A principal
proposta do Ministro da Economia, Paulo Guedes, é a aprovação da reforma da
previdência. Com o apoio do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), o projeto foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
no dia 24 de Abril e deve ser colocada em votação em 2019.
As principais
alterações indicadas no projeto de Paulo Guedes são: fim da aposentadoria por
tempo de contribuição; mudança do tempo mínimo para se aposentar para mulheres,
com 62 anos, e homens com 65; alteração do tempo mínimo de contribuição de 15
para 20 anos, para homens e mulheres; diminuição da pensão por morte para
viúvos de 100% para 60% do dependente; redução do benefício inicial para o idoso
pobre de R$ 998 para R$ 400.
O projeto, segundo
o senador Paulo Paim (PT-RS), atinge de maneira contundente a qualidade de vida
de todos os grupos sociais mais vulneráveis no país, como a população negra.
“Ora, nós sabemos
que a grande maioria dos pobres brasileiros são negros, por isso, os negros são
os mais prejudicados. A reforma não poupa ninguém: negros, idosos, mulheres,
todos os vulneráveis. O prejuízo é enorme”.
O direito,
garantido no país há 96 anos, é um dos principais mecanismos de distribuição de
renda no país e tem atraído os olhos de bancos e grupos de investimento, de
acordo com o senador.
“Essa reforma que
está aí não interessa a ninguém, somente aos bancos e aos fundos privados de
previdência. O problema não é a Previdência, o problema é que os governos são
incapazes de criar condições mínimas para que o país cresça e se desenvolva”.
Estudo realizado
pela revista Dinheiro calculou que em 35 anos, o sistema de capitalização dos
bancos geraria um patrimônio de R$ 54 trilhões, ou seja, um faturamento anual
em média de R$ 388 bilhões.
Paim participou da
CPI da Previdência, no ano de 2018, comissão que apresentou a seguridade social
no país como um sistema com superávit. O documento aponta como problema a falta
de gestão administrativa e cobrança das despesas de bancos e grandes empresas.
“A CPI da
Previdência mostrou que o sistema é superavitário. O grande problema é de
gestão. Ela é má administrada. Nos últimos 30 anos, deixaram de entrar nas
contas da Previdência cerca de R$ 6 trilhões, em valores atualizados, devido a
esse problema de gestão”, afirmou.
De acordo com os
números da Procuradoria Geral da Fazenda, a Varig, empresa aérea falida em
2006, deve cerca de R$ 3,713 bilhões. Companhias ativas e com poder
significativo dentro do mercado como a mineradora Vale, tem dívida de R$ 275
milhões, a JBS, déficit de R$ 1,8 bilhão, e o Bradesco, de R$ 465 milhões.
Confira a entrevista na íntegra:
O discurso da imprensa e dos defensores da reforma
da previdência é que o Brasil tem um problema de despesa, que muitas pessoas
estão se aposentando. Qual a sua avaliação do dito problema previdenciário no
Brasil?
A Previdência Social
brasileira tem 96 anos e é considerada um dos maiores instrumentos de
distribuição de renda do mundo. Beneficia, direta e indiretamente, cerca de 80
milhões de pessoas e tem forte contribuição na dinamização da economia dos
municípios, por meio do pagamento de benefícios.
A previdência
brasileira é um manancial de exploração e de aumento de lucro para o sistema
financeiro. O discurso do “déficit previdenciário” é uma forma de criar uma
crise no sistema. Essa reforma que está aí não interessa a ninguém, somente aos
bancos e aos fundos privados de previdência.
Enquanto as grandes empresas devem milhões aos
cofres públicos, pensa-se em aumentar a cobrança sobre o trabalhador. Qual o
impacto da proposta de reforma da previdência para o povo negro?
Essa reforma do
governo prevê uma série de maldades: idade mínima para se aposentar de 62 anos
para mulher e de 65 para homem; benefícios inferiores ao salário-mínimo,
contrariando a própria Constituição.
O Benefício de
Prestação Continuada (BPC) é mais um jabuti do governo colocado na PEC 06/2019,
conhecida como reforma da previdência. Como benefício assistencial, o BPC não
deve ser discutido na proposta de mudança do sistema previdenciário.
Temos também a
implantação do sistema de capitalização, que acaba com a contribuição solidária
e coletiva. Ou seja, a contribuição passa a ser individual para um fundo de
pensão. Na prática é a privatização do sistema.
Essa reforma
atinge diretamente os pobres e nós sabemos que a grande maioria dos pobres
brasileiros são negros, por isso, os negros são os mais prejudicados. A reforma
não poupa ninguém: negros, idosos, mulheres, todos os vulneráveis. O prejuízo é
enorme.
O Brasil viu a aprovação da reforma trabalhista,
que precariza as relações de trabalho no país. Quais os impactos da soma dos
efeitos da reforma trabalhista e da previdência para os trabalhadores, em
especial os negros?
A reforma
trabalhista foi uma das maiores enganações feitas ao povo brasileiro. O governo
anterior dizia que com a reforma iriam ser gerados 6 milhões de empregos,
conforme matéria do jornal O Globo. Eles mentiram. Hoje, o desemprego não só
aumentou, são 13,4 milhões de desempregados, como também aumentou o número de
desalentados para 4,8 milhões, ou seja, aquelas pessoas que perderam a
esperança e estão no fundo do poço, quem não tem dinheiro ou esperança para
sair de casa para procurar emprego. Há também 30 milhões de trabalhadores
informais, sem direito social algum.
É uma situação
muito triste. A reforma da Previdência vai pelo mesmo caminho. O modelo que o
governo quer é o mesmo do Chile. Lá, nesse país, aposentados ganham menos da
metade de um salário mínimo. É inadmissível aceitar uma reforma que atinge a
dignidade das pessoas.
Quais foram os principais resultados obtidos com a
CPI da Previdência?
A CPI da
Previdência mostrou que o sistema é superavitário. O grande problema é de
gestão. Ela é má administrada. Nos últimos 30 anos, deixaram de entrar nas
contas da Previdência cerca de R$ 6 trilhões, em valores atualizados, devido a
esse problema de gestão.
E diga-se, a CPI
foi composta por parlamentares de diferentes matizes políticos e ideológicos.
Inclusive o líder do governo à época votou favorável ao relatório final da
comissão.
Os caminhos
apontados foram o de cobrar os devedores, combater as fraudes e sonegações,
fortalecer os órgãos de fiscalização, revisar o modelo atuarial, fim das
políticas de desonerações e desvios de recursos, entre outras. Somente a DRU
(Desvinculação das Receitas da União) retirou, entre 2000 e 2015, mais de R$
600 bilhões. Esse valor atualizado seria hoje de R$ 1,5 trilhão.
Tenho uma proposta
de emenda à Constituição que diz que o dinheiro da Seguridade Social tem que
ficar na Seguridade Social, não pode ser desviado para outros fins. Esse
dinheiro é do trabalhador e para o bem-estar do trabalhador.
Como
se vê, a Previdência é uma “galinha dos ovos de ouro”. Todos estão de olho
nela.
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