Oposição ao governo Bolsonaro e luta em defesa dos direitos e das
liberdades democráticas: tarefas imediatas da classe trabalhadora
Nota Política do PCB
O desenvolvimento do
quadro político no Brasil, principalmente a partir de 2013, está relacionado à
evolução recente da crise estrutural do capitalismo, agravada pelos efeitos da
crise econômica deflagrada a partir de 2008, cujos efeitos ainda se fazem sentir,
principalmente na Europa, nos Estados Unidos e em muitos países do mundo.
Reafirmam-se as tendências de concentração e centralização do capital que,
reforçadas com a constante introdução de inovações tecnológicas na produção,
tendem a eliminar mais e mais postos de trabalho e aumentar a barbárie social
em todos os aspectos.
Essas características
da situação atual do capitalismo geram uma crise na fachada democrática do
Estado burguês e na sociabilidade burguesa. A ascensão da direita, da extrema
direita e do neofascismo nas ruas e em parlamentos e governos e a radicalização
das políticas liberais, em muitos países, promovem mais repressão política,
destruição de direitos, intensa precarização das relações de trabalho,
privatizações e mais rapinagem internacional dos monopólios capitalistas sobre
os povos e as nações. São consequências desse processo o aprofundamento da
fragmentação da classe trabalhadora, a maior alienação e a manipulação do senso
comum como formas de ampliação da dominação capitalista, assim como o aumento
da repressão política do Estado aos movimentos sociais, a disseminação da
intolerância e a perseguição a imigrantes, indígenas, negros, negras e LGBTIs.
O governo Bolsonaro
vem enfrentando um crescente desgaste junto à opinião pública brasileira e no
plano internacional. As denúncias de envolvimento de membros do governo em
esquemas de corrupção, como o ministro de Turismo, as muitas indicações de
candidatos “laranjas” do PSL, a retirada de apoio por parte de determinados
mentores de sua campanha, as postagens e falas absurdas nas redes sociais e
entrevistas à imprensa contribuem para provocar alguns desarranjos nas hostes
governistas. Somam-se a esses desgastes as cada vez mais evidentes suspeitas de
envolvimento do clã Bolsonaro com grupos milicianos, de onde saíram os
responsáveis diretos pelo assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes.
No plano
internacional, além da fala insuficiente e superficial e mesmo do silêncio
constrangedor que caracterizou a participação brasileira no Fórum de Davos, os
pronunciamentos sobre Venezuela, Israel e China geraram insatisfações em
importantes bases de apoio do governo, como o setor exportador e o agronegócio.
O governo apresenta dificuldades para estruturar as ações no campo da
institucionalidade burguesa e no interior do aparato do Estado, vendo-se
obrigado a negar na prática a promessa de campanha de que governaria de modo
diferente, repetindo os velhos hábitos corruptíveis de alianças com o Congresso
na base do “toma-lá da-cá” e no loteamento de cargos públicos.
Em consequência deste
quadro de contradições internas e dificuldades na condução da máquina estatal,
as forças militares de direita assumem, cada vez mais, posições de destaque no
governo, com Mourão adotando postura mais protagonista nas declarações
políticas, desautorizando, entre outros, os ministros das Relações Exteriores e
da Educação. Houve significativos recuos do governo nas posições externadas
sobre diversos temas. O presidente demonstra extremo despreparo político e
mesmo psicológico para o exercício da função.
O governo é, em
síntese, de extrema direita, numa composição de forças heterogêneas, com
hegemonia das frações burguesas ligadas ao capital financeiro e ao agronegócio.
Na sua base social estão movimentos e indivíduos simpatizantes de ideias
fascistas e grupos ultraconservadores das igrejas neopentecostais. Alguns
desses grupos se utilizam de métodos violentos de ação direta, como agressões
físicas e verbais a militantes políticos e ativistas sociais.
As pautas conservadoras
– externadas centralmente pelo clã Bolsonaro e figuras como Damares e os
ministros da Educação e das Relações Exteriores – são funcionais ao capital,
pois servem para desqualificar as lutas contra as opressões, com vistas a
justificar a mais intensa exploração capitalista sobre os pobres, as mulheres,
negros e negras e LGBTIs. Essas pautas atendem também a demandas de bases
sociais do governo consolidadas na campanha eleitoral e ainda servem para
justificar medidas como a privatização das escolas e universidades públicas e
dos institutos federais de Educação, Ciência e Tecnologia.
Mas o núcleo central
do governo está nos Ministérios da Economia e da Justiça, com Paulo Guedes
determinado a aplicar com mais radicalidade a política neoliberal, por meio das
contrarreformas – com destaque para a da Previdência -, que interessam ao
capital transnacional. Moro está incumbido de criar os meios legais para
controlar a reação popular a este projeto, com a criminalização dos movimentos
sociais, a imposição de mais dificuldades para o funcionamento dos sindicatos e
a ampliação da repressão policial. O projeto fundamental é o assalto ao fundo
público e a transferência dos R$ 650 bilhões ao capital privado. O governo atua
no campo da institucionalidade burguesa, mas pode recorrer à quebra dessa
institucionalidade, caso seja necessário.
Há contradições no
interior da classe dominante, expressas principalmente nas posições de setores
da burguesia industrial e produtiva, descontentes com a política econômica de
favorecimento ao capital internacional, que vem levando à desindustrialização
progressiva do Brasil e à reprimarização da nossa economia. Há também
contradições significativas com segmentos da sociedade que votaram em Bolsonaro
por conta de insatisfações gerais e de um sentimento “antipetista”, formado,
principalmente, pela identificação do PT com a corrupção sistêmica. Essas
contradições, entretanto, se superam quando se trata de unir a burguesia para
apoiar os ataques contra os direitos dos trabalhadores e as contrarreformas.
As insatisfações de
diversos setores sociais vêm desembocando, em grande medida, em denúncias e
manifestações contrárias ao governo nas mídias alternativas e em parte da
grande mídia. Muitos protestos foram registrados ao longo do carnaval, em manifestações
individuais e em blocos, escolas de samba, incluindo enredos de protesto. Foi
muito significativa a celebração do 8 de Março, com manifestações massivas em
todas as cidades brasileiras. Protestos e greves de trabalhadores começam a
eclodir, envolvendo várias categorias.
O centro da luta
política, em torno do qual devem se unificar as forças progressistas e os
movimentos sociais em resistência, é a contrarreforma da Previdência. Nesse
foco devem ser concentradas as ações dos partidos de esquerda, dos movimentos
sociais e das entidades de classe, na construção de uma forte base de oposição
ao Governo Bolsonaro, para a unificação de um poderoso movimento sindical e
popular que seja capaz de preparar a GREVE GERAL e barrar os ataques do capital
aos direitos sociais.
É necessária e
premente a construção da mais ampla unidade de ação com todas as forças que se
opõem ao Governo Bolsonaro e à direita no Brasil. Devemos fortalecer,
prioritariamente – participando ativamente de sua estruturação nos estados -, o
Fórum Sindical, Popular e de Juventudes de Luta pelos Direitos e pelas
Liberdades Democráticas, criado em São Paulo, em fevereiro, com a participação
de vários sindicatos de trabalhadores e inúmeras entidades de massa.
Neste momento é
essencial reforçar as mobilizações contra a Reforma da Previdência, em conjunto
com outras lutas, como a defesa do SUS, da Educação e do patrimônio público e
da soberania nacional. Para isso, devemos de imediato participar intensamente
da organização e dos eventos programados em todo o país pelas centrais
sindicais e movimentos sociais para o Dia Nacional de Luta, na próxima
sexta-feira, dia 22/03.
Em defesa dos
direitos e das liberdades democráticas! Construir a Greve Geral para derrotar a
Contrarreforma da Previdência! Pelo Poder Popular e pelo Socialismo!
Comitê Central do
Partido Comunista Brasileiro – PCB
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