ESTADÃO - Felipe Frazão
BRASÍLIA – A Igreja Católica afirmou nesta
quarta-feira, dia 11.09.2019, por meio de um representante enviado à Câmara dos
Deputados, que o papa Francisco não vai omitir a
destruição do meio ambiente nas orientações pastorais que fará após o Sínodo da Amazônia, a ser realizado em
outubro, na Cidade do Vaticano.
Preocupado, o
governo Jair Bolsonaro manifestou à Santa
Sé insatisfação por ver na pauta da assembleia de bispos brechas para
enfraquecer a soberania nacional e desgastar, no exterior, propostas já feitas
pelo presidente. Em resposta, a Igreja disse que há interpretações
“descontextualizadas, superficiais e incorretas” sobre os objetivos do sínodo.
“As orientações
pastorais que possivelmente serão lançadas pós-encontro de outubro não podem
jamais negligenciar o que hoje está pedindo o povo presente nessa porção do
território mundial. E não pode ser omissa em relação a situações de destruição
do ambiente, fonte de vida para essa e futuras gerações”, disse Leon Souza,
coordenador de articulação da Rede Elesial Pan-amazônica (Repam-Brasil),
entidade católica que faz parte da organização do sínodo.
“O fazemos não por
opção de lado A ou B de governos, mas porque o evangelho e nossa fé nos
convocam a este compromisso, que, recordo, não começa em 2018 e 2019”, afirma.
Um sínodo é uma
espécie de encontro mundial de bispos, convocado de tempos em tempos pelo papa
para discutir temas predeterminados por ele. O da Amazônia será a décima
assembleia especial. Em 2017, dois anos depois de lançar a Encíclica do Meio
Ambiente, a Laudato Si, na qual critica o modelo de desenvolvimento e o
consumismo, o pontífice convocou o Sínodo da Amazônia, a pedido também dos
bispos brasileiros.
“Essa assembleia
sobre a Amazônia foi convocada pelo papa Francisco em 15 de outubro de 2017,
portanto, um tanto distante temporalmente da atual conjuntura que a gente tem
vivido, sobretudo política e ambiental, e que tem gerado discursos e
interpretações descontextualizadas, superficiais e incorretas sobre a
finalidade do sínodo”, afirmou Souza aos deputados.
O sínodo dura três
semanas, entre os dias 6 e 27 de outubro, durante as quais assembleias de
bispos e especialistas convidados pelo papa discutirão problemas e propostas
feitas pela Igreja no Instrumento Laboris, o documento de trabalho que orienta
o encontro. Em Roma, só os bispos terão direito a voto. No dia 27, o papa
encerrará o sínodo com uma missa. Em seguida, emitirá uma “exortação
apostólica”, documento com diretrizes ao conjunto da Igreja.
O documento de
trabalho foi elaborado pela secretaria do sínodo, depois que religiosos fizeram
um processo de escuta com mais de 87 mil pessoas nos noves países
sul-americanos pelos quais a floresta se alastra.
Segundo Leon Souza,
os documentos do sínodo, que causaram apreensão no governo Bolsoanro, não são fruto de uma “criação abstrata” dos
especialistas que assessoram o sínodo e religiosos da Repam, mas “uma síntese
difícil de fazer sobre o que hoje ecoa com mais força na Amazônia brasileira e
em mais oito países”. “Podemos e devemos aprimorar tudo que está no documento,
por isso e para isso a assembleia vai se reunir na Cidade do Vaticano”,
explicou ele.
Conforme o
coordenador da Repam, a Igreja Católica defende “outros modelos de
desenvolvimento que considerem, irredutivelmente, a dignidade dos povos em e de
seus territórios”.
Depois dos atritos
com o governo e militares, a Igreja Católica decidiu buscar o apoio de
parlamentares em defesa do sínodo.
Nesta quarta-feira,
a Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços da
Câmara dos Deputados promoveu uma audiência pública com o tema “Sínodo da
Amazônia e a relevância da Zona Franca de Manaus para a preservação ambiental e
sobrevivência dos povos da floresta”. Além da defesa do sínodo, a audiência
serviu como uma forma de a bancada do Amazonas discutir mais investimentos e a
manutenção da zona franca.
Convidado, o
relator-geral do sínodo, cardeal d. Cláudio Hummes, não compareceu por motivos de saúde.
Na semana passada,
a organização do sínodo fez um ato em defesa da floresta na Câmara. O bispo do
Marajó (PA), d. Evaristo Spengler, discursou na tribuna e entregou aos deputado
a Carta de Belém, texto no qual os clérigos se dizem “criminalizados” e
tratados pelo governo como “inimigos da Pátria”.
EM TEMPO: Parabéns para o Papa Francisco. Afinal de contas os cristãos de todas as religiões não podem vacilar diante de um pecador que é o presidente Bolsonaro e sua turma de auxiliares e Ministros. Sérgio Moro, por exemplo.
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