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Em tempos de pandemia e Big Brother
Brasil, a medicina se tornou um grande reality show.
Quem diz isso não sou eu, mas o
diretor-superintendente de pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein, Luiz
Vicente Rizzo.
A declaração acontece após o
presidente Jair Bolsonaro anunciar, em pronunciamento em rede
nacional, a possibilidade da cura do novo coronavírus pela aplicação da
hidroxicloroquina, espécie de elixir da longa vida citado recorrentemente pelo
capitão enquanto o país já se aproxima da milésima vítima da moléstia.
A repórter Cláudia Collucci, da
“Folha de S.Paulo”, foi ouvir o especialista do centro de referência. A
resposta veio em forma de desabafo: “Estamos na época da medicina BBB, feita
por votação. Medicina e pesquisa de rede social. Você não consegue mais não dar
cloroquina para um paciente meio grave. A família pressiona e, se você não der,
no dia seguinte você não é mais médico”.
Segundo Rizzo, o Einstein só indica a
substância para pacientes graves na Unidade de Tratamento Intensivo. Não há
protocolo para uso do medicamento no início da doença, como alguns políticos
pressionam para que aconteça. No hospital, 70% dos 30 pacientes internados com
coronavírus na UTI usam cloroquina isolada ou associada ao antibiótico
azitromicina. Os demais, que possuem enfermidades como problemas cardíacos, por
exemplo, não podem devido às contraindicações.
O cuidado é compreensível, já que o
uso do medicamento não tem ainda a eficácia comprovada -- não no ritmo dos
processos de validação científicos. Como se vê, a velocidade desses processos
são incompatíveis com a precipitação das redes sociais.
Segundo o “The British Medical
Journal”, o uso do medicamento pode ser prematuro e até prejudicial para pacientes
com Covid-19. A publicação diz que o amplo uso de hidroxicloroquina pode
resultar em reações adversas cutâneas graves, insuficiência hepática fulminante
e arritmias ventriculares.
Do outro lado, quem afirma que a
cloroquina não traz riscos é uma estrela das redes sociais, o presidente dos
EUA, Donald Trump -- acionista minoritário de uma empresa produtora do
medicamento e beneficiário de uma grande doação de campanha do acionista
majoritário.
Bolsonaro foi na onda, e dia sim,
outro também, sugere que as pessoas voltem à vida normal porque a cura já vem,
já existe, e só não foi distribuída ainda por razões políticas.
A postura já é tema de chacota na
imprensa internacional.
No programa Extra 3, da TV alemã NDR,
um humorista ironizou “a quantidade de virologistas que temos na Alemanha neste
momento, uma loucura”. Era uma crítica aos leigos que, de duas semanas pra cá,
se sentiram autorizados a dar pitaco na especialidade médica, chamando a
Covid-19 de “gripezinha”.
A certa altura o esquete sugere que os
especialistas das redes sociais se formaram na “Universidade Bolsonaro de
ensino à distância”, com foco nas disciplinas Facebook e Twitter.
Na britânica “Economist”, relata
Nelson de Sá, colunista de mídia da “Folha”, o círculo azul da bandeira
brasileira deu lugar à imagem do coronavírus. Bolsonaro aparece com a cabeça
embrulhada no estandarte.
Em outro tom, a revista fala em
“negligência com a vida dos brasileiros”, “sabotagem ativa da saúde pública” e
“sinais de insanidade”.
Em sua coluna, Nelson de Sá chama a
atenção para a pergunta levantada pela tradicional revista eletrônica “Salon”:
“Jair Bolsonaro é o novo Jim Jones?”.
Na publicação, a retórica do líder
fanático que levou mais de 900 seguidores ao suicídio coletivo na Guiana, em
1978, é comparada ao “culto da morte” do brasileiro.
Enquanto isso, os especialistas em
medicina formados nas universidades Twitter e Facebook espalham, com bots
pandêmicos, histórias de primos mortos em explosão de pneus diagnosticados com
Covid-19 e outros curados, sem atenção da mídia, pelo uso do “emplastro Bolsonaro”.
Na medicina BBB, as fake news — que podem relaxar
medidas de isolamento e custar vidas — não estão contra-indicadas. Quem se
responsabilizará por elas?
EM TEMPO: No nosso cotidiano nos deparamos com os “sabidos”,
os quais sempre querem saber mais do que os profissionais e, pior, do que a
ciência. Na minha área de engenharia é assim mesmo.
Por outro lado, o
presidente Bolsonaro poderia ser punido e perder o cargo por “receitar” um
medicamento sem ter capacitação e autorização para isso.
Que dizer dos políticos que destinam “milhares” de
dinheiro, como se fosse da própria conta bancária, para auxiliar no combate ao
“coronavírus”. E o governo federal que diz que o auxilio de R$600,00 é dele
próprio, esquecendo da parte dos impostos repassados pelos governos municipais
e estaduais para a União. Isso é Brasil. Uma zorra total. Agora durma com essa
bronca.
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