ESTADÃO - História por Marcelo Godoy
O comandante militar do Sudeste, general Tomás
Miguel Ribeiro Paiva discursa em defesa da democracia Foto: Reprodução/CMSE© Fornecido
por Estadão
O comandante militar do Sudeste,
general Tomás
Miguel Miné Ribeiro Paiva, afirmou que o resultado das urnas deve ser
respeitado. É a primeira manifestação pública de um comandante
militar desde os ataques à sede dos três Poderes,
em Brasília, no dia 8. “Vamos continuar garantindo a nossa democracia, porque a
democracia pressupõe liberdade e garantias individuais e públicas. E é o regime
do povo, de alternância de poder. É o voto. E, quando a gente vota, tem de
respeitar o resultado da urna”. Ribeiro Paiva foi anunciado como
novo comandante do Exército neste sábado, 21, substituindo o general Júlio
César de Almeida.
Um dos três mais antigos oficiais
generais do Alto Comando do Exército (ACE), Tomás, como é conhecido, foi um dos
comandantes que se opuseram a qualquer tentativa de virada de mesa após a
vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na
eleição presidencial. Por isso, tornou-se alvo, ao lado de outros integrantes
do ACE, de uma campanha difamatória de bolsonaristas.
Na quarta-feira, dia 18 de janeiro,
no quartel-general do Comando
Militar do Sudeste (CMSE), com a tropa formada, o general discursou
durante cerca de dez minutos. Na ocasião, ele lembrava os militares mortos na
missão de paz das Nações Unidas no Haiti, onde o Brasil permaneceu de 2004 a
2017. Dezoito militares morreram no terremoto de 12 de janeiro de 2010, que
destruiu parte do país caribenho em 2010. Quando coronel, Tomás comandou um
batalhão no Haiti.
No meio do discurso, o general passou
a tratar de outro “terremoto”, que atingiu recentemente o País. “Nós últimos
dias, nós estamos vivendo um outro tipo de terremoto no País: um terremoto
político, que não causou mortes” Esse terremoto, segundo ele, é movido pelo
ambiente virtual, que não tem freio. “Todo nós somos hoje hiperinfomados. Para
excesso de informação só tem um remédio: mais informação. É se informar com
qualidade e buscar fontes fidedignas.”
De acordo com ele, essa violência,
“essa intolerância tem nos atacado”. “Esse terremoto não está matando gente,
mas está tentando matar a nossa coesão, a nossa hierarquia e a nossa
disciplina, o nosso profissionalismo e o orgulho que a gente tem de vestir essa
farda. E não vai conseguir.” Logo em seguida, o general reafirmou o Exército
como instituição de Estado. “Ser militar é ter uma instituição de Estado,
apolitica, apartidária; não interessa quem está no comando, a gente vai cumprir
a missão do mesmo jeito. Isso é ser militar.”
O general disse ainda que os
militares não devem ter correntes políticas e devem permanecer coesos. “(Ser
militar) é não ter corrente. Isso não significa que ele não pode ter sua
opinião. Ele pode ter, mas ele não pode se manifestar. Ele pode ouvir muita
coisa: ‘faço isso, faça aquilo’, mas ele faz o que é correto, mesmo que o
correto seja impopular.”
O general concluiu o discurso para a
tropa com uma defesa enfática da democracia e do respeito ao resultado das
urnas. “Essa é a mensagem que quero trazer para vocês. Em que pese o turbilhão,
o terremoto, o tsunami, nós vamos continuar íntegros, coesos e respeitosos e vamos
continuar garantindo a nossa democracia, porque a democracia pressupõe
liberdade e garantias individuais e públicas. E é o regime do povo, da
alternância de poder. É o voto. E, quando a gente vota, tem de respeitar o
resultado da urna. Essa é a convicção que eu tenho, mesmo que a gente não goste
do resultado – nem sempre é o que a gente queria. Mas essa é o papel da
instituição de Estado, que respeita os valores da Pátria.”
Assista a fala do general Tomás: https://www.youtube.com/watch?v=nkHPNZKnGo0&t=3s
Assista a entrevista que o Comandante da Marinha, almirante Marcos
Sampaio Olsen, concedeu a jornalista Eliane Cantanhêde. https://www.youtube.com/watch?v=w59WuaeIk3k&t=1s
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