CAROLINA LINHARES
***FOTO DE ARQUIVO*** SÃO PAULO,
SP, 17.01.2020 - O ex-presidente Lula durante reunião do diretório nacional do PT
(Partido dos Trabalhadores), em São Paulo. (Foto: Zanone Fraissat/Folhapress).
O ex-presidente Lula (PT) criticou,
nesta quarta-feira (1º), o presidente Jair Bolsonaro por, segundo o petista,
não ter dado orientações à população sobre como agir na pandemia do novo coronavírus em seu pronunciamento na
noite de terça (31).
"O presidente utiliza não sei
quanto tempo na TV e não tem uma orientação para as pessoas", disse Lula
em entrevista a veículos e blogs de esquerda. Para o petista, falta "voz
de comando" da Presidência nesta crise.
O ex-presidente disse ainda que a
preocupação que Bolsonaro demonstrou com os pobres é da
boca para fora e cobrou que o presidente faça a verba da União chegar até os
trabalhadores para que eles possam cumprir o isolamento social.
"Tentar defender os mais pobres,
o camelô, o cara do Uber, do pequeno comércio... Além de estar defendendo esses
caras da língua pra fora. As medidas concretas beneficiaram os banqueiros,
porque ele liberou R$ 200 bilhões para os banqueiros", disse Lula.
"E para as pessoas pobres que
estão precisando dos R$ 600, a gente ouviu o Guedes [ministro da Economia]
dizer que só vai ser dia 16 de abril", completou.
O petista também exaltou iniciativas
dos parlamentares e da sociedade civil para tecer medidas contra a pandemia.
"Há uma preocupação da sociedade em dar resposta àquilo que o governo não
consegue fazer. Estamos percebendo que governo não se preparou para uma crise dessa magnitude", afirmou.
Lula cobrou que Bolsonaro coordene uma
saída à crise com os entes federados e afirmou que "quem está fazendo o
trabalho mais sério são os governadores e prefeitos".
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"Ele que cumpra com seu papel de
ser coordenador e libere o dinheiro logo, porque o povo está precisando do
recurso", disse. Segundo o petista, só o Estado forte pode combater o
vírus.
Apesar de afirmar que "Bolsonaro
é o grande problema que estamos vivendo hoje" e que "o governo neste
instante mais atrapalha do que ajuda", Lula evitou fazer defesa explícita
de impeachment, seguindo a linha de cautela adotada pelo PT até agora.
O ex-presidente disse que, para
defender o impeachment, é preciso crime de responsabilidade e contou que pediu
à presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e ao ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão
que fizessem um estudo para verificar se Bolsonaro já cometeu crime de responsabilidade.
"Não quero ser irresponsável
como eles foram com a Dilma, sem ter crime de responsabilidade. Mas se tiver,
temos que pressionar a Câmara", disse.
Ao mesmo tempo, Lula incentivou a
saída de Bolsonaro do governo. "Eu estou convencido de que Bolsonaro, ou
ele muda, ou ele não tem condição de continuar", pontuou.
"Estou convencido que Bolsonaro
não tem estrutura psicológica de continuar governando o Brasil. Ele está
preocupado em manter os fanáticos e não em dar resposta concreta", afirmou
também ao longo da entrevista.
Lula deu a entender que o manifesto
que pede a renúncia de Bolsonaro, assinado por Fernando Haddad (PT), Flávio
Dino (PC do B), Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulos (PSOL), é um começo para
que o "fora, Bolsonaro" passe a ser palavra de ordem no PT.
"Da renúncia para o impeachment,
é um pouco. Da renúncia para o 'fora, Bolosnaro', é um pouco. Na hora que tiver
manifestação de rua, o 'fora, Bolsonaro' ganha força", disse.
O ex-presidente afirmou que há uma
discussão sobre construir o próximo passo após a saída de Bolsonaro, se levaria
a um governo do vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) ou se a novas eleições.
Lula ressalvou, contudo, que para
traçar esses cenários é preciso força política e que a prioridade agora é
combater o vírus, e não travar disputa política ou buscar alterar a correlação
de forças do Congresso para viabilizar a saída de Bolsonaro.
"Para tudo isso tem que
construir força política. E nesse instante a gente não tem que se preocupar com
isso", afirmou.
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