Resumen Latinoamericano
Nota editorial:
Desde os primeiros
meses do ano passado, esta tribuna realizava um painel sobre as graves
consequências que trazem consigo as intervenções militares com fins
supostamente humanitários. Agora que a oposição venezuelana, articulada sob a
tutela absoluta de Washington, desenha um novo “Dia D” (o 23 de fevereiro) para
ingressar com a “ajuda humanitária”, convém refrescar a memória e buscar em exemplos
históricos recentes as tragédias sociais que ficaram no rastro este método de
mudança de regime. Sobretudo, e daí a importância e o interesse de republicar
esta investigação, se faz necessário insistir nos personagens e ações que as
promovem há tempos, tendo em vista que sobre a Venezuela se abate uma ameaça
real de intervenção militar. Sem mais preâmbulo, recordemos.
O século XXI foi
inaugurado por um novo mecanismo de intervenção e guerra contra nações
soberanas promovido pelo alto comando oficial do Pentágono e seus “sócios”
europeus da OTAN. Trata-se da “intervençãi humanitária”, uma ferramenta
geopolítica usada em algumas regiões do mundo no marco da estratégia formulada
por assessores militares de inteligência como Thomas Barnett e apoiado na burocracia
estadunidense, pelas mãos do almirante da reserva Arthur K. Cebrowski.
O mencionado plano do
Pentágono para o planeta se baseia na divisão binária entre Norte (“the
Functioning Core”) e Sul (“Non-Integrating Gap”). No mapa extraído de uma
apresentação que fizera Barnett en 2003, na parte superior se encontram os
países do chamado “Primeiro Mundo”, onde se concentram os grandes capitais
privados e negócios e a estabilidade política pretende ser preservada; na parte
inferior, fica o “Terceiro Mundo”, região toda que estaria destinada, segundo
os militares estadunidenses, a ser “balcanizada”, ou seja, territórios a serem
desmembrados, absorvidos no caos, de onde se captam riquezas em benefício dos
grandes capitais centrais do Norte para sua própria opulência.
Precisamente o termo
“balcanização” foi cunhado logo da primeira experiência de “intervenção
humanitária” no mundo, com a instrumentalização dos direitos humanos e das leis
internacionais a favor dos interesses estratégicos da OTAN, aplicada à extinta
Iugoslávia. Revisemos este e outros quatro casos deste tipo de guerra (e suas
variantes) para chamar a atenção sobre a atualidade venezuelana nos moldes
deste plano militar estadunidense e da proposta de Antonio Ledezma de solicitar
uma intervenção neste estilo.
IUGOSLÁVIA
Em 1999, a OTAN
bombardeou Belgrado, uma das cidades mais antigas da Europa, nos marcos do
(fabricado) conflito armado entre os separatistas albaneses do Exército de
Libertação de Kosovo (KLA) e as forças militares e policiais da Iugoslávia,
então integrada por Sérvia e Montenegro.
Segundo os máximos
responsáveis da OTAN, o governo iugoslavo havia criado uma “catástrofe
humanitária” com o pretexto de um suposto genocídio (limpeza étnica) dos
kosovares. A medida tomada pela organização gringo-europeia não foi sancionada
pelo Conselho de Segurança da ONU, questão que sabemos não lhe importou.
Os ataques aéreos se
realizaram de março a 10 de junho de 1999. Segundo estimativas publicadas por
Sputnik Mundo, as bombas mataram umas 2 mil 500 pessoas e mais de 10 mil
ficaram feridas. O prejuízo econômico foi estimado entre 30 e 100 bilhões de
dólares. A divisão da Iugoslávia em “republiquetas”, com a instalação de uma
imensa base militar estadunidense no coração de Kosovo, foi conhecida como “balcanização”,
pois ampliou o panorama jurídico-político no mapa dos Bálcãs.
Kosovo é, na
atualidade, produto desta “intervenção humanitária”, um centro logístico do
narcotráfico e do mercado de armas na Europa, e funciona como uma “fábrica de
terroristas” albaneses-kosovares que lutam nas fileiras do Estado Islâmico no
Oriente Médio e parte dos Bálcãs até o território asiático. Todo um paradigma.
IRAQUE
Uma das fake news
mais poderosas da história recente foi a das “armas de destruição em massa” de
Saddam Hussein, usada contra o Iraque para justificar sua invasão. O governo de
George W. Bush usou provas falsas para envolver numerosos países no apoio à
operação militar que posteriormente ocupou o território iraquiano, pois
supostamente o governo de Saddam teria usado tais armas contra a população
curda.
Durante anos, os EUA
e seus “aliados” mantiveram um embargo econômico e financeiro sobre o Iraque,
que provocou as condições precárias de abastecimento alimentar e medicinal e
que serviu ao Ocidente como justificativa para a “intervenção humanitária”.
Isto, junto com as “armas de destruição em massa”, foram a desculpa midiática
para o garrote militar.
A operação foi
vendida com base em nada, sob o pretexto da “liberdade” do povo iraquiano, pois
logo após a chegada das tropas estadunidenses e britânicas, não se encontraram
evidências do armamento citado.
Entre 30 de março e
primeiro de maio de 2003, os exércitos dos EUA, Reino Unido, Espanha, Austrália
e Polônia invadiram e tomaram o controle do governo iraquiano. Somente no lado
estadunidense morreram em combate uns 5 mil e 500 soldados e mercenários de
empresas privadas de segurança. Entre os iraquianos murreram, de acordo com
distintas fontes, uns 500 mil, dentre os quais 120 mil eram civis.
Cabe destacar que,
das guerras étnicas fabricadas no Iraque pela intervenção realizada por
militares estadunidenses, nasceu o conhecido Estado Islâmico, que em 2014 tomou
a cidade de Mosul.
LÍBIA
Meios de comunicação
ocidentais viralizaram montagens e notícias falsas em torno do suposto massacre
que perpetrava o governo de Muammar Khaddafi contra a população líbia. Sob o
lema da Responsabilidade para Proteger (R2P), os EUA assumiram a liderança
junto com a OTAN para invadir e bombardear a Líbia, e assim permitir que os
grupos mercenários-terroristas tivessem o acesso às principais regiões do país
africano.
A Líbia também
recebeu a etiqueta de “crise humanitária” com a intenção de se aprofundar o
expediente da intervenção, apesar de que o país vivia uma de suas épocas mais
prósperas sob a égide do “socialismo árabe” de Khaddafi.
A revolução colorida
na Líbia começou com protestos “pacíficos” que terminaram em assassinatos pelo
uso de armas convencionais por parte de manifestantes contra as forças líbias
de segurança. Os mortos civis foram atribuídos a Khaddafi e seu governo,
enquanto o Pentágono preparava a aprovação das Resoluções 1970 e 1973 no
Conselho de Segurança da ONU, que autorizavam uma zona de exclusão aérea em
território líbio. As consequências são evidentes hoje, já que o outrora país
mais rico da África é agora uma sopa de caos.
Estatísticas anunciadas
pela Telesur ilustram as mais de 20 mil pessoas mortas pela “intervenção
humanitária”, além de uns 350 mil refugiados devido à crise fabricada pela
guerra.
SOMÁLIA
Entre a pobreza
extrema e a guerra civil, iniciada em princípios da década de 1990, a Somália
tem vivido uma das piores ondas de fome da história da humanidade. Segundo a
Cruz Vermelha, já morreram cerca de 1 milhão e meio de pessoas. Os ditames do
FMI e do Banco Mundial em matéria de política econômica e monetária sobre o
governo somali do ditador Mohamed Siad Barre, aliado de petroleiras
estadunidenses, provocaram tão lamentável legado. As facções locais em conflito
contribuíram com o contrabando de alimentos por armas com comerciantes
ocidentais.
Em 1993, o Pentágono
usou a ferramenta de “intervenção humanitária” sobre a Somália com 30 mil
marines, numa operação denominada “Restaurar a esperança”. Conoco Somalia
Ltda., petroleira americana, foi a única transnacional importante que manteve
uma filial ativa na capital Mogadíscio, antes e durante a invasão. A empresa
cedeu suas infraestruturas e instalações em Mogadíscio para que fossem
utilizadas como embaixada e quartel general do comboio especial das tropas
estadunidenses.
Informes e
reportagens indicam que a fome e a crise sanitária no país africano se
multiplicou 10 vezes mais que no princípio da guerra. A “ajuda humanitária” era
só uma camuflagem para a militarização dos recursos gerais e o começo do
projeto de “balcanização” no Chifre da África, onde a USAID tem mais negócios
em curso, região esquecida pelo mundo.
HAITI
O abuso no número de
invasões e ocupações estadunidenses no Haiti na história da última centúria dá
uma mostra aos EUA de que deveria repensar um novo pretexto para voltar a
militarizar a ilha caribenha. Em 2010 se deu uma intervenção de caráter
lucrativo, em resposta à tragédia de 222 mil e 570 pessoas mortas pelo
terremoto, que deixou um milhão e meio de cidadãos na indigência e perdas
materiais calculadas em 7 bi e 900 milhões de dólares.
A nova “invasão
humanitária” haitiana dos EUA e da ONU tomou o controle da ilha e instalou a
missão MINUSTAH, com mais de 7 mil soldados e policiais. Houve centenas de
denúncias por abusos criminosos (sexuais e de força) dos corpos de segurança
estrangeiros (Capacetes Azuis, exército dos EUA) sobre a população haitiana.
Além disso, a ONU recebeu um questionamento legal dos próprios haitianos que
sofreram com a epidemia de cólera causada pela organização multilateral. A
enfermidade matou mais de 8 mil e 300 pessoas e deixou enfermos mais de 650 mil
desde outubro de 2010, cerca de 7% da população. A ONU não respondeu.
A recolonização do
Haiti ocorreu por meio de uma usurpação multimilionária e um assassinato
seletivo: em julho de 2017 foi encontrado morto Klaus Eberwein, ex-funcionário
de Estado do Haiti, que pretendia denunciar a Fundação Clinton no senado de seu
país por fraude e corrupção nos moldes das “ajudas humanitárias” do Ocidente
para a ilha. Eberwein afirmou que 0,6% das doações feitas por doadores
internacionais à Fundação Clinton, com o propósito expresso de ajudar
diretamente os haitianos e reconstruir infraestruturas vitais logo após o
terremoto de 2010, terminou nas mãos de organizações haitianas. Outros 9,6%
terminaram en mãos do governo haitiano. Os 89,8% restantes, ou seja, 5 bi e 400
milhões de dólares, foram canalizados para organizações não-haitianas, e a
principal responsável foi a entidade dirigida pelo casal Clinton.
Foi uma “ajuda
humanitária” que não ajudou.
O PLANO DE
INTERVENÇÃO “HUMANITÁRIA” NA VENEZUELA
O fugitivo da justiça
Antonio Ledezma tem visitado vários países do Ocidente com o fim de promover a
malfadada “intervenção humanitária” para derrubar o Governo Bolivariano em nome
da “sociedade civil”. Representante internacional do grupo Soy Venezuela, o
ex-prefeito de Caracas se fez dono e senhor da grita intervencionista contra o
país que o viu nascer e, apesar do prontuário deste tipo de ações militares por
parte dos EUA e cia, segue empenhado em arregimentar, junto com outros
dirigentes do Vontade Popular e Primero Justicia, recursos de poder brando e
poder duro contra a Venezuela, que derivem em uma “intervenção humanitária”.
Ledezma se reuniu com
no mínimo uma dezena de altos políticos do mundo, como o governador da Flórida,
Rick Scott; os presidentes latino-americanos Sebastián Piñera, Mauricio Macri e
o outrora presidente (por corrupção) Pedro Pablo Kuczynski, a vice-presidenta
do Panamá; com os europeus Emmanuel Macron, Mariano Rajoy; o vice-presidente
dos EUA, Mike Pence; para citar alguns por ora.
Uma paisagem de
destruição nacional e morte será a conclusão da solicitação de Antonio Ledezma,
tal como ocorreu com a Iugoslávia, o Iraque, a Líbia, a Somália e o Haiti. Não
somos nós a dizer, mas a história.
Fuente: Misión Verdad
Publicado em 19 de fevereiro de 2019
Tradução: Partido
Comunista Brasileiro
http://www.resumenlatinoamericano.org/2019/02/18/cinco-intervenciones-humanitarias-de-eeuu-que-terminaron-en-desgracia-2/
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