segunda-feira, 3 de março de 2025

Crise geopolítica sobre a Ucrânia: choque interimperialista em meio ao pânico europeu

O que antes era uma guerra por procuração entre o imperialismo ocidental coletivo e a Rússia, agora se transforma em um conflito interimperialista EUA X Europa

03 de março de 2025

Zelensky, Starmer e Macron (Foto: Reuters)


 








Por José Reinaldo Carvalho 

O conflito na Ucrânia, cujo marco aparente é a Operação Militar Especial desencadeada pela Rússia há três anos, mas que já dura mais de uma década desde o golpe (2014) provocado e instrumentalizado pelo imperialismo estadunidense e a União Europeia naquele país do Leste europeu, está passando por uma transformação significativa, revelando uma contradição geopolítica de grande envergadura. 

O que antes era uma guerra por procuração entre o imperialismo ocidental coletivo e a Rússia, agora se transforma em um conflito interimperialista, em que os interesses exclusivos dos Estados Unidos entram em choque direto com os das principais potências da União Europeia, incluindo o decadente Reino Unido. A ascensão de Donald Trump ao poder consolidou a diretriz "América First", deixando claro que os EUA perseguem seus objetivos de forma unilateral, ainda que isso implique o abandono de aliados históricos.

A União Europeia, em pânico com a guinada de Washington, adota medidas desesperadas que só aumentam a instabilidade global e levam o mundo ao imponderável. As propostas de novas sanções à Rússia, maior militarização, envio de tropas para a Ucrânia, a insistência na expansão da Otan e a ameaça nuclear do presidente francês Emmanuel Macron, revelam um bloco europeu sem uma estratégia realista. Ao tentar reafirmar sua relevância, com a cúpula de emergência realizada em Londres neste domingo (2), a Europa aproxima o mundo do precipício de uma guerra de proporções catastróficas.

Ao contrário da posição de confrontação aberta adotada pela administração Biden, Trump tem sinalizado uma abordagem pragmática com Moscou. A promessa de que a Ucrânia não ingressará na Otan e as negociações diretas com Vladimir Putin indicam um possível acordo que poderá redefinir completamente o curso da guerra. 

A reviravolta na política dos EUA sobre a Ucrânia no mandato de Trump e as negociações em rápida evolução entre EUA e Rússia, que apontam inequivocamente para um degelo nas relações bilaterais, pegaram Bruxelas e Kiev desprevenidos. A flexão de Washington expõe a fragilidade da dependência europeia dos EUA. Se Washington selar um acordo com Moscou, a Ucrânia ficará sem suporte estratégico real, e a Europa se verá sozinha para lidar com as consequências de suas próprias decisões belicistas.

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e o presidente francês, Emmanuel Macron, viajaram a Washington na semana passada, sem conseguir convencer o presidente dos EUA, Donald Trump, a prometer garantias de segurança para a Ucrânia ou para a Europa. Starmer e Macron tentaram garantir um lugar para a Europa na mesa de negociações sobre a solução da crise na Ucrânia, mas voltaram para casa de mãos vazias sobre isso. 

A chefe de política externa da UE, Kaja Kallas, destacou que a Europa e a Ucrânia devem estar envolvidas na discussão de qualquer acordo. Muitos líderes europeus concordam com isso, enfatizando a conexão entre a segurança da Ucrânia e a da Europa. 

Durante a reunião emergencial de Londres deste domingo, os europeus reiteraram a busca de garantias próprias de segurança e dos EUA para a Ucrânia. Eles prometeram maiores gastos com defesa do lado europeu e o envio de tropas de manutenção da paz para a Ucrânia. E não faltou um desafio, lançado pelo primeiro-ministro britânico, que pode ter soado também como bravata: formar a "coalizão dos dispostos".

Trump desdenha essas reivindicações, mostrando confiança em que Vladimir Putin, "manterá a palavra" se um acordo for fechado. Ele também descartou a possibilidade de a Ucrânia ingressar na Otan. A filiação da Ucrânia à Otan tem sido uma questão central no conflito Rússia-Ucrânia. 

Apesar da posição das principais potências imperialistas europeias - Alemanha, França e Reino Unido -, muitos líderes europeus continuam céticos quanto à capacidade do bloco, já que a Europa está enfrentando fortes divisões sobre enviar tropas para a Ucrânia sob uma estrutura de manutenção da paz. As propostas de Macron e Starmer ainda carecem de apoio interno. Também há preocupações entre os estados-membros da UE sobre o risco de que mesmo uma presença militar europeia limitada possa aproximar a Otan de um conflito direto com a Rússia.

Novo quadro

A atual conjuntura reflete uma tendência clara: Trump busca uma nova ordem global que priorize exclusivamente os interesses estadunidenses, deixando aliados tradicionais à mercê de seus próprios erros. Se a Europa continuar na direção da escalada militar, poderemos estar à beira de um conflito de proporções inimagináveis, impulsionado não apenas pelo choque entre potências globais, mas também pela profunda crise interna do imperialismo ocidental. A atual posição europeia coloca todo o continente em risco, e o mundo assiste com apreensão às próximas movimentações neste delicado tabuleiro geopolítico.

EM TEMPO: Convém lembrar que o neonazi Zelensky esfacelou a oposição, incluindo fechamento dos partidos políticos e  prisões de diversos militantes de esquerda, inclusive do Prtido Comunista da Ucrânia. 

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