SYLVIA COLOMBO, Folhapress.
BUENOS
AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Jean-Luc Mélenchon espera que, ao falar o que
acha do presidente Jair Bolsonaro, possa "entrar e sair do Brasil sem ser
preso".
Em
Lanús, município da província de Buenos Aires, onde esteve para receber o
título de doutor honoris causa da universidade local, o filósofo e político
esquerdista francês de 68 anos afirmou não suportar a "maneira
desgraçada" com a qual o brasileiro falou da primeira-dama de seu país,
Brigitte Macron.
"Não
há nenhum caso no qual se possa desprezar os seres humanos, qualquer que seja
sua posição política, isso é insuportável. Mas se esse é o poder que foi capaz
de prender Lula, creio que é capaz de tudo."
O
francês, que obteve 19,6% dos votos no primeiro turno da última eleição
presidencial francesa, vencida por Emmanuel Macron, passou pela Argentina como
parte de uma turnê latino-americana para visitar líderes de esquerda.
Primeiro,
esteve no México, onde se encontrou com o presidente Andrés Manuel López
Obrador. Lá, também foi até a fronteira com os EUA.
Depois,
em Montevidéu, reuniu-se com o ex-mandatário José "Pepe" Mujica. E,
em Buenos Aires, teceu elogios ao kirchnerismo durante uma reunião com Cristina
Kirchner, candidata a vice na chapa favorita para vencer as eleições
presidenciais de outubro.
Nesta
quinta (5), estará no Brasil para se encontrar com o ex-presidente Luís Inácio
Lula da Silva, preso em Curitiba.
"Considero
Lula um semelhante, um amigo, uma figura muito importante em nossa família
ideológica. Sou um herdeiro de Lula, como toda a nova esquerda europeia
é."
Para
o ex-candidato, que está sendo processado na França por suposto uso indevido de
dinheiro do Parlamento Europeu em sua campanha presidencial, Lula é a primeira
e mais conhecida vítima do uso da Justiça contra a esquerda.
E,
assim como o petista, Cristina e ele próprio são vítimas desse processo.
"Virou um método político para se livrar da esquerda no mundo
inteiro."
A
visita a Lula, afirma ele, servirá para lhe dar ânimo no processo que está
enfrentando. Ao lembrar o trâmite jurídico que levou o petista à prisão,
Mélenchon faz críticas ao ministro da Justiça, Sergio Moro, que "condenou
Lula sem provas e depois se vendeu como um ministro de um governo de
ultradireita".
O
francês se mostrou animado com a possível vitória da chapa Alberto Fernández e
Cristina Kirchner. "Vai mudar a política deste país em favor dos
desempregados, dos pobres e dos trabalhadores."
"O
discurso que voltou agora aqui é o de expulsar o FMI [Fundo Monetário
Internacional], o Banco Mundial, recuperar a soberania nacional, tirar milhares
de pessoas da pobreza. Isso o kirchnerismo demonstrou que é possível, porque já
fez isso antes."
Também
responsabilizou o presidente da Argentina, Mauricio Macri, e o FMI pela atual
crise financeira. "A culpa é da senhora Christine Lagarde [diretora-geral
do FMI], que emprestou essa quantia enorme [U$S 57 bilhões] sem nenhuma outra
garantia além da palavra do senhor Macri."
Questionado
sobre o que teria levado Lagarde a emprestar tanto dinheiro à Argentina,
Mélenchon diz que os Estados Unidos queriam satisfazer Macri e dar uma
demonstração de que, "depois da onda esquerdista na América do Sul,
estaria vindo um momento liberal com muito êxito".
Para
completar, o francês, mais jovem membro do Senado francês, ao integrar a Casa
em 1986, acusa Macri de ter avançado contra a democracia ao não consultar o
Congresso sobre o empréstimo.
"Essa
gente pensa que a democracia não serve para nada. Macri foi eleito presidente
de uma nação democrática, não de um reino. E posso dar lições sobre isso porque
se há um país em que há monarcas presidenciais é o meu. Não creio que Macri
tenha tanto poder quanto o senhorito Macron."
Por
fim, sobrou também para o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, que seria
um acordo de livre intercâmbio, e não uma cooperação. "Sou a favor da
cooperação. Livre intercâmbio quer dizer que, ao final, quem é mais forte ganha
o prêmio. O que paga menos e que respeita menos a natureza."
Além
da questão ideológica, brincou: "Eu não quero comer um camembert feito no
rio Paraná. Gosto mais do francês. E quando vou para a Argentina ou para o
Brasil, quero comer as coisas que são daqui".
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