Relatório da CIDH frustra expectativas do bolsonarismo ao afirmar que houve ataque à democracia e ao apontar instituições sólidas e eleições livres no país
26 de dezembro de 2025
Jair Bolsonaro, em prisão domiciliar, em Brasília -
14/08/2025 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
Por Otávio Rosso
247 - O relatório sobre
liberdade de expressão divulgado nesta sexta-feira pela Comissão Interamericana
de Direitos Humanos (CIDH) trouxe conclusões que contrariam a narrativa
construída por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro após encontros com
representantes do órgão. O documento reconhece que o Brasil enfrentou uma
tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022 e atribui papel central
ao Supremo Tribunal Federal (STF) na apuração dos fatos e na defesa da ordem
democrática.
Segundo o texto, houve ações
deliberadas para desacreditar o resultado das eleições presidenciais. “A
Relatoria entende que o Brasil passou por tentativas deliberadas de
deslegitimar os resultados eleitorais internacionalmente reconhecidos do
período eleitoral de 2022, além do planejamento e da tentativa de execução de
um golpe de Estado”, afirma o relatório. Em outro trecho, a comissão ressalta
que “a defesa da democracia no Brasil também é um componente fundamental da
defesa do direito à liberdade de expressão no país”.
Ao abordar a atuação do Supremo
Tribunal Federal, a CIDH reconhece a importância das medidas adotadas, mas faz
uma ressalva quanto aos riscos institucionais. “O Supremo Tribunal Federal
desempenhou um papel fundamental ao iniciar procedimentos para investigar e
resolver essa situação”, diz o texto. Em seguida, alerta: “No entanto, também
há preocupações de que essas medidas constituam uma concentração de poder”. A
comissão pondera ainda que “há o risco de transformar uma solução temporária,
destinada a ser excepcional, em um problema duradouro, ao criar precedentes que
podem ser usados em benefício de regimes potencialmente autoritários no
futuro”.
Apesar dessa observação, o relatório
é amplamente crítico às reivindicações do bolsonarismo. Durante a visita ao
Brasil, o relator Pedro Vaca Villarreal chegou a se reunir com Bolsonaro, que
demonstrou otimismo após o encontro. Ainda assim, o documento final não
endossou as críticas ao Judiciário feitas pelo ex-presidente e seus apoiadores.
A CIDH também contextualiza o cenário
político brasileiro a partir de um olhar histórico, destacando marcas deixadas
pela ditadura militar. O texto aponta que o país carrega “marcas de
autoritarismo e desigualdade estrutural que informam a divisão social de
poderes e direitos”. Para a comissão, “a falta de uma resolução completa desse
passado ditatorial, sem iniciativas suficientes de memória, verdade e justiça,
levou à sobrevivência acrítica de sintomas, discursos, formas de exercício do
poder e atitudes autoritárias”.
Outro ponto abordado é o uso seletivo
do discurso da liberdade de expressão. Segundo o relatório, “alguns dos atores
que mais energicamente se referem ao direito à liberdade de expressão
desconsideram o fato de que o Estado, em todos seus momentos políticos e por
meio de diversos órgãos federais e estaduais, historicamente tem usado e
continua usando ações repressivas, incluindo o poder policial, contra os grupos
mais vulneráveis da população”.
A comissão também avaliou a
integridade do processo eleitoral brasileiro e o funcionamento das
instituições. Em sentido oposto às acusações difundidas após o pleito de 2022,
o relatório conclui que “o Brasil possui instituições democráticas fortes e
eficazes” e que “o Estado realiza eleições livres e justas, e é caracterizado
pela separação de poderes e pelo Estado de Direito”.
Mesmo com o alerta sobre possíveis excessos do
Judiciário, a CIDH afirma ter identificado “uma clara separação funcional dos
poderes, autonomia judicial e um sistema de freios e contrapesos em pleno
funcionamento”.

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