sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Miliciano e PM ligado a conselheiro do TCE-RJ tramaram morte de Marielle


Poder360

© Reprodução A vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) foi morta a tiros em março de 2018

Em depoimento prestado à PF (Polícia Federal) e a procuradores da República, o miliciano Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como Orlando Curicica, afirmou ter participado de 1 encontro no Rio de Janeiro em que 1 dos chefes do “Escritório do Crime” e 1 policial militar que trabalhou como assessor de Domingos Inácio Brazão, conselheiro afastado do TCE-RJ, discutiram, no entendimento dele, o assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol).

As informações foram divulgadas pelo portal Uol, que teve acesso ao depoimento.
Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram assassinados em 14 de março de 2018, na região central do Rio de Janeiro.

Orlando Curicica atualmente está preso no presídio federal de Mossoró (RN). Ele foi condenado por chefiar uma milícia.

Segundo o Uol, para a PF e a PGR (Procuradoria Geral da República), o conselheiro afastado do TCE-RJ é o principal suspeito de ordenar o atentado contra a vereadora.

Na última 3ª feira (17.set.2019), em seu último dia no comando da PGR, Raquel Dodge apresentou denúncia contra Brazão e outras 5 pessoas por tentativa de atrapalhar a investigação.
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No depoimento, Curicica afirmou que o encontro foi realizado em 2017, no Mirante do Roncador, ponto turístico da zona oeste do Rio.

Ele disse que, além dele, estavam presentes o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira, preso em janeiro por ser 1 dos chefes de uma milícia cujo braço armado é conhecido como Escritório do Crime; o subtenente da PM Antonio João Vieira Lázaro, que trabalhou como assessor de Brazão, quando este foi deputado estadual; e Hélio Paulo Ferreira, conhecido como o “Senhor das Armas”.

Curicica disse que, na reunião, o major Ronald afirmou que eles “teriam que resolver 1 problema para o amigo do Tribunal de Contas”. Brazão é conselheiro afastado, por suspeita de corrupção, do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro.

No depoimento, o miliciano disse aos investigadores que, naquele momento, não teria entendido qual de fato era o problema, “porém, tempos depois, associou que a fala poderia ser referente à morte da vereadora Marielle Franco”.

Ao ser preso em janeiro, o major Ronald ficou em silêncio quando ouviu a seguinte pergunta de uma das promotoras do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro): “O que você tem a dizer sobre o assassinato de Marielle?”.

Em depoimento à PF, o PM Antonio João Oliveira Lázaro negou que tivesse participado do encontro relatado por Curicica. Ele trabalhou como assessor de Brazão na função de motorista na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) e fez seguranças para políticos da família durante campanhas.

Major Ronald e Domingos Brazão são defendidos pelo mesmo advogado: o criminalista Ubiratan Guedes. A defesa ainda não se pronunciou à reportagem.

O outro chefe do Escritório do Crime, ao lado de Major Ronald, é o ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega, conhecido como Capitão Adriano. Ele está foragido desde janeiro. Os 2 foram homenageados pelo então deputado estadual e atual senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) com honrarias na Alerj.

Curicica chegou a ser apontado como 1 dos mandantes do crime por 1 falso testemunho de 1 integrante de sua própria quadrilha, o PM Rodrigo Jorge Ferreira, o Ferreirinha.

Assassinato seria recado para Freixo

Ainda no depoimento, Curicica disse acreditar que o assassinato de Marielle
Franco teria sido uma “espécie de recado” ao atual deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ). Marielle era melhor amiga e foi assessora de Freixo antes de ser eleita vereadora pelo Rio.

Freixo ganhou notoriedade ao chefiar, em 2008, a CPI das Milícias na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), quando 224 pessoas foram indiciadas. Desde então, recebe ameaças de morte e é protegido por uma escolta armada.

Para Curicica, Freixo seria o verdadeiro alvo. No entanto, como os assassinos achavam que “não poderiam mexer nele”, optaram por matar Marielle para enfraquecê-lo.
“Os responsáveis pelo crime não imaginavam toda a repercussão que teria a morte da vereadora”, afirmou o miliciano.

Em 13 de dezembro do ano passado, 9 meses depois das mortes de Marielle e Anderson, a Polícia Civil do Rio interceptou 1 plano para matar Freixo. O crime seria durante 1 encontro com sindicalistas em Campo Grande, na zona oeste carioca, região historicamente dominada por milicianos.

Freixo tentou evitar ida de Brazão ao TCE-RJ

Segundo o Uol, em 2015, quando deputado estadual no 3º mandato, Domingos Brazão foi eleito para uma vaga no TCE-RJ no fim de abril.

Ao tomar posse do cargo, por exigência da lei, ele deixou o MDB, partido ao qual era filiado. A indicação foi apadrinhada pelo então presidente da Casa legislativa, Jorge Picciani (MDB). O único partido a se posicionar contra foi o Psol, sigla de Marcelo Freixo e Marielle Franco.

Na época, Freixo ingressou com uma ação na Justiça do Rio para evitar, sem sucesso, a nomeação de Brazão.

Em novembro de 2017, outro membro da cúpula do MDB no Rio, o deputado estadual Edson Albertassi, estava prestes a ser nomeado para outra vaga no TCE-RJ. Freixo ingressou com outra ação e, dessa vez, a Justiça impediu a nomeação de Albertassi. Dias depois, ele seria preso no âmbito da operação Cadeia Velha. Picciani e o deputado Paulo Melo também foram detidos.

Em 14 de junho de 2018, Freixo participou de uma reunião, a pedido de 2 delegados da Polícia Civil do Rio, com integrantes do Ministério Público Federal para tratar de uma possível conexão de deputados do MDB com a morte de Marielle. O encontro foi revelado em entrevista à revista Veja.

Apontado como responsável pelos disparos que vitimaram Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, o PM aposentado Ronnie Lessa foi filiado ao MDB. Ele nega participação no crime.


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