Foto: REUTERS/Leonardo Benassatto |
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Notícias, 4 de setembro de 2019
O ex-presidente Lula escreveu uma carta, lida em evento realizado em
Brasília nesta quarta-feira (04), na qual critica o que chama de “farra de
entreguismo e privatização predatória” que o petista diz ver nas ações do
governo de Jair Bolsonaro.
No documento, Lula lista uma série de medidas de Jair Bolsonaro que,
segundo ele, abalam a soberania do país e pede uma reação do povo brasileiro
“antes que seja tarde demais para salvar o futuro”.
Leia a íntegra da carta de Lula:
Companheiras e companheiros de todo o Brasil,
Sempre acreditei que o povo brasileiro é capaz de construir uma grande
Nação, à altura dos nossos sonhos, das nossas imensas riquezas naturais e
humanas, nesse lugar privilegiado em que vivemos. Já provamos, ao longo da
história, que é possível enfrentar o atraso, a pobreza e a desigualdade, com
soberania e no rumo da justiça social Mas hoje o país está sendo destroçado por
um governo de traidores. Estão entregando criminosamente as empresas, os bancos
públicos, o petróleo, os minerais e o patrimônio que não lhes pertence, mas ao
povo brasileiro. Até Amazônia está ameaçada por um governo que não sabe e não
quer defendê-la; que incentiva o desmatamento, não protege a biodiversidade nem
a população que depende da floresta viva.
Nenhum país nasce grande, mas nenhum país realizará seu destino se não
construir o próprio futuro. O Brasil vai completar 200 anos de independência
política, mas nossa libertação social e econômica sempre enfrentou obstáculos
dentro e fora do país: a escravidão, o descaso com a saúde, a educação e a
cultura, a concentração indecente da terra e da renda, a subserviência dos
governantes a outros países e a seus interesses econômicos, militares e
políticos.
Apesar de tudo, ao longo da história criamos a Petrobrás, a Eletrobrás,
o BNDES e as grandes siderúrgicas hidrelétricas; os bancos públicos que
financiam a agricultura, a habitação e o ensino; a rede federal e estadual de
universidades, a Embrapa, o Inpe, o Inpa, centros de pesquisa e conhecimento,
todo um patrimônio a serviço do país.
O que foi construído com esforço de gerações está ameaçado de
desaparecer ou ser privatizado em prejuízo do país, como fizeram com a
Telebrás, a Vale, a CSN, a Usiminas, a Rede Ferroviária, a Embraer. E sempre a
pretexto de reduzir a presença estado, como se o estado fosse um problema quando,
na realidade, ele é imprescindível para o país e o povo.
O mercado não vai proteger um dos maiores territórios do mundo, o
subsolo e a plataforma continental; a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal. Não vai
oferecer acesso universal à educação, saúde, seguridade social, segurança
pública, cultura. O mercado não vai construir um país para todos.
A Petrobrás está sendo vendida aos pedaços a suas concorrentes
estrangeiras. Já entregaram dois gasodutos estratégicos, a distribuidora e
agora querem as refinarias, para reduzi-la a mera produtora de petróleo bruto e
depois vender o que restou. Reduzem a produção de combustíveis aqui para
importar em dólar dos Estados Unidos. E por isso disparam os preços dos
combustíveis e do gás para o povo.
Se a Petrobrás fosse um problema para o Brasil, como a Rede Globo diz
todo dia, por que tanta cobiça pela nossa maior empresa e pelo pré-sal, que os
traidores também estão entregando? Agora mesmo querem passar a eles os poços da
chamada Cessão Onerosa, onde encontramos jazidas muitas vezes mais valiosas que
as ofertas previstas no leilão.
Problema é voltar a comprar lá fora os navios e plataformas que sabemos
fazer aqui. É a destruição da cadeia produtiva de óleo e gás, pela ação do
governo e pelas consequências do que fez um juiz em Curitiba. Enquanto fechava
acordos com corruptos, vendendo a falsa ideia de que combatia a corrupção, 2
milhões de trabalhadores foram condenados ao desemprego, sem apelação.
Os trabalhadores e os mais pobres são os que mais sofrem com essa
traição. Cada pedaço do país e das empresas públicas que vendem, a qualquer
preço, são milhões de empregos e oportunidades roubadas dos brasileiros.
É uma traição inominável matar o BNDES, vender o Banco do Brasil e
enfraquecer a Caixa Econômica, indispensáveis ao desenvolvimento sustentável, à
agricultura e à habitação. O ataque às universidades públicas também é contra a
soberania nacional, pois um país que não garante educação pública de qualidade,
não se conhece nem produz conhecimento, será sempre submisso e dependente das
inovações criadas por outros.
Bolsonaro entregou nossa política externa aos Estados Unidos. Deu a
eles, a troco de nada, a Base de Alcântara, uma posição privilegiada em que
poderíamos desenvolver um projeto aeroespacial brasileiro. Rebaixou a diplomacia
a um assunto de família e de conselheiros que dizem que a terra é plana. Trocou
nossas conquistas na OMC pela ilusão da OCDE, o clube dos ricos que o
desprezam. Anunciou um acordo com a União Europeia, sem pesar vantagens e
prejuízos, e agora brinca de guerra com os europeus para fazer o jogo de Trump.
Quem vai ocupar o espaço da indústria naval brasileira, da indústria de
máquinas e equipamentos, da engenharia e da construção, deliberadamente
destroçadas? Quem vai ocupar o espaço dos bancos públicos, da Previdência; quem
vai fornecer a Ciência e a Tecnologia que o Brasil pode criar? Serão empresas
de outros países, que já estão tomando nosso mercado, escancarado por um
governo servil, e levando os lucros e os empregos para fora.
Fiquem alertas os que estão se aproveitando dessa farra de entreguismo e
privatização predatória, porque não vai durar para sempre. O povo brasileiro há
de encontrar os meios de recuperar aquilo que lhe pertence. E saberá cobrar os
crimes dos que estão traindo, entregando e destruindo o país.
É urgente enfrentá-los, porque seu projeto é destruir nossa
infraestrutura, o mercado interno e a capacidade de investimento público – para
inviabilizar de vez qualquer novo projeto de desenvolvimento nacional com
inclusão social. O povo brasileiro terá mais uma vez que tomar seu próprio
caminho. Antes que seja tarde demais para salvar o futuro.
Por isso é tão importante reunir amplas forças sociais e políticas, como
neste seminário que se realiza hoje em Brasília, junto ao lançamento da Frente
Parlamentar Mista da Soberania Nacional. Saúdo a todos pela relevante inciativa
que é o recomeço de uma grande luta pelo Brasil e pelo povo.
Daqui onde me encontro, renovo a fé num Brasil que será novamente de
todos, na construção da prosperidade, da igualdade e da justiça, vivendo na
democracia e exercendo sua inegociável soberania.
Viva o Brasil livre e soberano!
Viva o povo brasileiro!
Luiz Inácio Lula da Silva”
Curitiba, 4 de
setembro de 2019
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