Jornaalista: Helena Chagas
Prestes a completar seis meses, o governo Jair
Bolsonaro está ficando a cada dia mais com a cara de Jair Bolsonaro. Não tem
mais o perfil que parecia ter emergido das urnas de um governo dividido em
núcleos igualmente poderosos – militar, político, econômico e
familiar-ideológico – lutando pelo poder. Muito antes do que se pensava, um
desses grupos venceu, e agora os demais ou se subordinam ou são postos para
correr.
Bolsonaro não deixou margem a dúvidas sobre quem
manda com as últimas demissões de generais em seu governo: Santos Cruz
(Secretaria de Governo), Floriano Peixoto (rebaixado da Secretaria Geral para a
presidência dos Correios), Juarez Cunha (ex-Correios) e Franklimberg Ribeiro
(Funai). Além de afastar qualquer resquício de suspeitas sobre uma eventual
tutela militar, o presidente mostra que a verdadeira essência do governo está
representada pelo núcleo familiar-ideológico.
Entre os critérios que nortearam o afastamento de
Santos Cruz – e certamente o de Floriano Peixoto, a ele ligado – estão o
da desconfiança e o da intolerância com opiniões contrárias. Esses sentimentos,
somados ao forte viés ideológico e à fixação no passado, estiveram também por
trás da demissão de Joaquim Levy no BNDES.
A ala política estranhou o esvaziamento
extemporâneo de Onyx. A cúpula das Forças Armadas está perplexa com o expurgo
de seus melhores quadros.
Nada tem muita lógica, a não ser a da paranoia dos
que se acham sempre no alvo de conspirações que enxergam em sua própria copa e
cozinha. Formando um governo com os filhos e amigos ideológicos, regido pela
teoria da conspiração, Bolsonaro vai se isolando.
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