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Lula (aparecendo no celular) com outras lideranças durante evento em São Paulo (Foto: Ricardo Stuckert / PR) |
A imprensa tradicional quer fazer Lula 'tropeçar e desidratar antes de chegar às urnas em 2026', alerta a jornalista Denise Assis.
Em 1964 os estadunidenses viram
desfilar diante dos seus olhos o produto acabado de um golpe, cujas diretrizes
ditaram e acompanharam par e passo, dando, inclusive, apoio financeiro, que
impulsionou o protagonismo do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipês),
até que o presidente João Goulart fosse derrubado. Na retaguarda, a imprensa,
falada, escrita e televisada, que eram os veículos da época. A trama aparece em
todo o seu vigor, nas gravações e documentos exibidos no filme de Camilo
Tavares, “O Dia que Durou 21 anos”, e em obras sobre o período, fartamente
estudado por historiadores e jornalistas.
Em 2016, novamente estavam na cena do
crime, tendo a oportunidade de concretizar o golpe novo, com novas feições, sem
sangue, de mãos limpas. A experiência de se verem ligados a um regime que
torturava e matava não lhes agradou. Por isso, ficaram cheios de expectativa
para ver ser colocada em prática as teorias de William Lind, que em 1989 previu
em um artigo na Marine Corps Gazette que a próxima geração de guerras e golpes
de estado seriam mais “fluidos” do que as guerras do passado.
Desta vez, usariam armas
psicológicas, “arma operacional e estratégica dominante, assumindo a forma de
intervenção midiática/informativa. As notícias televisionadas se tornarão uma
arma operacional mais poderosa do que as divisões armadas”, previa o militar.
Dito e feito. Quem acompanhou o noticiário sobre a Lava-Jato saberá bem do que
estamos falando. Dilma sofreu um impeachment sem crime, provando, na prática,
que a tese de Lind era, de fato, eficiente.
Acontece que se em 1964 a conta do
golpe contra Jango e seus desdobramentos (as torturas) foi dividida com os EUA,
em 2016 foi debitada flagrantemente no escaninho da mídia, que não teve como se
esquivar das acusações de “golpista”. O país inteiro viu o noticiário
apressado, unilateral, persecutório, que de tão pesado errou a mão. O que era
para beneficiar o candidato do PSDB, levou ao poder, em 2018, como consequência
da campanha desenfreada contra Lula e o PT, um quadro da ultradireita, tosco,
autoritário, que reintroduziu no poder do país, os militares. Deu no que deu.
Agora, com vistas a 2026, quando o
governo de Luiz Inácio Lula da Silva debela o desemprego, apresenta um PIB
próximo a 4% e não para de divulgar bons resultados, é preciso colocar o pé no
seu trajeto, fazê-lo tropeçar e desidratá-lo antes de chegar às urnas, ou até
mesmo levá-lo a desistir de concorrer em 2026.
Para isto, a mídia não pode mais se
expor em inventar “escândalos” e operações policiais espetaculosas. Criativos
que são, como definiu o expert em pesquisas, o ex-diretor do Instituto Vox
Populi Marcos Coimbra partiram para o “pesquisismo”, usando, numa operação
casada, um noticiário obstinado sobre temas negativos antes, e uma pesquisa a
seguir, explorando aquele nicho do noticiário, que já se impregnou na opinião
pública.
Reparem que, até há uns dois meses, a
pauta era o “arcabouço fiscal”. Eis que, no final do ano, quando foi aferido o
déficit fiscal, o resultado bateu num mísero 0,9%, decepcionando geral. Como
continuar batendo nesta tecla, se o resultado não justificava a grita? Não
fazia mais sentido. Era hora de trocar de tema.
Com a alta de preços devido a quebra
de safras, alterações climáticas, dólar subindo por causa das guerras lá fora e
até estiagens no Sul, a escassez de alimentos veio a calhar. Sem esclarecer os
motivos com veemência, para o respeitável público, mas escrevendo em bold todos
os dias sobre a alta dos alimentos, encontraram, agora sim, o tema ideal. Deu
certo nos EUA, onde elegeram Trump, apesar dos ajustes econômicos de Biden –
não vai aqui nenhuma torcida -, por certo dará aqui.
O que nos disse Marcos Coimbra num
dia, ficou evidente no outro, quando uma pesquisa encomendada por um grandão do
mercado financeiro mostrou uma queda vertiginosa da aprovação do governo Lula,
ficando acima dos 60% a margem de desaprovação. Perfeito.
Enquanto a pesquisa mostrava um
retrato do momento, em que o “governo” e não o presidente Lula, é reprovado, as
manchetes colavam em Lula o índice de desaprovação. É dele a conta? É, mas uma
coisa é a rejeição ao governo. A outra, à pessoa de Lula, como dão a entender.
Assim, de pesquisa em pesquisa, a mídia
tem suas manchetes atribuídas aos resultados delas e não mais ao “denuncismo”,
dos tempos de Lava-Jato. Limpinha, sorridente, gasta horas com comentaristas
discutindo onde estão as falhas da Comunicação, e as deficiências do ministro
A, e do B.
Por hora, Lula aparece nas pesquisas
ao lado de um quase condenado por golpe de Estado, ombreando com um inelegível.
Por fora, sorridentes jornalistas olham para as lâminas das pesquisas – como
quem diz: não somos nós, são elas que estão dizendo. No final de cada fala,
apontam que existe um nome novo, que contentaria a todos, bem ali, à direita
(só não dizem que é à extrema direita), que pode resolver todo esse quadro para
2026.
Deputados, às nossas custas, tramam
com eles, de novo eles, os EUA, uma guerra por redes sociais – big techs -,
numa ação de fora para dentro.
Enquanto isto, tome de entrevistas ao quase
condenado, para manter a tal da polarização, tão danosa ao país. Como diria
Lula, há tempo de plantar e tempo de colher. Do jeito que vamos, estamos plantando
vento e, certamente, colheremos tempestade.
EM TEMPO: A legislação eleitoral deve se adequar a essa realidade típica de manipulação, exigindo a devida Prestação de Contas dos institutos de pesquisa antes e durante as eleições. Observem que as pesquisas em Pernambuco visam desgatar o governo Raquel Lyra.
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