BRASIL 247 - Editorial
Em meio a uma entrevista coletiva em Montevidéu, o
presidente Lula fez questão de se referir ao ex-presidente Michel Temer
como "golpista". Usou a alcunha ao analisar, com dose de indignação,
o desmonte promovido pelas gestões subsequentes, dos programas de proteção
social criados ao longo dos governos petistas: “O Brasil não tinha mais fome
quando eu deixei a Presidência da República e hoje tem 33 milhões de pessoas
passando fome, significa que quase tudo que nós fizemos de benefício social no
meu país, em 13 anos de governo, foi destruído em seis anos, ou melhor, em sete
anos; três do golpista Michel Temer e quatro do governo Bolsonaro”.
A menção de
Lula a uma chaga histórica que representou um divisor de águas na vida nacional
evidencia a disposição do mandatário de manter disputa constante com aqueles
que pretendem sujeitar não apenas o seu mandato como também, sob arranjo
falacioso, manietar a sua pessoa.
Como não
poderia deixar de ser, a manifestação lulista ensejou reações irritadas não
apenas do próprio Michel Temer, cujo nome já está para sempre amalgamado ao
epíteto aludido por Lula, como também de colunistas e editoriais dos veículos
da mídia. Esta, aliás, sócia de referência da derrubada da presidente Dilma
Rousseff em 2016 naquilo que entrou para a história como o golpe do
impeachment.
Editorial do
Estado de S.Paulo inconformou-se: "Justamente no momento em que o
país mais precisa de um estadista capaz de reconstruir pontes e fomentar o
diálogo...Lula colabora para manter em carne viva o tecido social".
Para surpresa
de ninguém, "O Globo" mostrou-se irresignado no mesmo dia, tom
e local: "Que golpe é esse que ninguém viu?", diz seu editorial
intitulado "Governo tenta reescrever a verdade sobre impeachment". Já
o jornal Valor, também da Globo, expressou no editorial ("Brasil volta à
cena externa com diplomacia passadista") que "Lula propagandeou sua
versão da história, ao mencionar o 'golpe' de Estado que depôs Dilma e chamar o
ex-presidente Michel Temer de 'golpista'".
O coro
reencarna as performances afinadas da orquestração que maculou o processo
democrático brasileiro entre 2013 e 2016, com as consequências trágicas de
conhecimento geral. O solo de Jair Bolsonaro na cerimônia do impeachment, com
sua homenagem à tortura, está gravado para sempre na memória de todos. É
de se notar também a defesa que o referido oligopólio midiático exerce em
uníssono da figura de Michel Temer, bem como da existência de pedaladas
fiscais, ardil arquitetado para revestir de legalidade um processo político que
já foi desmoralizado pelo Tribunal de Contas da União, pela Comissão Mista de
Orçamento do Congresso e até por ministros do Supremo Tribunal Federal.
A declaração
de Lula em Montevidéu não poderia ser mais bem-vinda: ela serviu para revelar e
afastar de seu mandato os poderes que na verdade desejam forçá-lo a trair sua
trajetória, a jurar fidelidade a seus algozes, numa operação destinada não a
almejada pacificação, mas na verdade a uma rendição. Serviu para saber que dos
meios oligopolistas de comunicação não se pode esperar boa vontade, autocrítica
e respeito à verdade histórica.
O golpe contra
Dilma esteve ligado de forma umbilical à prisão do presidente Lula. É
impossível apoiar a legalidade do primeiro sem coonestar a sucessão de eventos
que resultou no segundo. Ao repor a história do Brasil em seu lugar, ao não
deixar pisotearem a sua história, Lula arrombou também as grades da nova prisão
em que velhos poderes, incrustados dentro e fora da máquina pública,
pretendem, prometendo simpatia, controlar seu mandato.
EM TEMPO: A ex-presidente Dilma foi destituída porque não quis comprar alguns parlamentares como o fez Bozo. Não há provas de que houveram as "Pedaladas Fiscais".
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