Comunicado conjunto do Partido Comunista da Bélgica e das seções do
Partido Comunista Francês de Saint-Quentin, Gauchy e Val d’Origny na sequência
das suas ações paralelas contra a “liberaliza-ção” do mercado europeu do açúcar.
11 de Julho de 2019
No final de junho,
foi assinado um importante acordo de livre comércio entre os países do Mercosul
(Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina) e a União Europeia. Terá de ser
ratificado em cada país da UE nos próximos meses. Na Bélgica, tal como em
França, faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para nos opormos.
O acordo não é uma
boa notícia para a classe trabalhadora, para os trabalhadores agrícolas e os
camponeses de ambos os lados do Atlântico. “Este acordo é um disparate social,
energético e ecológico”. Esta má notícia deve impulsionar o fortalecimento do
internacionalismo proletário, que requer a organização de nossa classe e em
nenhum caso a defesa das “regras europeias” que servem ao grande capital
europeu e seus objetivos imperialistas.
Este acordo está em perfeita
sintonia com a criação do mercado europeu, que contribuiu para a concentração
da terra nas mãos dos proprietários e/ou especuladores, o reforço da
agricultura intensiva e a criação de monopólios nos setores agroindustrial e
agroalimentar. Os países do Mercosul poderão exportar para a Europa, sem
direitos aduaneiros, até 99 000 toneladas de carne bovina, 100 000 toneladas de
aves domésticas e 180 000 toneladas de açúcar por ano. De acordo com os
agricultores, as cotas de carne que seriam atribuídas ao Brasil, Argentina,
Paraguai e Uruguai seriam essencialmente peças de alto valor agregado, como
costela e contrafilé. Trata-se claramente de uma morte planejada do setor
pecuário na Europa. Isto em troca da abertura do mercado do Mercosul aos
automóveis, produtos químicos e medicamentos. Em suma, um acordo quase que em
benefício dos imperialistas, nomeadamente dos alemães e dos franceses.
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Este acordo
complementa e aprofunda a liberalização dos mercados agrícolas europeus, em
especial do açúcar, após o termo das quotas de produção por país em 1 de
outubro de 2017. A ameaça é direta para o próprio futuro do setor da beterraba,
nomeadamente na Bélgica e no Norte de França, que está sujeito à concorrência
da produção e da transformação a custos muito baixos, especialmente no Brasil e
à especulação sobre os preços mundiais. Os trabalhadores já perderam ou vão
perder seus empregos, principalmente na multinacional Tereos em Aalst/Alost ou
na região de Saint-Quentin, enquanto a Tereos, que investe fortemente no Brasil,
viu seus lucros aumentarem em 213 milhões de euros entre 2007 e 2017. As
refinarias de Tirlemonto, propriedade da multinacional Süzucker, que está
fechando cinco unidades de produção de açúcar na Alemanha e na França,
incluindo a de Eppeville, na Picardia, empregam 600 trabalhadores. A
multinacional se recusa a revender os sítios porque quer reduzir a oferta para
manter seus lucros. Localizado no Congo, Austrália e Holanda, o grupo
multinacional Finasucre, cuja filial belga Iscal Sucre SA (215 empregados e
2664 agricultores) obteve 12 milhões de euros em lucros em 2018, também tem
interesses na produção de açúcar no exterior.
A criação desta
grande zona de comércio livre não se destina a melhorar a oferta em
circunstância alguma, mas sim a concentrar os monopólios que irão atacar as
condições de trabalho, liquidar o emprego e baixar os padrões de saúde e
segurança, e contribuir ativamente para a destruição do nosso ambiente. O pior
é previsível: os grupos capitalistas europeus vão importar açúcar das suas
unidades de produção no Brasil para competir com as suas instalações europeias
e acelerar o seu fechamento! Neste imenso Brasil, no entanto, a
autossuficiência alimentar e a erradicação da desnutrição estão longe de ser
alcançadas!
Para responder a este
rolo compressor do capital, é necessário intensificar a luta contra a União
Europeia, fortalecer nossos laços fraternos e solidários com os trabalhadores
de todos os países em luta da América Latina e da Europa, mas sobretudo ampliar
o trabalho de unificação dos trabalhadores agrícolas com a classe trabalhadora.
Estamos agora promovendo campanhas contra a ratificação na Bélgica e na França
do acordo UE-Mercosul. Recusamo-nos a entrar nas divergências provisórias
expostas entre os representantes deste ou daquele ramo capitalista, no debate
entre comércio livre ou estratégias protecionistas, que competem, se
complementam e se sucedem no interesse dos capitalistas. A nossa única
referência é a resposta às necessidades dos povos pelos povos e a cooperação
mutuamente benéfica entre eles.
Esta união de
proletários de todos os países é necessária para derrubar o sistema
capitalista, a fim de preparar o advento do socialismo, que só ele pode
satisfazer as necessidades dos trabalhadores e impor a substituição dos acordos
de livre comércio por acordos de cooperação fraterna entre os povos.
Tradução: Partido
Comunista Brasileiro (PCB)
Fonte:
http://www.particommuniste.be/index.php/international/563-mobiliser-pour-repousser-l-accord-de-libre-echange-entre-l-ue-et-le-mercosur
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