O envolvimento do ministro da Justiça,
Sergio Moro, nos desdobramentos da Operação Spoofing, que prendeu quatro
supostos hackers nesta semana, reacendeu a pressão de alas do STF (Supremo
Tribunal Federal) e do Congresso para que os dois Poderes deem resposta à
atuação do ex-juiz da Lava Jato, de acordo com matéria publicada hoje pela
Folha de São Paulo e assinada por Thais Arbex
A avaliação de ministros da corte e de
parlamentares da cúpula da Câmara e do Senado é a de que Moro extrapolou os
limites de sua competência como ministro de Estado ao indicar que teve acesso a
dados de uma investigação sigilosa da Polícia Federal.
A suposta quebra do sigilo do inquérito
e o possível abuso de autoridade de Moro tornaram-se eixos de um processo de desestabilização.
Em conversas reservadas, políticos e
magistrados dizem que a permanência do ministro no governo de Jair
Bolsonaro(PSL) ficou insustentável e defendem que ele se afaste do cargo até a
conclusão das investigações.
"Moro está confundindo de vez o
papel do juiz com o de ministro. Diferentemente do que disse na Câmara, de que
acompanhava a investigação apenas como vítima, ele deu sinais de que comanda a
investigação ao violar seu sigilo [da investigação]. A lei de abuso de
autoridade está na berlinda", disse à Folha o líder do PP na Câmara,
Arthur Lira (AL).
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Há uma discussão em curso para convocar
o ministro, tão logo acabe o recesso parlamentar, a dar explicações ao
Congresso sobre o seu acesso ao inquérito. A ideia é que Moro seja provocado a
responder como e em quais condições obteve a lista de autoridades hackeadas
—uma vez que, na condição de ministro, ele não poderia ter ingerência sobre
investigações da PF.
"Não existe nenhuma dúvida quanto
a existência de um ataque hacker criminoso", afirmou o ministro da Justiça
Sergio Moro no dia 2 de junho na Câmara dos Deputados. A sessão foi marcada
para que o ex-juiz explicasse as mensagens divulgadas pelo site The Intercept.
Folhapress/Pedro Ladeira
"Não processo o site [The
Intercept Brasil], a Folha ou quem quer que seja porque sempre fui um grande
defensor da liberdade de imprensa", diz Moro. Folhapress/Pedro Ladeira
Parte dos congressistas também defende
a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a
atuação de Moro e cobrar que ele diga, claramente, se viu o conteúdo das
mensagens hackeadas.
Integrantes da base do governo no
Congresso dizem, no entanto, que Moro apenas cumpriu seu papel como ministro da
Justiça e, consequentemente, comandante da Polícia Federal.
"Moro agiu motivado por excesso de
cautela e zelo. Ao tomar conhecimento de que autoridades de todos os Poderes
haviam sido vítimas, o ministro expressou sua preocupação", disse à Folha
o senador Major Olímpio (SP), líder do PSL na Casa.
No Supremo, a avaliação é a de que,
mais cedo ou mais tarde, o tribunal terá que se manifestar sobre a atuação de
Moro —seja no caso da Spoofing ou à frente dos processos da Lava Jato em
Curitiba.
Magistrados lembram que a corte
pretende retomar, nos primeiros dias de agosto, assim que acabar o recesso do
Judiciário, o julgamento da alegada suspeição de Moro no julgamento do caso do
tríplex de Guarujá (SP), que levou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à
prisão.
Políticos
e magistrados ouvidos pela Folhana condição de anonimato disseram que, ao
entrar em contato com autoridades para informá-las que estavam na lista de alvo
dos ataques, o ministro invocou para si superpoderes e, de acordo com um
parlamentar, criou uma relação de chantagem implícita com o mundo político e
jurídico.
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