Yahoo
Finanças, 10 de novembro de 2019
O recado que saiu do palanque de São
Bernardo do Campo (SP) é claro. Lula retoma a cena não apenas para contrapor o
PT como alternativa política ao governo de Jair Bolsonaro (PSL), mas
principalmente como opositor da agenda econômica -hoje uma espécie de pilar
para a pouca estabilidade da gestão bolsonarista.
Lula pôs fim ao que muitos
chamam hoje de pensamento único na economia brasileira. Em menos de uma hora,
fez mais críticas à política do ministro da Economia, Paulo Guedes, do que
todos os economistas brasileiros juntos fizeram publicamente nos 11 meses de
sua gestão -e ainda partiu para cima da figura pessoal do ministro.
Chamou Guedes de "demolidor de
sonhos", "destruidor de empregos e de empresas públicas
brasileiras" e pinçou do cenário internacional os protestos monumentais no
Chile para reforçar que Guedes quer construir no Brasil o modelo que levou
pobreza aos aposentados do país sul-americano.
Criticou a proposta de se trocar a
carteira de trabalho azul pela verde e amarela, que reduz direitos, e
questionou como um presidente que deu um jeito de não trabalhar e se aposentou
jovem como militar pôde fazer uma reforma da Previdência que mexeu com os
direitos de todos.
Mas, além dessa retórica, a questão é
que Lula explorou brechas reais do governo e da economia.
Questionou que, apesar de o juro
cair, essa queda não chega à população, o que é um fato. Como ele disse, não chega
ao cheque especial, ao consumidor, ao crediário das Casas Bahia, símbolo de
compra da baixa renda.
Na semana em que o IBGE apontou
avanço na pobreza extrema, Lula retomou também o discurso social que sustentou
suas falas desde os anos 1980 e fez isso contrapondo realidades.
Disse que quase metade da população
está ganhando R$ 413 por mês e precisa de serviços e programas sociais,
incluindo mais transporte, remédios, emprego.
E acusou o governo de tentar criar
uma nova classe dirigente financiada pelos donos do dinheiro. Citou as
referências populares de empresas fortes: Ambev, do empresário Jorge Paulo
Lemann, os bancos Bradesco e Itaú e a XP, maior corretora do país.
Extraiu recados econômicos até de
outras bandeiras do governo. Atacando o discurso recorrente de Bolsonaro de que
é preciso combater o aumento da violência armando os cidadãos, Lula resgatou a
proposta de que segurança social se constrói com emprego, educação e cultura
para os mais jovens -a parcela da população que neste momento mais sofre com a
lenta recuperação do emprego.
E Lula ainda disse que está disposto
a voltar a andar pelo país, "porque não é possível que a gente veja cada
vez mais os ricos ficando mais ricos e os pobres mais pobres".
Lá em São Bernardo do Campo, lembrou
algo que anda meio esquecido: que não se governa e se faz política pública
apenas com falas para eleitores pelo Twitter, funcionários públicos e
parlamentares na Esplanada dos Ministérios ou para a Faria Lima. O Brasil é
maior.
Da FOLHAPRESS
Nenhum comentário:
Postar um comentário