ABRIL ABRIL
Segundo o Instituto
de Pesquisa Ambiental da Amazônia, o fogo é usado para limpar áreas previamente
desflorestadas. Ali, impõe-se o modelo predatório do agronegócio e aumentam os
«conflitos no campo».
O Brasil registrou
131 327 queimadas florestais até ao mês de agosto em 2019, sendo que, segundo o
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), só na Amazônia foram
registrados 43 573 focos, destaca uma reportagem publicada no dia 30/09 pelo
Jornal Brasil de Fato.
Uma nota técnica
realizada pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) deixa em
evidência a relação entre as queimadas e o desmatamento da Amazônia. Ao
comparar os municípios com maior índice de desmatamento com os de maior índice
de queimadas, Altamira (Pará), Porto Velho (Rondônia), São Félix do Xingu
(Pará), Lábrea (Amazônia), Colniza (Mato Grosso) e Novo Progresso (Pará) estão
nas duas listas.
Esta relação entre
queimadas e desmatamento não é de agora, sublinha a reportagem, explicando que
as queimadas «são uma prática primitiva de limpar terras desmatadas» para as
tornar próprias para a prática da agropecuária. «Queimadas e desmatamento [são]
práticas bem conhecidas na dinâmica da agricultura extensiva do agronegócio»,
lê-se no portal brasileiro.
Desflorestar, queimar
e soltar o gado
Não é uma coincidência que sete dos dez municípios mais queimados do Brasil
este ano estejam também na lista dos mais desmatados. «O desmatamento avança
com o fogo avançando em seguida», explica Paulo Moutinho, cofundador do IPAM.
A maioria dos
municípios presentes na lista elaborada pelo instituto está localizada no
chamado Arco do Desmatamento – que resulta de um processo histórico de ocupação
da Amazônia, entre o final da década de 1950 e início da de 1960.
«Essa ocupação deu-se
principalmente pela chegada de grandes obras de infraestrutura na região
amazônica. Em paralelo, com políticas de incentivo da ditadura militar,
introduziu-se um modo de ocupação estimulando a migração do Sudeste,
Centro-oeste e Nordeste. O resultado foi a criação de uma fronteira agrícola e
pecuária que, desde então, avança anualmente sobre a floresta», explica a
reportagem, acrescentando que «cerca de 30% do desmatamento acontece em terras
públicas, numa prática consolidada de especulação ilegal».
Pará, Rondônia e
Amazonas
O Pará é um dos estados com municípios na lista dos mais queimados – Altamira,
Novo Progresso e São Félix do Xingu –, sendo que ali se verifica uma forte
presença do monocultivo da soja e da pastagem dedicada à pecuária, segundo
dados do Censo Agropecuário, realizado em 2017 pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
O Brasil de Fato
sublinha que, comparando as áreas de pastagem atuais com as constatadas pelo
censo de 2006, houve um aumento significativo em todos estes municípios – 46%
em Altamira, 49% em Novo Progresso e 64% em São Félix do Xingu.
Em declarações ao
portal, Raione Lima, coordenadora da Comissão Pastoral da Terra (CPT), frisou
ainda que no trecho da rodovia BR-163 – conhecida como corredor da soja – que
liga o porto de Santarém, no Pará, a Sinop, no Mato Grosso, o principal aumento
do desmatamento e das queimadas em 2019 foi «provocado e organizado» e deu-se
em áreas de assentamentos da Reforma Agrária.
Porto Velho, capital
do estado de Rondônia, é a terceira cidade da região amazônica com maior índice
de queimadas e desmatamento. Só este ano, foram ali resgistrados 3110 focos de
incêndio e 280 hectares de desmatamento, segundo o Inpe.
A pressão do
agronegócio na região é notória, estando contabilizados 351 534 hectares de
pastos – 43% de acréscimo em relação a 2006 –, 41 575 hectares dedicados ao
plantio de cana-de-açúcar e 3604 à cana-de-açúcar forrageira, utilizada para
alimentação de gado.
No Sul do estado do
Amazonas, os municípios de Lábrea e Apuí contam-se também entre os mais
desmatados e queimados, tendo sido ali registrados 2224 e 2064 focos de
incêndio, respectivamente.
Sobre as áreas
desmatadas, verificam-se 170 hectares em Lábrea e 110 hectares em Apuí, até
Julho deste ano. Tiago Maiká, agente da CPT Amazonas, explicou ao Brasil de
Fato que existe uma cadeia de atividades que protagonizam o desmatamento na
região: primeiro, entram as madeireiras; depois as fazendas de gado e a soja,
ocupando essas pastagens.
«Conflitos no campo»
«O desmatamento e os incêndios não são as únicas consequências do modelo
predatório do agronegócio», frisa a reportagem, acrescentando que, «com a
agropecuária extensiva, os conflitos por terra tornam-se comuns e a morte de
líderes camponeses uma realidade cada vez mais evidente».
De acordo com a CPT,
só este ano houve 18 assassinatos em «conflitos no campo registrados no país»,
sete dos quais no Pará e cinco no Amazonas. Para Maiká, a intensificação dos
discursos de ódio tem relação direta com o aumento nos índices de assassinatos,
assim como dos crimes ambientais.
A narrativa
construída pelo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, também se caracteriza
pelo ataque constante às organizações não governamentais (ONG) que atuam na
preservação ambiental e aos institutos de pesquisa.
«Desde o início da
repercussão do aumento no índice de queimadas, Jair Bolsonaro já acusou as ONG
de estarem a atear o fogo na floresta a fim de culpabilizar o governo, mas sem
provas. Além disso, contesta regularmente os dados divulgados pelo Inpe»,
sublinha o Brasil de Fato.
Outro incentivo à
violência por parte de Bolsonaro constitui a defesa de que os fazendeiros devam
armar-se legalmente. No passado dia 17, o presidente brasileiro aprovou a lei
3.715/19, que visa ampliar a posse de armas de fogo em propriedades rurais.
Antes, era permitida a posse apenas na sede da propriedade – agora, toda a
extensão do terreno é compreendida como propriedade.
ABRIL ABRIL
Segundo o Instituto
de Pesquisa Ambiental da Amazônia, o fogo é usado para limpar áreas previamente
desflorestadas. Ali, impõe-se o modelo predatório do agronegócio e aumentam os
«conflitos no campo».
O Brasil registrou
131 327 queimadas florestais até ao mês de agosto em 2019, sendo que, segundo o
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), só na Amazônia foram
registrados 43 573 focos, destaca uma reportagem publicada no dia 30/09 pelo
Jornal Brasil de Fato.
Uma nota técnica
realizada pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) deixa em
evidência a relação entre as queimadas e o desmatamento da Amazônia. Ao
comparar os municípios com maior índice de desmatamento com os de maior índice
de queimadas, Altamira (Pará), Porto Velho (Rondônia), São Félix do Xingu
(Pará), Lábrea (Amazônia), Colniza (Mato Grosso) e Novo Progresso (Pará) estão
nas duas listas.
Esta relação entre
queimadas e desmatamento não é de agora, sublinha a reportagem, explicando que
as queimadas «são uma prática primitiva de limpar terras desmatadas» para as
tornar próprias para a prática da agropecuária. «Queimadas e desmatamento [são]
práticas bem conhecidas na dinâmica da agricultura extensiva do agronegócio»,
lê-se no portal brasileiro.
Desflorestar, queimar
e soltar o gado
Não é uma coincidência que sete dos dez municípios mais queimados do Brasil
este ano estejam também na lista dos mais desmatados. «O desmatamento avança
com o fogo avançando em seguida», explica Paulo Moutinho, cofundador do IPAM.
A maioria dos
municípios presentes na lista elaborada pelo instituto está localizada no
chamado Arco do Desmatamento – que resulta de um processo histórico de ocupação
da Amazônia, entre o final da década de 1950 e início da de 1960.
«Essa ocupação deu-se
principalmente pela chegada de grandes obras de infraestrutura na região
amazônica. Em paralelo, com políticas de incentivo da ditadura militar,
introduziu-se um modo de ocupação estimulando a migração do Sudeste, Centro-oeste
e Nordeste. O resultado foi a criação de uma fronteira agrícola e pecuária que,
desde então, avança anualmente sobre a floresta», explica a reportagem,
acrescentando que «cerca de 30% do desmatamento acontece em terras públicas,
numa prática consolidada de especulação ilegal».
Pará, Rondônia e
Amazonas
O Pará é um dos estados com municípios na lista dos mais queimados – Altamira,
Novo Progresso e São Félix do Xingu –, sendo que ali se verifica uma forte
presença do monocultivo da soja e da pastagem dedicada à pecuária, segundo
dados do Censo Agropecuário, realizado em 2017 pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
O Brasil de Fato
sublinha que, comparando as áreas de pastagem atuais com as constatadas pelo
censo de 2006, houve um aumento significativo em todos estes municípios – 46%
em Altamira, 49% em Novo Progresso e 64% em São Félix do Xingu.
Em declarações ao
portal, Raione Lima, coordenadora da Comissão Pastoral da Terra (CPT), frisou
ainda que no trecho da rodovia BR-163 – conhecida como corredor da soja – que
liga o porto de Santarém, no Pará, a Sinop, no Mato Grosso, o principal aumento
do desmatamento e das queimadas em 2019 foi «provocado e organizado» e deu-se
em áreas de assentamentos da Reforma Agrária.
Porto Velho, capital do
estado de Rondônia, é a terceira cidade da região amazônica com maior índice de
queimadas e desmatamento. Só este ano, foram ali resgistrados 3110 focos de
incêndio e 280 hectares de desmatamento, segundo o Inpe.
A pressão do
agronegócio na região é notória, estando contabilizados 351 534 hectares de
pastos – 43% de acréscimo em relação a 2006 –, 41 575 hectares dedicados ao
plantio de cana-de-açúcar e 3604 à cana-de-açúcar forrageira, utilizada para
alimentação de gado.
No Sul do estado do
Amazonas, os municípios de Lábrea e Apuí contam-se também entre os mais
desmatados e queimados, tendo sido ali registrados 2224 e 2064 focos de
incêndio, respectivamente.
Sobre as áreas
desmatadas, verificam-se 170 hectares em Lábrea e 110 hectares em Apuí, até
Julho deste ano. Tiago Maiká, agente da CPT Amazonas, explicou ao Brasil de
Fato que existe uma cadeia de atividades que protagonizam o desmatamento na
região: primeiro, entram as madeireiras; depois as fazendas de gado e a soja,
ocupando essas pastagens.
«Conflitos no campo»
«O desmatamento e os incêndios não são as únicas consequências do modelo
predatório do agronegócio», frisa a reportagem, acrescentando que, «com a
agropecuária extensiva, os conflitos por terra tornam-se comuns e a morte de
líderes camponeses uma realidade cada vez mais evidente».
De acordo com a CPT,
só este ano houve 18 assassinatos em «conflitos no campo registrados no país»,
sete dos quais no Pará e cinco no Amazonas. Para Maiká, a intensificação dos
discursos de ódio tem relação direta com o aumento nos índices de assassinatos,
assim como dos crimes ambientais.
A narrativa
construída pelo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, também se caracteriza
pelo ataque constante às organizações não governamentais (ONG) que atuam na
preservação ambiental e aos institutos de pesquisa.
«Desde o início da
repercussão do aumento no índice de queimadas, Jair Bolsonaro já acusou as ONG
de estarem a atear o fogo na floresta a fim de culpabilizar o governo, mas sem
provas. Além disso, contesta regularmente os dados divulgados pelo Inpe»,
sublinha o Brasil de Fato.
Outro incentivo à
violência por parte de Bolsonaro constitui a defesa de que os fazendeiros devam
armar-se legalmente. No passado dia 17, o presidente brasileiro aprovou a lei
3.715/19, que visa ampliar a posse de armas de fogo em propriedades rurais.
Antes, era permitida a posse apenas na sede da propriedade – agora, toda a
extensão do terreno é compreendida como propriedade.
https://www.abrilabril.pt/internacional/agronegocio-domina-regioes-desmatadas-e-queimadas-na-amazonia
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