Comissão Política Nacional do PCB
Em todo o mundo, as
ações necessárias para o combate à propagação do coronavírus passam pela
adoção, na maior escala possível, do isolamento social, o que reduz,
significativamente, a atividade econômica dos países. Mais ainda, são
necessárias ações de saúde intensas e massivas, como a testagem de pessoas em
larga escala, a produção e distribuição de máscaras, luvas, álcool em gel e
equipamentos diversos, como os respiradores, além da montagem de hospitais para
o tratamento dos infectados em situação de risco e outras medidas.
As respostas dos
governos variaram extremamente, seja na admissão da existência da pandemia, na
velocidade da adoção das medidas necessárias e na sua amplitude. Nesse quadro
destaca-se a China, que implementou a adoção do isolamento social em larga
escala, da quarentena para possíveis infectados, montou toda a infraestrutura
hospitalar e de atendimento de saúde em grande magnitude e garantiu, por meio
de volumoso financiamento estatal, o pagamento dos salários e remunerações para
todos os seus cidadãos, preservando o funcionamento, além da saúde, apenas os
setores da economia considerados essenciais para a garantia do abastecimento,
da provisão de energia, transportes e outros.
O governo chinês manteve a
população mobilizada e, passados os piores momentos da pandemia, passou a
oferecer apoio aos demais países, com a oferta de profissionais de saúde e
equipamentos diversos.
Tudo isso se deve ao
fato de que, entre outros fatores, a China dispõe de uma economia dirigida,
planificada, capaz de investir recursos estatais de forma rápida e focada, de
sistemas públicos desenvolvidos e abrangentes de saúde e seguridade social, com
elevado padrão de educação geral – também pública – e de um sistema científico
desenvolvido e capaz de ser mobilizado com grande eficácia. Com isso, a China
tende a ganhar mais importância e influência econômica e política no cenário
internacional, de forma direta e através das organizações multilaterais.
Também agiram com
medidas de fôlego países capitalistas desenvolvidos como a Coreia do Sul,
França e Alemanha, que adotaram o isolamento social, garantiram o pagamento dos
salários dos trabalhadores, requisitaram hospitais, hotéis e outros recursos
privados para uso do Estado e que chegaram a anunciar a estatização de
empresas, para impedir que quebrassem. Outros governos, como os do Reino Unido
e o da Suécia, após um período de hesitação, seguiram pelo mesmo caminho.
Essas
ações, mesmo que salvaguardando os interesses fundamentais do capital
financeiro e das grandes empresas, colocam em xeque, neste momento, o discurso
neoliberal e o conjunto de políticas que predominavam nesses países, em
diferentes graus, expondo as contradições profundas do sistema capitalista.
Os problemas
enfrentados pelos trabalhadores nos Estados Unidos são imensos. Além do grande
atraso na tomada de decisão para começar a agir, o país não dispõe de sistemas
públicos de saúde e seguridade social, possui um elevado contingente de desempregados
e uma volumosa população de rua, quase totalmente desassistida. A situação
comprova a perversidade das políticas liberais e do capitalismo.
Além disso, o
governo dos EUA vem mostrando a sua face imperialista mais agressiva, no plano
internacional, atuando como pirata para confiscar equipamentos para o combate à
pandemia que se destinavam a outros países, pagando três ou quatro vezes mais
do que o preço original, em muitos casos. Trump, debilitado pela demora em agir
e pelas suas declarações que menosprezavam a ameaça e pelas dificuldades de
adotar medidas efetivas, ensaia uma agressão militar à Venezuela, já iniciada
pela tentativa de satanização do presidente Maduro, chamado agora, de forma
absurda, de narcotraficante.
As consequências
desse quadro e seu desenrolar apontam para a necessidade de maior intervenção
dos Estados na economia e na vida social, tanto nesse momento, quanto no
período pós-pandemia, quando será necessária uma nova onda de investimentos
públicos de grande monta para reerguer as economias. Essas ações de
investimento poderão viabilizar uma nova onda de crescimento, com outras bases,
do processo de acumulação capitalista, o que muito provavelmente virá associado
a uma nova ofensiva de corte liberal para aprofundar a retirada de direitos dos
trabalhadores em favor das empresas privadas.
A depender na
profundidade da crise e da ausência de eficácia nas medidas de proteção social
adotadas, é possível ainda que numerosos contingentes de trabalhadores
desempregados ou precarizados, sem-teto e outros segmentos marginalizados
venham às ruas em ações de saques a mercados em busca de comida e outras
movimentações que podem até desembocar em revoltas populares e, em
contrapartida, mais repressão da parte dos governos burgueses.
Por outro lado, aumenta
a solidariedade entre os trabalhadores e a pressão da sociedade pela adoção e
manutenção de medidas e garantias de proteção social. O ideário liberal se
enfraquece de forma crescente, e as posições e propostas dos comunistas e das
forças de esquerda, para o período da crise, exigindo a garantia dos salários e
de uma renda mínima para todos, o atendimento a toda a população pelo sistema
de saúde e outras, tendem a ganhar força junto à classe trabalhadora.
No
período pós-pandemia, esse conjunto de forças deverá defender a necessidade de
superação da miséria, da reconstituição dos sistemas públicos de seguridade
social – saúde, previdência e assistência social –, a garantia de condições
dignas de vida e emprego para todos. Para os comunistas, em particular, será o
momento de avançar a luta anticapitalista e anti-imperialista e enfatizar a
necessidade do Socialismo.
BRASIL: GOVERNO SALVA
EMPRESAS E PREJUDICA TRABALHADORES
No Brasil, Bolsonaro
aprofunda a cada dia o seu isolamento político e, nesse momento, vem sendo
tutelado pelos militares. O governo de fato inclui alguns ministros e tem o
Congresso e o STF como aliados nas principais questões. O episódio recente da
tentativa de demissão de Mandetta por Bolsonaro comprova existir uma luta surda
dentro do governo, na qual, por ora, os setores militares vêm obtendo vantagem
e, assim, por meio do General Braga Neto, vão conduzindo, juntamente com o
Ministro da Saúde, as ações centrais de combate à pandemia. Em paralelo, Paulo
Guedes toca a política econômica, anunciando os pacotes emergenciais, os quais,
em essência, mantêm os princípios neoliberais, favorecendo o grande capital e
jogando sobre a classe trabalhadora todo o ônus da crise.
Bolsonaro se desgasta
cada vez mais, perdendo apoio nas camadas médias e junto aos trabalhadores,
embora mantenha sua base de sustentação em grupos de extrema direita e continue
sendo uma alternativa de continuidade das políticas liberais para o período
pós-pandêmico. Nas camadas populares, o não atendimento às necessidades de sobrevivência
e a constatação da gravidade da pandemia fazem crescer a insatisfação com
Bolsonaro, podendo até levar a uma onda de saques e atos de violência, o que
parece interessar à política desenvolvida por ele de aposta no caos social, na
perspectiva de um endurecimento do regime.
Há uma clara disputa
entre a direita, em diferentes segmentos, representada por Dória, Witzel,
Rodrigo Maia, Rede Globo, que não quer a permanência de Bolsonaro, e a extrema
direita, de Olavo de Carvalho, dos filhos do Bolsonaro, milicianos, empresários
que compõem o chamado lumpesinato da burguesia, algumas lideranças evangélicas
e outros grupos. As frações hegemônicas da burguesia, no entanto, agem no
sentido de implementar alternativas de curto prazo, como o afastamento de Bolsonaro
ou mesmo sua renúncia, com a ascensão do vice, general Mourão. A proposta do
impeachment segue seu curso, com projetos já registrados no Congresso, e pode
ser uma alternativa.
As medidas adotadas
para a garantia do pagamento dos salários e do provimento de renda mínima para
os desempregados, além de extremamente morosas em face da urgência de
enfrentamento à fome e à miséria, são paliativas e claramente insuficientes,
pois não atingem a totalidade dos trabalhadores, com destaque para os informais
e os mais precarizados, os moradores de rua e de áreas de baixa renda que, em
numerosos casos, não dispõem sequer de água encanada e luz. As propostas vêm
acompanhadas de cortes de salários (que podem atingir a absurda faixa de 70%!)
e da permissão de demissões, impedindo que os sindicatos representem os
trabalhadores, ao passo que vultosos recursos financeiros são repassados para
os bancos, conforme denunciou a Coordenação da Unidade Classista (1).
O Banco Central, que
deveria custear integralmente o combate à pandemia, pois fechou o ano de 2019
com saldo positivo, liberou descaradamente 1,2 trilhão para os banqueiros,
mesmo tendo se constatado a enorme sobra de recursos no sistema financeiro.
Portanto, os 45 bilhões propostos pelo governo federal e pelo Congresso, em
parcelas de 600 reais mensais por trabalhador desempregado ou subempregado,
poderia ser muitas vezes ampliado e não haveria a menor necessidade de
autorizar suspensão de qualquer contrato de trabalho ou redução de salário.
Além disso, nenhuma medida
foi anunciada no sentido de reverter o quadro atual de desmonte do SUS. Nosso
sistema de saúde está sucateado, o que, aliado a graves problemas como a
ampliação da violência, o altíssimo índice de desemprego e subemprego, o
gigantesco déficit de moradia e a absurda desigualdade social, tornam mais
dramáticas as condições de vida do povo trabalhador em meio à pandemia.
Desprezando este quadro e parecendo zombar das adversidades vividas pela imensa
maioria da população, o ministro Guedes anuncia sua estratégia de, superada a
crise, retomar o caminho liberal de avançar na retirada dos direitos dos
trabalhadores para viabilizar os lucros e os investimentos privados.
Para o Partido
Comunista Brasileiro, a hora é de seguir na mobilização política e no processo
de organização dos trabalhadores com os meios disponíveis, na luta pelo pleno
atendimento às necessidades da população no enfrentamento da pandemia. Apoiamos
a luta dos trabalhadores dos setores considerados não essenciais e que ainda
estão trabalhando normalmente, os quais devem se organizar, em seus locais de
trabalho e junto aos seus sindicatos, para exigir a interrupção de suas
atividades, com a manutenção de seus salários integrais, direitos e garantias.
Toda solidariedade às trabalhadoras e aos trabalhadores da saúde que estão na
linha de frente deste combate, aos quais deve se garantir todo o aporte
necessário e denunciar com firmeza o descaso dos patrões e governos que ainda
não providenciaram os equipamentos de proteção individual e a infraestrutura
indispensável ao seu trabalho.
É hora de aprofundar
a denúncia das políticas liberais e do capitalismo, exigir o cumprimento
imediato das medidas propostas em nosso plano emergencial (2) e apontar para o
programa anticapitalista e anti-imperialista, na perspectiva da superação do
capitalismo e de construção do caminho rumo ao Socialismo!
FORA BOLSONARO E
MOURÃO!
PELA ESTABILIDADE NO
EMPREGO E PAGAMENTO IMEDIATO DA RENDA MÍNIMA!
NÃO ÀS DEMISSÕES E AO
CORTE DOS SALÁRIOS!
REVOGAÇÃO IMEDIATA
DAS MPS 927 E 936/2020, DA EMENDA CONSTITUCIONAL 95 E REJEIÇÃO COMPLETA DA PEC
10/2020!
EM DEFESA DO SUS 100%
ESTATAL, PÚBLICO, GRATUITO E UNIVERSAL!
PELOS DIREITOS DA
CLASSE TRABALHADORA E PELAS LIBERDADES DEMOCRÁTICAS!
PELO PODER POPULAR NO
RUMO DO SOCIALISMO!
1) UM NOVO PACOTE DE
MALDADES DA BURGUESIA. Conferir em:
https://pcb.org.br/portal2/25263/um-novo-pacote-de-maldades-da-burguesia
2) A VIDA ACIMA DOS
LUCROS! Conferir em: https://pcb.org.br/portal2/25161/a-vida-acima-dos-lucros/
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