Por Tiago Pereira
REDE BRASIL ATUAL
São Paulo –
Trabalhadores de diversas categorias e representantes sindicais de todo o
estado de São Paulo e de diversas regiões do país disseram não à proposta de
reforma da Previdência do governo Bolsonaro. Oito das principais centrais do
Brasil – CUT, CGTB, CTB, CSB, CSP-Conlutas, Força Sindical, Intersindical e
Nova Central – destacaram a unidade para enfrentar a tentativa de “destruição”
do sistema público de aposentadorias e sinalizaram para a construção de uma
nova greve geral, para novamente derrotar as mudanças pretendidas, como foi em
2017, durante o governo Temer.
A Assembleia Nacional
realizada na manhã desta quarta-feira (20) – mesmo dia e hora em que o
presidente entregava o projeto que altera as regras para aposentadoria ao
Congresso -, reuniu milhares de trabalhadores na Praça da Sé, em São Paulo. Os
organizadores estimaram em 10 mil pessoas participando da mobilização.
O projeto do governo pretende
aumentar a idade mínima de aposentadoria para 62 anos para mulheres e 65 anos,
para homens, além de criar um sistema de capitalização privada para a população
financiar a própria aposentadoria. A proposta inclui ainda um tempo mínimo de
contribuição de 20 anos ao INSS.
Os sindicalistas
reafirmaram que a proposta do governo afeta a todos os trabalhadores –, os que
já entraram no mercado de trabalho, os que já estão aposentados e os que ainda
nem começaram a trabalhar –, e que não vão aceitar a retirada de direitos.
Assim como as mudanças agora propostas nas aposentadorias, os representantes
sindicais também lembraram que o governo Bolsonaro acabou com o ministério do
Trabalho e ameaça ainda a existência da Justiça trabalhista.
A saída, segundo as
centrais, é mobilizar as bases contra a campanha de desinformação do governo e
da mídia, que quer jogar servidores públicos contra os trabalhadores da
iniciativa privada, com o suposto argumento de que a “nova previdência” vem
para combater privilégios.
“Hoje o que o
Bolsonaro quis fazer, mas nós não vamos deixar, é acabar com a Previdência no
Brasil”, afirmou o presidente da CUT, Vagner Freitas, que destacou que a dita
“reforma” não altera apenas as regras de acesso às aposentadorias, mas
fragiliza também as bases de todo o sistema da Assistência Social, responsável
pelo pagamento de direitos como auxílio-saúde e pensão por invalidez, dentre
outros.
Ele também frisou
que, ao restringir o acesso às aposentadorias, o governo Bolsonaro fragiliza a
economia da maioria esmagadora dos municípios com menos de 100 mil habitantes
em todo o país, que depende da renda dos aposentados. Freitas também manifestou
que duvida de que o governo tenha os alegados 308 votos para fazer passar na
Câmara a sua proposta de reforma, e disse que a CUT e as demais centrais vão
pressionar os deputados a derrubarem a proposta. “No final, vai ser a greve.
Não vamos permitir acabarem com a previdência sem derramar a última gota do
nosso sangue. A classe trabalhadora não baixa a cabeça para a repressão”,
afirmou.
Por sua vez, o
presidente da Força Sindical, Miguel Torres, destacou a unidade das centrais
como “momento único da classe trabalhadora”. “Essa reforma que foi entregue
agora cedo, mostra a perversidade com que o governo Bolsonaro quer tratar a
classe trabalhadora”, afirmou. Dentre as “perversividades”, segundo ele, o
regime de capitalização que “retira a função pública da Previdência Social”, e
também a desvinculação das aposentadorias ao salário mínimo.
Poupança privada A
proposta de capitalização também foi atacada pelo presidente da CTB, Adílson
Batista. ” Que façam capitalização para os que ganham mais, mas não mexam nas
aposentadorias de quem mais precisa”, afirmou ele, que também defendeu
radicalizar, não apenas nas palavras de ordem, mas na atuação dos sindicatos
nos locais de trabalho no sentido de construir a greve geral “para garantir a
previdência para o nosso povo”.
Sindicalistas e
trabalhadores também classificaram o governo Bolsonaro como de
“extrema-direita” e “fantoche” das forças do capital internacional,
interessados em controlar os recursos das aposentadorias e alertaram para a
escalada repressiva de um “Estado policial militar”. Escândalos de corrupção
foram lembrados como sinais de “fraqueza do atual governo”, como o “laranjal do
PSL”, que culminou com a demissão do ex-ministro da secretaria-geral da
Presidência Gustavo Bebianno.
Durante a assembleia,
foi destacada a luta dos servidores públicos da cidade de São Paulo, em greve
contra mudanças nas aposentadorias pretendidas pela gestão do governo Bruno
Covas (PSDB). Também manifestaram solidariedade aos trabalhadores da Ford,
ameaçados de demissão, após a montadora anunciar o fechamento de fábricas no
país, e lembraram o crime cometido pela mineradora Vale, em Brumadinho, a maior
tragédia trabalhista da história do país.
Ao meio-dia, com sol
forte, calor intenso e a Praça da Sé praticamente lotada, os movimentos sociais
do campo e urbanos também manifestaram apoio aos trabalhadores contra a reforma
da Previdência. “Quem não está aqui hoje é porque não está com a classe
trabalhadora brasileira”, afirmou o coordenador nacional do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) João Paulo Rodrigues, falando também em
nome da Frente Brasil Popular.
‘Organizar a greve
geral’ era uma das palavras de ordem
“Não é reforma, é
demolição” afirmou a professora Silvia Farraro, integrante do Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto e da Frente Povo Sem Medo. “Não queremos negociação,
precisamos derrubar essa proposta de reforma, e vamos começar tomando às ruas
no 8 de março”, data que celebra o Dia Internacional da Mulher, indicando uma
possível data de uma greve geral para derrubar a proposta de Bolsonaro para as
aposentadorias.
“Não tem arrego” e
“organizar a greve geral” eram os gritos de ordem entoados pelos trabalhadores
presentes. Para Veronica Lima, 39 anos, bancária de Belo Horizonte que veio a
São Paulo para participar da assembleia, a proposta de reforma interessa apenas
ao setor financeiro. “O projeto nem passou e os gerentes já estão pressionando
pra gente vender títulos de previdência privada. Como é que a gente vai
trabalhar até os 62 anos aguentando essa pressão por metas todo dia?”.
Já o professor
Vanderlei Cordeiro, de 44 anos, que atua na rede estadual do Ceará, e viajou cerca
de dois dias e meio de Fortaleza até São Paulo, fez um desafio aos
parlamentares que pretendem votar a favor da reforma proposta pelo governo
Bolsonaro: “Tem que chamar esses deputados pra ver se eles aguentam uma semana
numa sala lotada, tendo que fazer todo esforço para ensinar os nossos
adolescentes. Não temos privilégio. Privilégio quem tem são eles, com um monte
de assessor laranja.”
Publicado em 20.02.2019.
https://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2019/02/trabalhadores-unificados-dizem-nao-a-reforma-da-previdencia-do-governo-bolsonaro
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