? Só testar não adianta, e ele não
falou nada sobre o plano”, diz. Outra questão
importante na elaboração da política do Ministério da Saúde, de acordo com
Reinach, é levar em conta a escassez de testes para diagnosticar o novo
coronavírus. “Quando temos poucos testes, é preciso saber muito bem onde eles
serão usados, onde obteremos mais resultados. E ele não mostrou os planos”,
diz. “Sobre a manutenção do isolamento, a gente só vai saber mesmo pelas
atitudes, mais do que pelas declarações” afirma. “Agora ele vai ter de mostrar
a que veio.
‘Isolamento social ampliado é o correto’,
diz Roberto Medronho, epidemiologista da UFRJ
Embora o poder
público já se mobilize para ampliar a capacidade de testagem no Brasil, o plano
de fazer exames em massa esbarra na dificuldade de comprar kits e insumos,
sobretudo diante da disputa no mercado internacional. “De toda forma, não
temos condições, no momento, e isso não vai acontecer da noite para o dia, de
testar 100% da população”, diz Roberto Medronho, epidemiologista da
Universidade Federal do Rio (UFRJ). “Já perdemos dias valiosíssimos, num
momento em que perder horas significa perder vidas, com todo o desgaste, todas
as ações para queimar e isolar o ministro da Saúde.” A testagem é a chave,
reforça, para fazer controle da epidemia e saber quando será melhor sair do
isolamento.
Medronho diz estar
preocupado com o “alinhamento” que o novo ministro diz ter com o presidente
Jair Bolsonaro. “Espero que esse alinhamento seja no sentido de o presidente
ter feito autocrítica e se convencido de que o isolamento social ampliado é a
medida correta. Se for o inverso, seria trágico”, alerta. “Estamos na curva
ascendente dos casos e os serviços de saúde nas grandes capitais já entram em
colapso.”
‘Desafio será a articulação entre as pastas',
diz Chrystina Barros, pesquisadora e ex-colega de Teich
Chrystina Barros,
pesquisadora do Centro de Estudos em Gestão e Serviços de Saúde da Universidade
Federal do Rio (UFRJ), conhece o novo ministro de perto – Teich foi seu chefe
entre 2012 e 2018 em uma rede de clínicas oncológicas. Segundo ela, o novo
titular da Saúde é “íntegro, competente e técnico” e um oncologista de
“formação sólida”, também na área de negócios. “Ele tem um trabalho importante
em gestão de saúde. E gestão, independentemente de ser pública ou privada, tem
de ser pautada por questões técnicas”, acrescenta.
“O grande desafio
que ele vai ter será organizar uma estrutura de informação, de articulação
entre os vários ministérios”, diz. “A cada dia recebemos novos dados, validamos
modelos anteriores, projeções, sabemos da ocupação dos hospitais. Se os leitos
estão ocupados, tem de manter as restrições do isolamento.” Para Chrystina, há
uma lacuna sempre que ocorre uma transição, agravada ainda pelas dimensões
continentais do Brasil, que tem cidades com população equivalente à de países
da Europa. “O ideal era que não tivéssemos uma mudança num momento desses, mas
aconteceu”, afirmou.
'Primeiro vai manter isolamento, mas tendência é verticalizar', diz
Gilberto Ururahy, diretor da Med Rio Checkup
O diretor da Med
Rio Checkup, Gilberto Ururahy, acredita que a perspectiva é de mudanças no
isolamento no futuro. “Num primeiro momento vai manter isolamento, mas em curto
prazo a tendência é verticalizar, foi o que entendi", afirma. "Esse vírus,
ainda muito desconhecido, tem nos ensinado algumas coisas: se dissemina muito
rapidamente, tem letalidade baixa, e incide em população de idosos com
comorbidades, as doenças crônicas, com evolução longa no tempo. Essa população
virou alvo, pela fragilidade das pessoas, que têm sistema imunológico
comprometido", afirma ele, especialista em Medicina Preventiva. “Então é
preciso isolar e proteger o idoso muito bem, claro, ou isso não faz sentido.
EM TEMPO:
1 - Não estranhe se o atual
Ministro da Saúde, Nelson Teich, jogar a
toalha. Porquê, na realidade ele aceitou
entrar numa fria num governo onde o Presidente é despreparado e dar
opinião de “médico”, sendo leigo. Um médico da qualidade do Teich, não pode sequer ouvir a opinião "medicinal" de Bolsonaro;
2 - É sempre assim. Na minha área de engenharia os leigos querem saber mais do que os engenheiros, além do mais tecem críticas com muita desenvoltura;
3 - Agora durmam com essa bronca
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