ESTADÃO - Pedro
Venceslau e Ricardo Galhardo
© ALEX SILVA/ESTADÃO Lideranças de 10 partidos de oposição e outras entidades durante reunião em apartamento em São Paulo |
Representantes de
dez partidos, entre eles PSDB, PDT, PT e Cidadania, se reuniram na
noite desta segunda-feira, 20, em São Paulo, para organizar o lançamento do
movimento “Direitos Já, Fórum pela
Democracia”. O objetivo é formatar um grupo suprapartidário de oposição
ao governo Jair Bolsonaro. A
iniciativa acontece a poucos dias de manifestação pró-governo,
marcada para o próximo domingo, e num momento em que a oposição organizada dos
partidos de esquerda e de centro-esquerda ainda é tímida no Congresso.
O encontro foi
organizado pelo escritor Fernando
Guimarães, do PSDB, e pelo advogado Marco Aurélio Carvalho, do PT. O movimento começou como um grupo
de WhatsApp que ultrapassou 200 integrantes de vários partidos. Segundo eles, a
ideia agora é lançar um manifesto e organizar um ato no Tuca, o teatro mantido
pela PUC em São Paulo. Ainda não existe uma data fechada para
isso.
“A ideia é ver se a
gente quebra o gelo e atua com uma plataforma comum”, disse o advogado Pedro Serrano, que cedeu seu
apartamento para o encontro. Carvalho seguiu na mesma linha e defendeu a busca
por uma “pauta comum”. “O que nos une é maior do que aquilo que nos divide”,
disse ele.
‘Diretas-Já’. Entre os cerca de 40 convidados, estavam
políticos como o ex-ministro Aloizio Mercadante, o ex-prefeito Fernando Haddad e o vereador Eduardo Suplicy, todos do PT; o ex-ministro da Justiça José Gregori, o ex-senador José Aníbal e o vereador tucano Daniel Anneberg, pelo PSDB; o
candidato derrotado do PSOL à Presidência, Guilherme Boulos, o presidente do PV, José Pena; José Gustavo, porta voz da Rede; além
de lideranças do PDT, Cidadania, PSOL e PCdoB e dirigentes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), UNE e do movimento negro.
Os participantes
disseram que não foram representando seus partidos. Vários deles não têm cargo
relevante de direção nas siglas. Mas se comprometeram a levar o que foi
discutido para suas respectivas legendas.
“Uma mistura dessas
só vi nas Diretas-Já”, disse Gregori, ao encontrar Suplicy no elevador. Os
convidados que chegavam ao evento recebiam um broche onde se lia “Direitos Já”.
Garrafas de vinho tinto e branco faziam companhia a sanduíches.
Os planos de união
não evitaram, porém, algumas reações mais ásperas. Durante sua fala, o
advogado Celso Antonio Bandeira de
Mello afirmou que Bolsonaro foi eleito “devido à influência dos
Estados Unidos” e que, neste sentido, era preciso ter consciência de quem está
“do outro lado”.
O tucano André Franco Montoro se irritou e
interrompeu o advogado. “Não vamos começar com teoria da conspiração aqui. O
governo foi legitimamente eleito. Se for assim, vou me levantar e vou embora”,
criticou ele, que acabou permanecendo no encontro.
Tesoureiro nacional
do PT, o deputado estadual Emídio de Souza disse estar disposto a abrir mão de
bandeiras do partido, como as campanhas contra a reforma da Previdência e pela liberdade do
ex-presidente Lula em nome da
unidade. “A Educação pode ser um ponto que nos una mais. Se não nos unificar a
Previdência e a campanha Lula Livre, vamos procurar o que nos une.”
Já o vereador Eliseu Gabriel (PSB) e o
candidato derrotado do PDT ao governo de São Paulo, Marcelo Candido, deram o tom eleitoral
ao falar em defesa de uma unidade para enfrentar o bolsonarismo nas eleições
municipais do ano que vem. “Vamos fazer com que a eleição do ano que vem não
nos distancie”, disse Candido.
Derrotado na
eleição à Presidência, Haddad defendeu que o grupo se organize em torno de uma
agenda mínima de temas como educação,
relações exteriores, geração de empregos e direitos humanos, e busque a
adesão do centro e do “centro- direita liberal”. “Não vou assinar um texto
pró-establishment. A gente não pode jogar o jogo dele (Bolsonaro).
Não tem establishment contra anti-establishment. O que tem é progresso contra
atraso.”
O líder do PCdoB na
Câmara, Orlando Silva, usou a
palavra “degelo” para classificar o encontro. “Temos de lutar contra o
sectarismo na política brasileira.” Entre os próximos passos do movimento, está
tentar atrair adesões em outras regiões, como dos governadores do Nordeste.
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