Gabriel Colombo
A segunda baixa na
equipe ministerial de Bolsonaro nos cem primeiros dias de governo ocorreu sem
implicar em uma guinada nos rumos da política bolsonarista para a educação.
Abraham Weintraub foi
empossado como Ministro da Educação neste dia 9 de abril, em Brasília. O
currículo de Abraham explicita os motivos que o levaram ao ministério.
Trabalhou dezoito anos no Banco Votorantim, onde foi economista-chefe e
diretor, isto é, esteve à frente dos negócios de uma das famílias mais
poderosas da burguesia brasileira, os Ermírio de Moraes.
No governo Bolsonaro,
era o secretário-executivo da Casa Civil, ou seja, o “número 2” da articulação
política do Planalto. Ao mesmo tempo, não representa uma ruptura com a ala
ideológica do governo, pois tem filiação declarada a Olavo de Carvalho.
A tarefa de Weintraub
é a mesma de Vélez: efetivar o projeto privatizante, precarizante e
antidemocrático de Bolsonaro na educação, mas com táticas e recursos
diferentes. Assim como é típico da ala ideológica do governo, Vélez fez declarações
que nada contribuíram para aprovar as pautas que interessam às classes
dominantes, pelo contrário, criaram escândalos e resistências ao ministro e sua
política.
Como resultado,
Vélez, já acuado pelos movimentos sociais, estudantes e professores que lutam
em defesa da educação pública, passou a ser fortemente questionado pelos
representantes políticos da burguesia e pelos militares, mais conscientes dos
interesses que devem atender no governo.
É necessário lembrar
que a Educação é uma área de grande importância para os capitalistas. Nas duas
últimas décadas as classes dominantes organizaram importantes aparelhos para
disputar a política de educação. É o caso, por exemplo, da “Todos Pela
Educação” e da “Fundação Lemann”. Um dos objetivos dessas organizações é criar
um consenso em torno da debilidade da educação pública e a necessidade de
melhorar sua qualidade a partir da mercantilização, destinando maiores fatias
do fundo público para a iniciativa privada, por diversos meios, desde a compra
de vagas em escolas particulares com recursos públicos à terceirização da
gestão escolar.
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Nesse contexto, é
compreensível os clamores por eficiência e “gestão técnica” da educação – como
se fosse possível dissociar técnica e política na direção de um ministério.
Essas exigências expressam os interesses da burguesia de que Bolsonaro efetive
a política de mercantilizar a educação, sem deixar que disputas ideológicas
laterais atrapalhem esse objetivo construído a longo tempo.
Portanto, a troca de
ministros, ao mesmo tempo que expressa a fragilidade e as contradições
interinas do governo Bolsonaro, demonstra que não ocorreu nenhuma guinada na
política. A burguesia, através de seus representantes políticos e da grande
mídia, apesar de manifestar insatisfação com as trapalhadas da ala ideológica,
mantém apoio a Bolsonaro e busca mediar com pressão suficiente para mantê-lo
sob suas rédeas, no entanto, sem colocar em risco, por enquanto, seu governo.
Weintraub expressa a
busca por eficiência e um novo pacto entre Bolsonaro, o mercado e os militares.
Coloca seu currículo, de experiência no mercado financeiro, diálogo com as
classes dominantes, articulação política e ideologia “olavista” a serviço desse
fim.
A saída para os
trabalhadores e para a juventude continua a ser intensificar as mobilizações e
a organização da classe trabalhadora, de forma a construir a greve geral e o
Encontro Nacional da Classe Trabalhadora e Movimentos Populares (ENCLAT). No
campo da educação, universidades e escolas começam a se mobilizar, a exemplo
das universidades estaduais da Bahia que entraram em greve. E dois importantes
eventos vão ocorrer nesse período: o III Encontro Nacional de Educação (12 a 14
de abril, em Brasília) e o 57° Congresso da União Nacional de Estudantes, em
junho.
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