Editorial do jornal "O PODER POPULAR"
As recentes reportagens do site The
Intercept Brasil apresentam elementos irrefutáveis do caráter parcial e
politicamente seletivo da chamada Operação Lava Jato. Ficou claramente
demonstrada a articulação ilegal e ilegítima entre o então juiz Sérgio Moro e
setores do Ministério Público coordenados por Deltan Dallagnol. As combinações
entre juízes e procuradores são ilegais e antiéticas porque oferecem evidentes
privilégios à acusação em detrimento do direito de defesa dos réus.
Como o PCB
vem denunciando desde o início das investigações, sob o disfarce do combate à
corrupção, a Lava Jato é apenas a parte visível de um projeto de poder
arquitetado por segmentos reacionários e inescrupulosos do Judiciário para
justificar a estigmatização do Partido dos Trabalhadores (PT), o golpe
parlamentar contra Dilma Rousseff e a prisão do ex-presidente Lula, o que
inviabilizou sua participação nas eleições de 2018 e contribuiu para a eleição
de Bolsonaro. O PCB desenvolveu, durante os governos petistas, uma política
independente e de oposição à conciliação de classes e ao atendimento às
demandas e aos interesses do grande empresariado e dos monopólios capitalistas.
Criticamos ainda o atrelamento do movimento sindical às políticas oficiais,
tirando das lutas contra a exploração capitalista grande parte da militância antes
mais combativa. Mas jamais deixamos de denunciar com veemência a perseguição
mesquinha e inescrupulosa do Judiciário, da grande imprensa e dos partidos de
direita contra o PT desde o segundo governo Dilma Rousseff, quando se fizeram
sentir efetivamente, no Brasil, os efeitos da crise mundial do capitalismo. As
classes dominantes optaram então por um governo puro sangue da burguesia, no
entendimento de que o PT não tinha condições políticas para acelerar o processo
de retirada de direitos dos trabalhadores, questão central para garantir a
desvalorização da força de trabalho e a manutenção dos lucros do empresariado.
Toda a movimentação da Operação Lava Jato fez parte de um plano da burguesia
brasileira, em conluio com os centros do capitalismo internacional, com o
propósito maior de desbancar do governo aqueles que não eram mais funcionais ao
capital. Sabemos que a solução deste caso evidente de desrespeito às regras
criadas pela própria burguesia não se dará apenas no âmbito da justiça
burguesa, comprometida com a defesa dos interesses dos grandes grupos
econômicos e dos governantes de plantão. É preciso avançar nas lutas contra os
ataques aos direitos da classe trabalhadora e em defesa das liberdades
democráticas, para barrar a política de terra arrasada do governo Bolsonaro,
com destaque, neste momento, para a luta contra a reforma da previdência.
Mas
também é necessário exigir uma investigação rigorosa sobre as tramas da
Operação Lava Jato, suas ilegalidades e imoralidades, sua relação com a eleição
de Bolsonaro, bem como a punição de todos os envolvidos, além da libertação do
ex-presidente Lula. As experiências dos dias nacionais de luta em defesa da
Educação Pública (15 e 30 de maio) e da Greve Geral convocada pelas centrais
sindicais, organizações de esquerda e movimento sociais, indicam que ainda é
necessário investir mais na organização da luta nos locais de trabalho, moradia
e estudo e nas ruas para derrotar o projeto antipopular e antinacional de
Bolsonaro.
Estima-se que 45 milhões de trabalhadores tenham participado de atos
ou paralisações nas primeiras horas do dia 14 de junho, primeira grande jornada
popular contra o governo Bolsonaro. Mais uma vez o recado foi dado em protesto
aos ataques sistemáticos do capital e dos governos aos direitos políticos,
sociais e trabalhistas historicamente conquistados em décadas de lutas. Desta
vez, além da sempre decisiva presença da juventude, a classe trabalhadora se
fez presente em maior número nas manifestações e, principalmente, realizando a
paralisação da produção em inúmeras fábricas, nos transportes e no comércio em
diversas cidades. É preciso manter firme a mobilização, pois a guerra contra a
Reforma da Previdência e em defesa do emprego, da soberania nacional e dos
nossos direitos está apenas começando.
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