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Veja.com - Denise Chrispim Marin
O ministro da Justiça, Sergio
Moro: novos diálogos vazados e dúvidas sobre o destino dos que condenou-
14/06/2019
Juristas
consultados por VEJA não chegaram a um acordo sobre como avaliar a nova rodada
de conversas do então juiz Sergio Moro e Deltan Dallagnol, chefe da
força tarefa da Lava Jato, publicada na edição deste domingo, 23, da Folha
de S.Paulo, com base em dados do portal The Intercept Brasil.
O
criminalista Conrado Gontijo afirma que as mensagens comprovam
a relação “imprópria” e “inaceitá-vel” entre ambos e comprometem os julgamentos
concluídos. A advogada constitucionalista Vera Chemim, disse não ter constatado
nenhuma frase que pudesse comprovar a imparcialidade do juiz.
A troca de
mensagens pelo Telegram, em 2016, denota a preocupação de Moro e de Dallagnol
com a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal ordenar
a paralisação das investigações, depois da divul-gação de de documentos
encontrados pela Polícia Federal na casa de um executivo da empreiteira Odebrecht que expunham políticos com direito a foro especial.
Para Vera Chemim, mestre em direito
público administrativo pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Dallagnol e Moro se
mostram preocupados nas últimas conversas vazadas em “fazer a coisa certa”.
“Procuro ir ao pé da letra e, nesse sentido, não vejo nada comprometedor, nada
que pudesse constatar imparcialidade do juiz”, afirmou. “Essa é minha posição,
por enquanto. Não adianta muito analisarmos os diálogos publicados a
conta-gotas. Precisamos da totalidade, em sua sequência lógica, e do contexto
em que foram realizados”, completou.
Para Conrado Gontijo, doutor em direito
penal pela Universidade de São Paulo e professor de pós-graduação da Escola de
Direito do Brasil (EDB), a contaminação dos julgamentos dos casos apurados pela
Lava Jato está confirmada pela nova rodada de diálogos. Atingirá, inclusive, os
casos já julgados em segunda instância da Justiça, como o do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva sobre o triplex do Guarujá (SP).
“As conversas
vazadas consolidam a suspeita de que o Ministério Público e o juiz atuavam em
comunhão, como se fossem uma única pessoa. O juiz Moro mostra-se como o braço
e, talvez, o cérebro da força tarefa. Isso é um absurdo inaceitável”, afirma
Gontijo, ao lembrar que o Código do Processo Penal (CPP) exige a imparcialidade
do juiz.
“Com base na teoria
dos`frutos da árvore envenenada’, presente no CPP, todos os julgamentos
decorrentes da Lava Jato podem ficar comprometidos, mesmo os chancelados em
segunda instância, se assim por avaliado pelo Superior Tribunal de Justiça”,
completou.
Promiscuidade
Gontijo acredita
ter havido “grau elevado de promiscuidade” entre o juiz e o procurador nas
conversas, que não foram negadas por nenhum dos dois. A nulidade da condenação
do ex-presidente Lula, em sua visão, está clara. “Moro ignorou a defesa e
privilegiou a acusação. Nas suas manifestações, ele foi tudo, menos um juiz”,
declarou.
Assim como Chemim,
Gontijo espera pela publicação de novos diálogos, que podem incluir outros
atores mais comprometedores. Em sua opinião, se a Polícia Federal constatar que
os diálogos foram obtidos de forma criminosa, por meio da ação de hacker, por
exemplo, Moro estará livre de responder à Justiça por suspeita de prevaricação.
Mas, ainda assim, os réus julgados por ele serão favorecidos.
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