Analista destaca que o bloco avança na desdolarização e que o presidente brasileiro retomou protagonismo geopolítico na cúpula do Rio
Pepe Escobar | Bandeiras do Brics (Foto: Felipe L.
Gonçalves/Brasil247 | Reuters)
247 – O jornalista
e analista geopolítico Pepe
Escobar analisou em entrevista ao canal Think Bricks, no YouTube, os
bastidores e os desdobramentos da cúpula do BRICS realizada no Rio de Janeiro.
Ele afirmou que o encontro superou todas as expectativas e mostrou ao mundo que
o bloco caminha de forma decidida para reduzir a dependência do dólar, provocando reação imediata do
presidente dos Estados Unidos, Donald
Trump, que em seu segundo mandato já percebe o BRICS como uma ameaça
estratégica.
“Contra todas as expectativas, foi um sucesso”, disse Escobar,
destacando que o evento demonstrou a força crescente do bloco no cenário
geopolítico. Para o analista, a movimentação do BRICS na direção da desdolarização ocorre de forma
prática, sem que o termo precise ser usado oficialmente. “Eles estão fazendo o que precisam fazer”,
afirmou. “São vários trens de alta
velocidade correndo em trilhos paralelos rumo à estação da desdolarização,
ainda que com outro nome.”
Segundo ele, a percepção de risco por
parte dos Estados Unidos ficou evidente na reação imediata de Trump, que impôs tarifas de 50% ao Brasil logo
após a cúpula. “Mesmo com atenção de
menos de dois segundos, ele entendeu que o BRICS é agora uma ameaça séria”,
disse Escobar, reforçando que o avanço do bloco representa um desafio direto à
hegemonia do dólar.
Lula retoma protagonismo
no cenário global
Pepe Escobar também destacou o protagonismo do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, que, segundo ele, reencontrou-se
como líder do Sul Global. O momento mais simbólico foi o BRICS Business Day, quando Lula
discursou diante de empresários de diversas regiões do mundo.
“Foi um discurso de líder do Sul Global, atento ao ambiente, reescrevendo
o texto a cada instante para reagir ao que acontecia na sala”, disse
Escobar. Ele relatou que o presidente brasileiro demonstrou sensibilidade para
dialogar com o setor privado, homenageou o Conselho de Mulheres do BRICS e
estabeleceu uma ponte direta com líderes de outros países em desenvolvimento.
Para o analista, a atuação de Lula
consolida o Brasil como principal
voz da América Latina no bloco, abrindo espaço para maior
integração com a Ásia e a África. O convite feito pelo primeiro-ministro da
Malásia, Anwar Ibrahim,
para que Lula participe da cúpula da ASEAN em Kuala Lumpur, foi visto como um
passo simbólico dessa articulação. “Lula
vai adorar a experiência de sentar à mesa de iguais, um conceito central para o
Sul Global”, observou Escobar.
BRICS fortalece
caminho próprio
A entrevista também reforçou que,
além do aspecto político, a cúpula do Rio trouxe avanços concretos para o
BRICS. Entre eles:
·
Expansão do comércio em moedas nacionais,
reduzindo o uso do dólar;
·
Debates sobre uso do Novo Banco de
Desenvolvimento (NDB) como principal canal de empréstimos, com possibilidade
de operar fora do Swift;
· Fortalecimento da coordenação geopolítica e
econômica, diante de pressões externas e guerras híbridas.
Pepe Escobar avalia que o bloco vem
consolidando uma arquitetura
financeira e política própria, com efeitos que vão muito além de
comunicados oficiais. A reação de
Trump e o retorno de
Lula como articulador global são, segundo ele, sinais claros de que
o BRICS deixou de ser visto como apenas uma iniciativa simbólica e passou a
ser um ator estratégico na disputa
por uma nova ordem mundial. Assista:
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