Foto: REUTERS/Adriano Machado |
Por Gerson Camarotti
Comentarista político da GloboNews, do Bom Dia Brasil, na TV Globo, e da
CBN. É colunista do G1 desde 2012
29/03/2020, às 18h35
O passeio
do presidente Jair Bolsonaro pelo comércio de Brasília neste
domingo (29) provocou contrariedade no ministro da Saúde, Luiz
Henrique Mandetta, segundo relatos de aliados.
Nesta segunda-feira (30), Mandetta dará uma nova entrevista coletiva
para reafirmar o que
disse neste fim de semana: que as pessoas devem permanecer em casa,
em isolamento
social, para evitar a disseminação do novo coronavírus.
Ele deve enfatizar as suas recomendações técnicas, mesmo que isso signifique a
sua demissão.
Pela manhã, Bolsonaro
saiu do Palácio da Alvorada, e foi ao bairro Sudoeste, onde visitou
uma farmácia e uma padaria. Depois, foi ao Hospital das Forças Armadas e ao
centro de Ceilândia, uma das regiões administrativas do Distrito Federal. Nas ruas, a presença do presidente provocou pequenas aglomerações, indo
na contramão da orientação do Ministério da Saúde e da Organização
Mundial de Saúde (OMS).
Segundo interlocutores do ministro, houve forte contrariedade com o
gesto do presidente. Nas palavras de um aliado, o fato de Bolsonaro ter feito o
passeio por Brasília um
dia depois da recomendação do ministro foi visto como um
movimento para desautorizar a fala dele. “Mandetta não vai mudar de posição. Vai manter a posição da ciência,
mesmo que isso signifique a sua demissão”, disse ao Blog um aliado.
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O Blog apurou que o ministro da Saúde já esperava uma
reação de Bolsonaro neste sentido para forçar um pedido de demissão. Mas isso
não deve acontecer. Mandetta avisou para interlocutores que fará uma coletiva nesta
segunda-feira, mantendo uma postura inflexível em relação às recomendações do
Ministério da Saúde, dando mais ênfase para deixar tudo bem explicado.
Em uma reunião
no sábado, no Palácio da Alvorada, Bolsonaro chegou a falar para
Mandetta que teria que demiti-lo, diante da divergência de posição na condução
da pandemia de coronavírus. Foi uma reunião tensa. Mandetta havia advertido o presidente que iria ter que desmenti-lo se
insistisse com o discurso de minimizar a situação de retomar rapidamente as
atividades do país. Foi, então, que o ministro foi direto: “O senhor terá que
me demitir, pois não vou pedir demissão”.
Na reunião, que contou com a presença
de vários ministros, Mandetta chegou a dizer que teria que
restabelecer a autoridade dos governadores que estão adotando as medidas da
quarentena. E disse para o presidente que o governador
de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), estava tomando as atitudes certas.
Alertou ainda que o governo não estaria preparado para ver os caminhões do Exército
transportando corpos pelas ruas como estava acontecendo na Itália.
Neste momento, Bolsonaro ficou incomodado e se ausentou por alguns
minutos da reunião. Para diminuir a tensão, alguns ministros chegaram a sugerir
que Mandetta apresentasse ao presidente um plano para retomar progressivamente
as atividades pelo país. Diante de tudo isso, a percepção de aliados do ministro é a de que, se
não houver uma mudança do presidente Jair Bolsonaro, Mandetta poderá ser
rapidamente demitido.
EM TEMPO: MEU POVO "ARREPENDEI-VOS" DE TEREM VOTADO NO BOLSONARO. O POSICIONAMENTO POLÍTICO E INDISCIPLINAR DO BOLSONARO É MUITO GRAVE E NÃO CONDIZ COM O SEU CARGO DE PRESIDENTE DA REPÚBLICA, COLOCANDO EM RISCO A VIDA DE MILHÕES DE BRASILEIROS(AS). É UM CASTIGO PARA TODOS NÓS TER UM PRESIDENTE IRRESPONSÁVEL. AGORA DURMA COM ESSA BRONCA.
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