domingo, 23 de fevereiro de 2025

"Enfim foi quebrado o gelo entre Rússia e Estados Unidos", diz Pepe Escobar

Um dos principais analistas geopolíticos do mundo relata bastidores das negociações em Riad e os desafios diplomáticos entre Washington e Moscou

23 de fevereiro de 2025

 
(Foto: Brasil247)

 

Redação Brasil 247




247 - O jornalista Pepe Escobar, um dos mais renomados analistas geopolíticos do mundo, afirmou que, com o encontro entre Rússia e Estados Unidos em Riad, "enfim foi quebrado o gelo" entre as duas potências na busca por uma possível solução para a guerra na Ucrânia. Em vídeo publicado em seu canal no YouTube, ele detalhou os bastidores das negociações e compartilhou suas impressões após uma nova visita ao Donbass, onde testemunhou mudanças no front de batalha e o impacto do conflito sobre a população local.

Escobar explicou que sua ida à região oriental da Ucrânia, sob controle russo, coincidiu com a Conferência de Segurança de Munique. "Se eu estivesse no Ocidente, teria ido a Munique. Como estou na Rússia, fui ao centro das discussões, que é o Donbass", destacou. Segundo ele, o encontro em Riad, realizado pouco depois de sua volta a Moscou, mobilizou a atenção da diplomacia russa. "Foram quatro horas de negociações intensas, e a decisão final caberá ao presidente Putin", afirmou.

O Donbass em meio à guerra e à reconstrução

Na terceira visita à região em um ano, Escobar observou um contraste entre a destruição causada pelos combates e os esforços de reconstrução nas cidades retomadas pelos russos. Ele revisitou Avdiivka, uma fortaleza ucraniana conquistada há cerca de um ano, e encontrou sinais do início da reconstrução. "Blocos de apartamentos completamente destruídos já estão sendo renovados", disse, mencionando relatos de moradores que sobreviveram meses em porões, sem acesso a água ou eletricidade.

Em Donetsk, o jornalista notou sinais de normalização da vida urbana. "Fui a um bar underground onde rappers locais recitavam suas letras no smartphone, algo impensável meses atrás", descreveu. Além disso, observou que a movimentação econômica na cidade está em alta, com a chegada de novos negócios e carros chineses circulando pelas ruas.

Mudanças no front e expectativas russas

Conversando com militares russos, Escobar ouviu relatos sobre a evolução do conflito e as expectativas para os próximos meses. "Eles sabem que a guerra será decidida no campo de batalha e acreditam que novos avanços virão", afirmou. Ele mencionou um encontro com comandantes a poucos quilômetros da linha de combate, onde estratégias para futuros ataques foram discutidas.

Um dos temas centrais foi a demora na autorização para uma ofensiva final contra as forças ucranianas. "Alguns militares acreditam que essa ordem já deveria ter sido dada, mas há divisões dentro do Ministério da Defesa sobre o melhor momento para agir", explicou. 

O impacto das negociações entre Rússia e Estados Unidos

Sobre o encontro entre representantes de Moscou e Washington, Escobar afirmou que, embora o gelo tenha sido quebrado, ainda há um longo caminho até um possível acordo. "Putin é quem determinará quem será o principal negociador russo. Os americanos, por outro lado, enfrentarão forte pressão do deep state para não fazer concessões", afirmou.

Ele destacou que a guerra na Ucrânia não é apenas um conflito entre Moscou e Kiev, mas um embate que envolve toda a aliança ocidental. "Os europeus, que se alinharam cegamente a Washington, agora começam a perceber que terão que pagar a conta", analisou. Segundo ele, enquanto EUA e Rússia negociavam discretamente em Riad, líderes da França e da Alemanha se reuniam em Paris para tentar salvar o apoio à Ucrânia. "Foi a cúpula dos desesperados, onde se discutia o envio de mais armas e dinheiro que eles não têm", ironizou. 

O futuro do equilíbrio global

Para Escobar, a influência global dos Estados Unidos ainda é poderosa, mas enfrenta desafios crescentes. "O soft power americano continua forte, mas está sendo contestado por novas realidades, especialmente no Sul Global e com o fortalecimento dos BRICS", apontou.

Ele acredita que o desfecho da guerra na Ucrânia dependerá das eleições nos Estados Unidos e da política externa de Donald Trump. "O ex-presidente já indicou que quer eleições na Ucrânia, o que pode mudar o jogo", afirmou, acrescentando que Londres já prepara um substituto para Zelensky.

Por fim, o jornalista revelou que sua próxima viagem será ao Líbano, onde pretende conversar com líderes do chamado "Eixo da Resistência". "Vou onde está a ação", concluiu. Assista:

https://www.youtube.com/watch?v=JvlcWnY-6Z0&t=3s

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