Extraído do Blog do Magno. Com
edição de Ítala Alves
O Globo - Por Miguel
Caballero, Camila Zarur, Bernardo Mello, Juliana Dal Piva, Juliana Castro e
Thiago Prado
Flávio Bolsonaro, à
direita, posa com Fabrício Queiroz na inauguração de sua loja Foto: Reprodução
Promotores afirmam
que senador nomeava assessores orientados a devolver parte de seus salários
para o grupo.
No pedido à Justiça para fazer as 24 ações de busca
e apreensão em endereços ligados ao senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) e
a ex-assessores seus na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), feitas na manhã
desta quarta-feira, o Ministério Público do Rio (MP-RJ) elaborou o mais
completo resumo das investigações sobre a prática de “rachadinha” no gabinete
do então deputado estadual entre os anos de 2007 e 2018. Os promotores afirmam
que Flávio nomeava assessores orientados a devolver parte de seus salários para
o grupo; que o ex-policial militar Fabrício Queiroz fazia toda a operação de
recolhimento da remuneração dos funcionários; e que a loja de chocolates de
Flávio num shopping da Barra da Tijuca e negócios imobiliários do senador
serviam para lavar o dinheiro ilegalmente.
Entre as provas apresentadas para sustentar os
pedidos de busca da operação de ontem, os promotores do MP identificaram 483
depósitos de pelo menos 13 ex-assessores na conta bancária de Queiroz, por
transferência, cheque ou dinheiro em espécie, num total de R$ 2 milhões; outro
grupo de ex-assessores que sacavam quase que integralmente o salário recebido;
e conversas em aplicativos de mensagem obtidas no celular de uma ex-assessora.
Também aparecem como indícios que completam o esquema, segundo o MP, depósitos
em dinheiro na conta da loja de chocolates de Flávio Bolsonaro e a “grande
desproporção” de lucro obtidos entre o senador e seu sócio na loja, embora o
contrato previsse 50% de cotas para cada um. O advogado de Flávio Bolsonaro
nega as acusações.
Ao deferir os pedidos do MP, o juiz Flávio
Itabaiana da Costa, da 27ª Vara Criminal da Comarca do Rio, afirma que “há
indícios de que houve a formação de uma organização com alto grau de
permanência e estabilidade, composta por dezenas de assessores da Alerj,
nomeados por Flávio Bolsonaro, para a prática de crimes de peculato e lavagem
de dinheiro”. Além da busca de documentos e aparelhos eletrônicos, o juiz
autorizou também a quebra de sigilo bancário e fiscal de vários dos
envolvidos.
A investigação do MP-RJ teve início em julho do ano
passado, depois que o Coaf enviou relatório sobre a movimentação atípica nas
contas de Queiroz, e esteve interrompida entre julho e novembro deste ano,
quando o Supremo Tribunal Federal (STF) paralisou os casos iniciados a partir
de dados do Coaf. Ao apresentar os argumentos à Justiça, os promotores
dividiram a apuração em duas etapas: os assessores e as provas de que eles
devolviam parte de seus salários, via Fabrício Queiroz; e como Flávio Bolsonaro
supostamente lavava o dinheiro retornado.
Os assessores
São 23 os ex-assessores citados no pedido de buscas
assinado pelo Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaeco) do
MP-RJ. Eles são divididos em dois grupos. O primeiro, composto por 13
ex-funcionários, é o núcleo ligado a Queiroz, formado por familiares (como sua
filha e sua mulher), além de vizinhos e amigos indicados por ele para o
gabinete, segundo os promotores. Esses 13 ex-asessores depositaram ao longo dos
11 anos R$ 2,06 milhões na conta bancária de Queiroz (69% do valor em dinheiro
vivo). Duas ex-funcionárias deste grupo, Flavia Thompson Silva e Graziella
Robles Faria, chegaram a sacar 99,21% e 99,90% do salário recebido enquanto
estiveram na Alerj, outro indicativo para o MP de que devolviam parte dos
vencimentos.
O segundo grupo são dez ex-assessores residentes em
Resende, a cidade onde os Bolsonaro viveram, no Sul fluminense. Nove deles têm
parentesco com Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher e mãe do filho mais novo
do presidente Jair Bolsonaro. Dos dez ex-funcionários do núcleo de Resende,
seis sacaram em espécie mais de 90% dos salários recebidos, e outros três acima
de 70%. O MP também dá indícios de que alguns desses funcionários não davam
expediente no gabinete de Flávio. Para isso, cita reportagem do GLOBO, de junho
deste ano, que mostra que um desses funcinários, Francisco Siqueira Diniz,
cursava faculdade em tempo integral em Barra Mansa, e jamais teve crachá da
Alerj.
Disparidade de lucro
A segunda parte do pedido de medidas cautelares ao
juiz se dedica a mostrar como seria feita a lavagem do dinheiro devolvido pelos
funcionários. Os promotores do Gaeco afirmam que Flávio Bolsonaro usou dois
artifícios: a contabilidade da sua empresa Bolsotini Chocolates e Café LTDA e
negócios imobiliários.
Flávio declarou em sua prestação de contas à
Justiça Eleitoral, em 2018, ser dono de 50% da loja de chocolates, uma franquia
da Kopenhagen no Shopping Via Parque, na Barra. A outra metade pertence a
Alexandre Santini. O MP mostrou que, entre 2015 a 2018, Flávio Bolsonaro aferiu
cerca de R$ 978 mil como lucros da empresa, quase o dobro dos R$ 506 mil
retirados por Santini. O documento afirma ainda que os créditos em contas
bancárias da Bolsotini entre 2015 e 2018, no valor de R$ 6,5 milhões, diferem
em cerca de 25% do faturamento da empresa auditado pela administração do
Shopping Via Parque (R$ 4,8 milhões). O MP também aponta que cerca de 45% dos
recursos que ingressaram em contas da Bolsotini no seu primeiro ano de
atividade vieram através de dinheiro em espécie.
Outro artifício usado para esconder a origem do
dinheiro seria a negocação de dois apartamentos em Copacabana. De acordo com o
MP, o intermediário americano Glenn Howard Dillard revendeu os dois imóveis
para Flávio e sua mulher “com inexplicável deságio de cerca de 30%” em relação
ao seu valor de mercado à época (nomvebro de 2012). Segundo dados obtidos a
partir da quebra de sigilo bancário e fiscal de Flávio Bolsonaro e de Dillard,
o americano recebeu R$ 310 mil em cheques de Flávio e de Fernanda Bolsonaro, em
novembro de 2012, pela venda dos dois imóveis. No mesmo dia, a conta bancária
de Dillard recebeu R$ 638,4 mil em depósitos de dinheiro em espécie. O MP
suspeita que este valor seria um complemento “por fora” para chegar ao valor
real.
EM TEMPO: Cadê o Ministro da
(In)Justiça Sérgio Moro? Não tem solução, uma vez que a Corrupção é inerente ao Sistema Econômico Capitalista.
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