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© Reprodução A vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) foi
morta a tiros em março de 2018
Em depoimento
prestado à PF (Polícia Federal) e a procuradores da República, o miliciano
Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como Orlando Curicica, afirmou ter
participado de 1 encontro no Rio de Janeiro em que 1 dos chefes do “Escritório
do Crime” e 1 policial militar que trabalhou como assessor de Domingos Inácio
Brazão, conselheiro afastado do TCE-RJ, discutiram, no entendimento dele, o
assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol).
As informações
foram divulgadas pelo portal Uol,
que teve acesso ao depoimento.
Marielle Franco e
seu motorista Anderson Gomes foram assassinados em 14
de março de 2018, na região central do Rio de Janeiro.
Orlando Curicica
atualmente está preso no presídio federal de Mossoró (RN). Ele foi condenado
por chefiar uma milícia.
Segundo o Uol,
para a PF e a PGR (Procuradoria Geral da República), o conselheiro afastado do
TCE-RJ é o principal suspeito de ordenar o atentado contra a vereadora.
Na última 3ª feira
(17.set.2019), em seu último dia no comando da PGR, Raquel Dodge apresentou denúncia contra Brazão e
outras 5 pessoas por tentativa de atrapalhar a investigação.
No depoimento,
Curicica afirmou que o encontro foi realizado em 2017, no Mirante do Roncador,
ponto turístico da zona oeste do Rio.
Ele disse que, além
dele, estavam presentes o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira, preso em
janeiro por ser 1 dos chefes de uma milícia cujo braço armado é conhecido como
Escritório do Crime; o subtenente da PM Antonio João Vieira Lázaro, que
trabalhou como assessor de Brazão, quando este foi deputado estadual; e Hélio
Paulo Ferreira, conhecido como o “Senhor das Armas”.
Curicica disse que,
na reunião, o major Ronald afirmou que eles “teriam que resolver 1 problema
para o amigo do Tribunal de Contas”. Brazão é conselheiro afastado,
por suspeita de corrupção, do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro.
No depoimento, o
miliciano disse aos investigadores que, naquele momento, não teria entendido
qual de fato era o problema, “porém, tempos depois, associou que a fala
poderia ser referente à morte da vereadora Marielle Franco”.
Ao ser preso em
janeiro, o major Ronald ficou em silêncio quando ouviu a seguinte pergunta de
uma das promotoras do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime
Organizado), do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro): “O que
você tem a dizer sobre o assassinato de Marielle?”.
Em depoimento à PF,
o PM Antonio João Oliveira Lázaro negou que tivesse participado do encontro
relatado por Curicica. Ele trabalhou como assessor de Brazão na função de
motorista na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) e fez seguranças
para políticos da família durante campanhas.
Major Ronald e
Domingos Brazão são defendidos pelo mesmo advogado: o criminalista Ubiratan
Guedes. A defesa ainda não se pronunciou à reportagem.
O outro chefe do
Escritório do Crime, ao lado de Major Ronald, é o ex-policial militar Adriano
Magalhães da Nóbrega, conhecido como Capitão Adriano. Ele está foragido desde
janeiro. Os 2 foram homenageados pelo então
deputado estadual e atual senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) com
honrarias na Alerj.
Curicica chegou a
ser apontado como 1 dos mandantes do
crime por 1 falso testemunho de
1 integrante de sua própria quadrilha, o PM Rodrigo Jorge Ferreira, o
Ferreirinha.
Assassinato seria recado para Freixo
Ainda no
depoimento, Curicica disse acreditar que o assassinato de Marielle
Franco teria sido
uma “espécie de recado” ao atual deputado federal Marcelo
Freixo (Psol-RJ). Marielle era melhor amiga e foi assessora de Freixo antes de
ser eleita vereadora pelo Rio.
Freixo ganhou
notoriedade ao chefiar, em 2008, a CPI das Milícias na Alerj (Assembleia Legislativa
do Rio de Janeiro), quando 224 pessoas foram indiciadas. Desde então, recebe
ameaças de morte e é protegido por uma escolta armada.
Para Curicica,
Freixo seria o verdadeiro alvo. No entanto, como os assassinos achavam
que “não poderiam mexer nele”, optaram por matar Marielle para
enfraquecê-lo.
“Os responsáveis
pelo crime não imaginavam toda a repercussão que teria a morte da vereadora”, afirmou o miliciano.
Em 13 de dezembro
do ano passado, 9 meses depois das mortes de Marielle e Anderson, a Polícia Civil do Rio interceptou 1
plano para matar Freixo. O crime seria durante 1 encontro com
sindicalistas em Campo Grande, na zona oeste carioca, região historicamente
dominada por milicianos.
Freixo tentou evitar ida de Brazão ao
TCE-RJ
Segundo o Uol, em
2015, quando deputado estadual no 3º mandato, Domingos Brazão foi eleito para
uma vaga no TCE-RJ no fim de abril.
Ao tomar posse do
cargo, por exigência da lei, ele deixou o MDB, partido ao qual era filiado. A
indicação foi apadrinhada pelo então presidente da Casa legislativa, Jorge
Picciani (MDB). O único partido a se posicionar contra foi o Psol, sigla de
Marcelo Freixo e Marielle Franco.
Na época, Freixo
ingressou com uma ação na Justiça do Rio para evitar, sem sucesso, a nomeação
de Brazão.
Em novembro de
2017, outro membro da cúpula do MDB no Rio, o deputado estadual Edson
Albertassi, estava prestes a ser nomeado para outra vaga no TCE-RJ. Freixo
ingressou com outra ação e, dessa vez, a Justiça impediu a nomeação de
Albertassi. Dias depois, ele seria preso no âmbito da operação Cadeia Velha.
Picciani e o deputado Paulo Melo também foram detidos.
Em 14 de junho de
2018, Freixo participou de uma reunião, a pedido de 2 delegados da Polícia
Civil do Rio, com integrantes do Ministério Público Federal para tratar de uma
possível conexão de deputados do MDB com a morte de Marielle. O encontro foi
revelado em entrevista à revista Veja.
Apontado como responsável pelos disparos que
vitimaram Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, o PM aposentado Ronnie
Lessa foi filiado ao MDB. Ele nega participação no crime.
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