ESTADÃO - Rafael Moraes Moura
© DIDA
SAMPAIO/ESTADAO Dodge fez
anúncios no seu último dia no cargo.
BRASÍLIA – No último dia do mandato, a procuradora-geral da
República, Raquel Dodge, enviou nesta terça-feira,
17, um parecer pedindo que o Supremo Tribunal Federal (STF) declare
a inconstituciona-lidade de seis decretos do governo Jair Bolsonaro que alteraram as
regras de porte e posse de armas. Em outra ofensiva contra os interesses do
Palácio do Planalto, a procuradora entrou com três ações no STF que contestam
medidas defendidas pelo Palácio do Planalto: o projeto Escola sem Partido e as mudanças
promovidas pelo governo federal nas composições dos conselhos nacionais do meio
ambiente (Conama) e dos direitos da Criança e do Adolescente (Conanda).
Para Raquel Dodge,
as alterações nas regras de posse e porte de armas em decretos assinados por
Bolsonaro afrontam “o princípio da separação dos poderes” e substituem o papel
do Poder Legislativo “na tomada de decisão acerca da política pública sobre
porte e posse de armas de fogo”. O parecer da procuradora foi encaminhado no
âmbito de uma ação ajuizada pelo partido Rede Sustentabilidade em maio deste
ano.
“A via adequada
para a alteração e substituição de política pública sobre a comercializa-ção,
posse, porte de arma de fogo é a instauração de processo legislativo no âmbito
do Congresso Nacional, locus destinado à deliberação democrática dos temas mais
caros à ordem constitucional brasileira. Tanto é assim que tramitam nas Casas
Legislativas inúmeros projetos de lei que objetivam a alteração do Estatuto do
Desarmamento, inclusive um de autoria do Presidente da República”, observou
Raquel Dodge.
Continue lendo
Continue lendo
O mandato de Raquel
Dodge chegou ao fim nesta terça-feira, após Bolsonaro decidir não reconduzir a
procuradora para mais dois anos de mandato. O presidente escolheu o
subprocurador-geral da República Augusto Aras para suceder a Raquel Dodge no
comando do Ministério Público Federal (MPF) –
o nome de Aras ainda precisa ser aprovado pelo Senado.
Conselhos
Raquel também
entrou com ação no Supremo contra um decreto de Bolsonaro que altera as regras
de composição do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
(Conanda), que viu o número total de representantes cair de 28 para 18. O
governo também alterou o método de escolha das entidades representantes da
sociedade civil, que agora serão escolhidos em processo seletivo elaborado pelo
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. O decreto também
proíbe a recondução dos representantes das entidades não governamentais.
“Como resultado
dessas mudanças, o caráter democrático participativo do Conanda foi
praticamente esvaziado, sendo que o órgão está sob risco de perder sua razão de
ser enquanto fórum encarregado da elaboração de políticas voltadas para o
público infanto-juvenil”, escreveu Raquel Dodge.
Já no Conselho
Nacional do Meio Ambiente (Conama), Raquel Dodge contesta a redução de 11 para
4 representantes de entidades ambientalistas com assento no Conselho e a
diminuição de 2 anos para 1 ano no mandato das entidades ambientalistas.
“Como resultado
dessas mudanças, o caráter democrático participativo do Conama foi praticamente
esvaziado, sendo que o órgão está sob risco de perder sua razão de ser enquanto
fórum encarregado da elaboração de políticas ambientais”, criticou Raquel
Dodge.
“Como se vê, as
mudanças afetaram de forma mais substancial a forma de representação do grupo
da sociedade civil, cujos assentos sofreram redução de mais de 80% (de 22 para
4 vagas). Além dessa drástica redução, houve ainda uma profunda alteração na
pluralidade representativa: representantes dos trabalhadores, da comunidade
indígena, de populações tradicionais e da comunidade científica tiveram seus
assentos extintos”, afirmou a procuradora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário