© Lucas Landau/Rede
Xingu + Indígenas se
apresentam durante encontro que reuniu representantes 14 etnias e de quatro
reservas extrativistas na Terra Indígena Menkragnoti, no Pará (grifo do blog)
RUBENS VALENTE, Folhapress
BRASÍLIA, DF
(FOLHAPRESS) - O número de invasões a terras indígenas no país explodiu durante
os nove primeiros meses do governo Jair Bolsonaro, segundo dados preliminares
divulgados nesta terça-feira (24) pelo Cimi (Conselho Indigenista Missionário),
vinculado à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
Em todo o ano
passado, segundo o Cimi, foram registrados 111 casos do tipo em 76 terras
indígenas. Somente de janeiro a setembro deste ano, o número pulou para 160 invasões
em 153 terras indígenas.
Ou seja, faltando
ainda três meses para encerrar 2019, já há um aumento de 44% no total de
ataques e de 101% no de terras atingidas.
No ano passado, os
ataques ocorreram em 13 estados da Federação. De janeiro a setembro, os ataques
ocorreram em 19 estados.
O aumento das
invasões é ainda maior quando considerados os últimos três anos. Em 2016, foram
59 casos, menos da metade do número registrado nos primeiros nove meses de
2019.
Os ataques às
terras indígenas incluem, segundo o Cimi, "arrendamento e loteamento de
terras indígenas; invasões; desmatamento; destruição de patrimônio; exploração
ilegal de recursos naturais; garimpo de ouro e diamantes; contaminação de rios;
queimadas e incêndios; caça e pesca ilegal; e contaminação por agrotóxicos e
metais pesados, dentre outras ações criminosas que incluem a abertura de rotas
para o tráfico de drogas".
Além disso, também
cresceu 22% o número de indígenas assassinados em 2018, na comparação com 2017,
passando de 110 casos para 135.
Em nota pública
lida nesta terça-feira pelo presidente do conselho, dom Roque Paloschi,
arcebispo de Porto Velho (RO), o Cimi afirmou que "a agressividade no
discurso do presidente da República e de membros do governo serve de
combustível para a violência cometida contra os territórios e os povos
originários".
Um dos autores do
estudo do Cimi, o missionário Roberto Liebgott, coordenador do Cimi Regional
Sul, afirmou que o aumento de invasões é resultado de uma "política do
genocídio" e que o governo Bolsonaro trabalha com a "perspectiva da
desterritorialização" dos povos indígenas.
"Se
percebermos o discurso do governo, a perspectiva atual é de se apossar das
terras com o discurso de que os índios não precisam da terra. Então as terras
deixam de ser parte de estratégia da política do governo e passam a ser posse
do capital", disse Liebgott.
O missionário diz
acreditar que o cenário do Mato Grosso do Sul e do Sul do país, onde os
indígenas vivem em áreas pequenas e acampamentos na beira das estradas, pode
ser o da Amazônia em breve.
"Dá a
impressão de que o sul é a fotografia do que vai ser a Amazônia amanhã, pelas
práticas que vêm acontecendo. É um estado que, pelo discurso, fomenta a
invasão, e através das práticas políticas desestrutura os órgãos que deveriam
coibir as invasões de terra", afirmou o coordenador do estudo.
Segundo o Cimi,
"um novo método de esbulho possessório das terras indígenas está sendo
praticado atualmente no Brasil".
"Essa prática
é ainda mais grave, porque essa é devastadora. Na outra, eles [invasores]
tiravam a madeira e iam embora. Agora eles tiram a madeira e tacam fogo. Então
destrói tudo, só sobram as cinzas. É o que vem acontecendo em grande parte dos
territórios invadidos hoje", disse Liebgott.
Ele afirma que a
violência aumentou: "chega a ter casos de loteamento de terras indígenas.
O madeireiro entra, tira a madeira e passa a ser palco para especulação
imobiliária. É a prática do fato consumado."
Em entrevista
coletiva para o lançamento do estudo anual do Cimi, na sede da CNBB em
Brasília, o líder indígena Suruí Pataxó afirmou que "a gente fica triste
com esse governo que está aí, sempre querendo nos derrubar", mas que isso
não vai alterar a disposição dos povos indígenas.
"Sempre foi
assim desde o princípio, com os governos anteriores também", disse o
indígena.
Segundo o Cimi,
"centenas de garimpos ilegais estão em funcionamento dentro de áreas
indígenas". Somente na terra indígena munduruku, são mais de 500 focos de
garimpeiros. O conselho diz ainda que há "milhares" de garimpeiros
atuando na terra indígena Yanomami, em Roraima.
Procurados
pela reportagem, o Ministério da Justiça e a Funai (Fundação Nacional do Índio)
não se manifestaram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário