Coordenador do grupo Prerrogativas critica revogação de decretos presidenciais pelo Congresso e cobra respeito à separação de Poderes
![]() |
Marco Aurélio de Carvalho (Foto: Joédson Alves/Agência Brasil) |
247 - A recente
revogação, pelo Congresso Nacional, de decretos presidenciais que aumentavam as
alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) gerou forte reação no
meio jurídico e político. Em artigo publicado na Folha de S.Paulo, o advogado Marco Aurélio de Carvalho,
coordenador do grupo Prerrogativas, classificou o episódio como “um verdadeiro
tsunami institucional” e um “gravíssimo ataque à ordem constitucional vigente”.
Segundo o autor, os decretos editados
pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram absolutamente legais e baseados
em prerrogativas exclusivas do Poder Executivo. A revogação parlamentar,
portanto, configuraria uma “usurpação de competências” e uma “ruptura
institucional” que viola o artigo 2º da Constituição, que garante a
independência e harmonia entre os Poderes.
“O que estamos testemunhando não é o exercício
legítimo de um controle legislativo, mas sim uma clara e descarada invasão de
competências exclusivas do Poder Executivo”, escreve Carvalho.
O artigo lembra que o artigo 153, §1º
da Constituição Federal confere ao Executivo a competência privativa para
alterar as alíquotas do IOF — uma prerrogativa que, segundo ele, não pode ser
compartilhada ou submetida à chancela do Congresso.
O autor também aponta que o Supremo
Tribunal Federal (STF) já firmou jurisprudência reconhecendo a legalidade de
tais medidas do Executivo em relação a impostos extrafiscais, como o IOF, cuja
gestão exige “condições técnicas e agilidade” que cabem ao Executivo, e não ao
Legislativo.
Para Carvalho, o movimento do
parlamento brasileiro revela uma tentativa disfarçada de transformar o sistema
presidencialista em um parlamentarismo informal, sem consulta popular e “pela
via autoritária dos fatos consumados”.
“O Congresso Nacional, que já
sequestrou competências executivas com as nada transparentes emendas
impositivas, agora avança sobre o núcleo duro das prerrogativas presidenciais”,
critica.
O artigo também cita outros episódios
recentes de tensionamento entre os Poderes, como a tentativa de revogação de
decretos de homologação de terras indígenas. Carvalho aponta que a ação
parlamentar configura “um verdadeiro acinte”, e alerta que a politização de
decisões técnicas pode tornar o país “ingovernável”.
Apesar da gravidade do cenário, o
autor elogia a postura do governo diante do impasse. Segundo ele, os ministros
Fernando Haddad (Fazenda) e Jorge Messias (Advocacia-Geral da União) adotaram a
via jurídica ao ingressar com ação declaratória de constitucionalidade no STF,
demonstrando “maturidade, respeito e confiança nas instituições”.
“O governo não precisa de artifícios
ou de manobras pirotécnicas. Tem a Constituição, a lei e a jurisprudência
consolidada do STF a seu lado”, afirma.Carvalho ainda sugere que o ataque
ocorre justamente num momento de recuperação econômica, com crescimento acima do
previsto, desemprego em queda, inflação controlada e retorno dos investimentos
estrangeiros. Nesse contexto, segundo ele, o decreto presidencial buscava
justiça tributária, ao elevar um imposto que atinge majoritariamente os mais
ricos.
Por fim, o jurista conclui com um apelo ao Supremo
Tribunal Federal para que reafirme os princípios constitucionais e impeça o
avanço do Legislativo sobre as funções do Executivo: “Cada Poder na sua
‘caixinha’. Simples assim.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário