De acordo com o
militar, 'foi a ação protagonista de cúpulas hierárquicas das Forças Armadas,
do Exército Brasileiro em particular, que fez civis se mobilizarem nos
quartéis'
13 de maio de 2023
Marcelo Pimentel e os atos golpistas (Foto:
Reprodução/Youtube | Joédson Alves/Agência Brasil)
Por Inácio França, Marco Zero Conteúdo -
No rescaldo das violentas invasões e ataques de 8 de janeiro, o foco das investigações que buscam encontrar os conspiradores e financiadores da tentativa de tomar o poder por meio da força se concentra no governo do Distrito Federal, nas pessoas do entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro e nas centenas de pessoas presas no acampamento bolsonarista em Brasília. No entanto, o coronel do Exército na reserva Marcelo Pimentel Jorge de Souza alerta para o outro alvo que estaria no centro da complô: o Alto Comando do Exército brasileiro.
Pouco antes de
Bolsonaro vencer a eleição presidencial de 2018, Pimentel começou a se tornar
um personagem notório nas redes sociais por ser, provavelmente, o único oficial
das Forças Armadas a posicionar-se publicamente contra a politização do
Exército, Aeronáutica e Marinha. Foi ele quem criou a expressão “partido
militar” para definir a atuação coesa e articulada de generais e coronéis para
voltar ao poder e ocupar espaços na vida política do país.
Em seu perfil no Twitter, ele afirma taxativamente que os generais que compõem a maior instância de comando do Exército estimulou e está diretamente relacionada às ações que tiveram como desfecho as depredações nas sedes dos três poderes. Em um longo fio com 24 tuítes, Pimentel diz que “foi a ação protagonista de cúpulas hierárquicas das Forças Armadas, do Exército Brasileiro em particular, em diversos papéis, que fez civis se mobilizarem nos quartéis para pedir que os quartéis rompam a Constituição – de uma forma que nem eles sabem – em nome da ‘liberdade’.”
Para o oficial da
reserva, o papel dos generais no esforço para ignorar os resultados das urnas
ficou claro no dia 11 de novembro, quando o Alto Comando publicou a nota
intitulada “Ao povo e às instituições”. A nota legitimou aquilo que, até então,
parecia ser apenas manifestações de inconformados com a vitória de Lula, porém
ele aponta que as “manifestações eram estranhamente sincronizadas (planejadas
por quem?), já (…) ocupando áreas militares defronte a quartéis”. Logo depois
da nota, “houve um incremento enorme nas aglomerações, que adquiriram caráter
‘permanente’.”
Como desdobramento da nota, generais da ativa fizeram discursos “para suas tropas fazendo juízo de valor sobre a validade das manifestações políticas e declarando, literalmente, que ‘protegeria’ os manifestantes ‘ainda que houvesse ‘ordem de outros poderes’ em sentido contrário”.
Generais ao
megafone
Por telefone,
Marcelo Pimentel, que é pernambucano e voltou a morar no Recife após deixar o
serviço ativo, não só confirmou o teor das postagens, como acrescentou outros
comentários: “os coronéis, generais da reserva e capitães da Marinha só
apareceram para o público em geral nos vídeos gravados no domingo, mas esses
militares estiveram todo esse tempo nos acampamentos na frente dos quartéis”.
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Tal comportamento
seria, na ótica militar detalhada pelo oficial, “muito grave, pois até outro
dia eles estavam do lado de dentro do quartel, comandando, então ainda exercem
influência sobre seus antigos subordinados”.
Seu perfil no
Twitter, também aborda esse aspecto, descrevendo cenas em que “generais na
reserva tuitaram e foram pra calçada de quartel, de megafone em punho,
incentivar as manifestações”. Um deles [sem citar o nome, ele se refere ao
general Eduardo Villas Bôas, que era comandante do Exército quando postou
tuítes pressionando o STF a não libertar Lula, em abril de 2018], citou a
própria nota de 11 de novembro, se referindo a ela como aval para as
manifestações.
A partir de então,
parentes de militares passaram a gravar vídeos para WhatsApp e Instagram direto
de locais nevrálgicos do setor militar em Brasília: “frente do QG e das sedes
do BGP (Batalhão da Guarda Presidencial) e do BPEB (Batalhão de Polícia do
Exército de Brasília), responsáveis, respectivamente, pela segurança do Palácio
do Planalto (…) ao lado das residências oficiais dos generais de Exército (os
do Alto Comando q residem em Brasília) e do Centro de Inteligência do Exército
(CIEx), que assessora diretamente o Comandante como órgão central do sistema de
inteligência do Exército”.
Bolsominions ou
legalistas?
Entre os vídeos
gravados pelos militares durante as ações golpistas de 8 de janeiro, um deles
viralizou. Na filmagem, o coronel Adriano Camargo Testoni chama diversas vezes
de filho da puta e manda tomar no cu seus colegas de turma que chegaram ao
generalato e ao Alto Comando. E cita alguns nomes: Ridauto, Pontual e Pinto
Sampaio são alguns deles.
Então, seriam esses
homens livres da influência de Bolsonaro ou do general Augusto Heleno? “Nada
disso, pelo contrário. General Ridauto [Ridauto Lúcio Fernandes] foi o
braço-direito de Pazuello no Ministério da Saúde durante a pandemia, citado na
CPI da covid e tudo mais. Os outros também não. Eu os conheço bem”. Pontual e
Pinto Sampaio são os generais-de-visão Carlos Duarte Pontual, secretário-geral
do Exército, e Adriano Pinto Sampaio.
Então, surge a
pergunta óbvia? Há algum general que não seja bolsonarista no Exército
brasileiro? “Se você conhecer algum, por favor me apresente”, brinca Pimentel, que
explica conhecer todos, tanto de churrascos e festas de aniversário, quanto na
vida na caserna ou em grupos de WhatsApp. “Eles são mais do que bolsonaristas,
são bolsominions mesmo, porém todos muito competentes no que fazem, excelentes
líderes e, por incrível que pareça, legalistas”. Como assim? “Sim, não são
pessoas interessadas em dar golpes de Estado, mas em atuar politicamente. É o
partido militar”.
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