domingo, 29 de junho de 2025

Cessar-fogo foi imposto por desespero de Israel, diz Pepe Escobar

Segundo o analista geopolítico, decisão de interromper os confrontos partiu de Tel Aviv após ataques iranianos comprometerem alvos estratégicos

(Foto: Brasil247)


 





Redação Brasil 247

247 – O cessar-fogo anunciado após os bombardeios dos Estados Unidos contra instalações nucleares iranianas não foi fruto de mediação equilibrada, tampouco de apelos humanitários. De acordo com o jornalista e analista geopolítico Pepe Escobar, a trégua foi imposta “por desespero de Israel”, que se viu à beira de uma catástrofe econômica e militar diante da resposta coordenada do Irã.

A análise foi apresentada por Escobar em seu programa Pepe Café, disponível no YouTube, no qual ele detalha os bastidores da ofensiva e da negociação que levou ao recuo israelense. “A pressão para um cessar-fogo veio de Israel em cima de Trump”, afirmou o jornalista. “Eles estavam correndo o sério risco de ver sua economia paralisar completamente em duas semanas.”

A ofensiva que saiu pela culatra

No dia 22 de junho, os Estados Unidos lançaram um ataque contra três instalações nucleares iranianas — Natanz, Isfahan e Fordow. A ofensiva foi vista como o prenúncio de uma escalada perigosa, segundo Escobar, com potencial para desencadear uma guerra em larga escala. A data escolhida, 22 de junho, coincide com o início da Operação Barbarossa, ofensiva nazista contra a União Soviética em 1941 — fato que o analista classificou como “altamente simbólico e provocativo”.

No entanto, a resposta iraniana surpreendeu. Mísseis foram lançados contra a base militar norte-americana de Al Udeid, no Qatar — considerada uma das mais estratégicas da região. “Foi uma mensagem direta do Irã: nós podemos atingir qualquer base dos Estados Unidos no oeste da Ásia, quando e como quisermos”, disse Escobar.

Ataques estratégicos e risco de colapso

Mais do que uma reação simbólica, os ataques iranianos começaram a mirar centros nevrálgicos da economia israelense. Entre os alvos citados por Escobar estavam a usina nuclear de Dimona, o porto de Haifa, o aeroporto Ben Gurion, centros de pesquisa como o Instituto Weizmann e a sede da empresa de defesa Rafael, considerada o equivalente israelense da Lockheed Martin.

“Os mísseis iranianos mais avançados começaram a cair sobre alvos econômicos estratégicos. Em questão de dias, Israel poderia ver sua economia em ruínas”, relatou o jornalista. Segundo ele, a taxa de interceptação do sistema de defesa antiaérea israelense caiu para menos de 50%, com tendência de queda para 30%, 20% ou até menos. “Os estoques de interceptadores estavam sumindo”, completou.

Rússia assume protagonismo, Trump tenta capitalizar

Escobar destacou que o papel decisivo na contenção do conflito partiu de Moscou. Um encontro entre o ministro das Relações Exteriores iraniano e o presidente Vladimir Putin, no Kremlin, teria sido o ponto de inflexão. “O aiatolá Khamenei enviou uma carta pessoal a Putin, o que demonstra o grau de confiança e urgência da situação”, explicou.

A partir dessa reunião, segundo o analista, a Rússia assumiu protagonismo no processo decisório. “Foi a partir desse movimento que os israelenses entraram em desespero e enviaram uma carta formal ao Irã, pedindo o fim da guerra”, afirmou Escobar. A resposta de Teerã foi categórica: “Acabamos a guerra quando decidirmos que ela deve acabar.”

Apesar disso, o presidente Donald Trump — que autorizou os ataques de 22 de junho — tentou apresentar-se como pacificador. “Ele viu uma oportunidade de posar como negociador de paz, depois de quase iniciar a Terceira Guerra Mundial”, ironizou o jornalista.

Equilíbrio estratégico e nova postura iraniana

Segundo Escobar, o Irã saiu do confronto fortalecido, mesmo com o alto custo pago. “O programa nuclear continua intacto, o sistema de mísseis balísticos não foi atingido e o país deu uma demonstração de força que impactou o Pentágono e a Casa Branca.”

Ele também destacou a mudança na doutrina militar iraniana: “Deixaram para trás a postura dissuasiva e adotaram uma estratégia ofensiva, com mísseis hipersônicos e capacidade de fechar o Estreito de Ormuz, o que poderia colapsar o sistema financeiro global em questão de dias.”

Implicações para os BRICS e o Sul Global

Escobar encerrou sua análise com um alerta: “Esta é uma lição fundamental para os BRICS e para o Sul Global inteiro. Um dos membros plenos do grupo, o Irã, foi atacado por um império e conseguiu se defender com firmeza.”

A expectativa agora recai sobre o papel do Brasil na presidência do bloco. “Será que os BRICS estarão à altura desse novo momento incandescente da conjuntura internacional?”, questionou. Assista:

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