quarta-feira, 18 de setembro de 2019

“Bolsonaro não tem o chip da moderação; ele é tosco e misógino”, diz Dilma na Sorbonne

© Paloma Varón/ RFI

RFI - Paloma Varón

Vestida de vermelho, diante do auditório lotado da mais tradicional universidade francesa, a Sorbonne, em Paris, a ex-presidente do Brasil Dilma Rousseff, explicou na noite desta terça-feira (17) as razões do seu impeachment e os fatores que possibilitaram a eleição de Bolsonaro.

 “O golpe de 2016, a prisão do Lula e a destruição dos partidos de centro e de direita. Tudo isso com o apoio da mídia, das Forças Armadas, do mercado e de setores políticos, que achavam que seria possível controlá-lo”, disse.
A ex-presidente continuou: “O problema é que Bolsonaro não tem chip de moderação”, acrescentou. Sem meias palavras, a ex-presidente também chamou a elite brasileira de “golpista”.

Dilma em seguida classificou Bolsonaro de neofascista. “Ele é neo porque ele não é nacionalista, ele bate continência para os Estados Unidos”, afirmou. "Quando o neofascismo se junta com o neoliberalismo, é fundamental que o aspecto democrático seja ressaltado, porque é ele que cria a contradição. Porque eles [ela se refere aos apoiadores de Bolsonaro] passam a ter incômodo com o fato de ele ser tosco, com o fato de ele ser misógino."

A ex-presidente fazia referência aos ataques de Bolsonaro à primeira-dama francesa Brigitte Macron, à Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos e ex-presidente do Chile Michelle Bachelet e a ela mesma. “Ele defende a tortura e o assassinato político”, acrescentou.

A conferência de Dilma Rousseff sobre o Brasil contemporâneo se deu durante o evento intitulado “O Brasil ainda é o país do futuro?”, organizado pela Sorbonne em parceria com outras universidades francesas e com a Rede Europeia pela Democracia no Brasil (RED.Br) e moderado por Olivier Compagnon, professor do Instituto de Altos Estudos em América Latina. 

 “O Brasil desencantado”

O debate foi precedido pela projeção do documentário “Encantado, o Brasil desencantado”, do cineasta brasileiro radicado em Paris, Filipe Galvón. O filme conta, por meio de uma série de entrevistas – entre elas a de Dilma Rousseff – a história política e social do Brasil entre a eleição de Lula em 2002 e a eleição de Bolsonaro em 2018.

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A filósofa Marcia Tiburi estava presente no evento e falou à RFI. “Neste momento o Brasil pode acordar ouvindo o que o Michel Temer falou. Como golpista que ele foi, ter dito que foi um golpe é algo revelador. A revelação do que todo mundo já conhecia e é importantíssimo hoje ouvir Dilma Rousseff falando após esta declaração do pivô do golpe que a depôs”, declarou.

O debate foi aberto pelo historiador e decano da Sorbonne Alain Tallon, que disse: “Todos os brasileiros e brasileiras são bem-vindos na Sorbonne, devido aos laços estreitos entre a França e o Brasil. Mas eu estou particularmente emocionado de acolher a mais ilustre cidadã deste país”, disse, referindo-se a Dilma.

Tallon lembrou que a Sorbonne criou a única cátedra de História brasileira em uma universidade francesa. “Isso mostra a que ponto a influência da cultura, das artes e da literatura brasileira é grande para nós.”

O decano destacou a “coragem”, o “combate” e os “valores” de Dilma e disse que ela é um “exemplo”. Por fim, ele declarou a solidariedade da Sorbonne com as universidades brasileiras “neste período difícil” e acrescentou: “O Brasil não está sozinho”.


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