ESTADÃO - História por Vera Rosa e Daniel
Weterman
Lula em jantar de confraternização de fim de ano do
grupo Prerrogativas, que reúniu cerca de 400 juristas em dezembro do ano
passado. Foto: Werther Santana/Estadão© Fornecido por Estadão
Com cinco ministros no governo,
o Grupo Prerrogativas vai
montar uma ofensiva para levar o ex-presidente Jair Bolsonaro a responder por ações de
seu governo na Justiça. A estratégia do grupo, que reúne advogados e juristas
ligados ao PT, será traçada com o objetivo de tornar Bolsonaro inelegível.
Em jantar realizado nesta
segunda-feira, 3, para comemorar a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cerca de 200
integrantes do Prerrogativas demonstraram que agem em sintonia com o Palácio do
Planalto. O mote “Sem anistia”, puxado por eleitores de Lula, também foi
entoado naquele encontro.
O discurso dos advogados coincide com
o do próprio presidente ao tomar posse, no domingo. No Congresso, Lula defendeu a punição dos culpados
pelo agravamento da pandemia de covid-19, atribuído ao antecessor.
“Não carregamos nenhum ânimo de revanche contra os que tentaram subjugar a
Nação a seus desígnios pessoais e ideológicos, mas vamos garantir o primado da
lei. Quem errou responderá por seus erros com direito a ampla defesa, dentro do
devido processo legal”, afirmou ele na ocasião.
Para o advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do
Prerrogativas, há motivos de sobra para a Justiça decretar a prisão de Bolsonaro.
“É preciso examinar as condutas do ex-presidente na compra de vacinas, no
escândalo dos pastores no Ministério da Educação, com propina em barras de
ouro, e sua participação no orçamento secreto”, argumentou Carvalho, ao citar casos revelados pelo Estadão.
Apelidado de “Prerrô”, o
Prerrogativas ganhou notoriedade ao criticar excessos da Operação Lava Jato e
fazer a defesa pública de Lula quando ele estava preso na Superintendência da
Polícia Federal, em Curitiba, de abril de 2018 a novembro de 2019. No ano
passado, muitos advogados do grupo apoiaram financeiramente a campanha de Lula.
Agora, avaliam que, embora Bolsonaro tenha perdido as eleições, é preciso
derrotar o bolsonarismo. Aliados do governo esperam que a Polícia Federal, a
Controladoria-Geral da União (CGU) e o Ministério Público passem a investigar o
ex-presidente para que essas apurações deem origem a processos na Justiça.
Primeiro escalão: Nomes ligados ao grupo Prerrogativas
·
Fernando Haddad,
ministro da Fazenda
·
Silvio Almeida,
ministro dos Direitos Humanos
·
Paulo Teixeira,
ministro do Desenvolvimento Agrário
·
Vinícius Carvalho,
Controladoria-Geral da União
·
Jorge Messias,
Advocacia-Geral da União
“Não se trata de revanchismo. Temos
de olhar para frente na perspectiva de reconstruir e reconciliar o Brasil, mas
não podemos passar pano para ninguém porque o grande grito que temos de dar é:
‘Sem anistia’”, disse Carvalho durante o jantar do grupo, realizado no
restaurante Fuego, de propriedade do advogado Antônio Carlos de Almeida Castro,
o Kakay.
“Na redemocratização, nós erramos ao
não punir os terroristas e os torturadores. Foi isso que fez o Bolsonaro ganhar
a eleição de presidente em 2018?, destacou Kakay.
Diante de amigos, o advogado alertou
sobre os riscos da aliança feita por Lula para vencer as eleições e formar uma
base de apoio no Congresso. “Vai ser muito difícil. Fizemos um arco de alianças
amplo demais. Mas, se ficarmos unidos, sairemos melhores do outro lado”, disse
ele.
Prerrogativas faz ofensiva no governo Lula para responsabilizar e tornar
Bolsonaro inelegível© Fornecido por Estadão
Em jantar, líder do Prerrogativas entoa grito 'sem anistia'
Na sua fala, Marco Aurélio afirmou que o grupo 'não
quer revanchismo', e sim 'reconstituir e reconciliar o Brasil'.
Atualmente, a Esplanada abriga cinco ministros do Prerrogativas: Fernando Haddad (Fazenda), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Sílvio Almeida (Direitos Humanos), Vinícius Marques (CGU) e Jorge Messias (Advocacia-Geral da União). Os nomes constam da página do grupo na internet. Além disso, são integrantes do Prerrô o secretário nacional de Justiça, Augusto de Arruda Botelho; a presidente do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), Sheila de Carvalho; e Laio Morais, chefe de gabinete do ministro da Fazenda.
Sugestões do Prerrogativas sobre as indicações para o STF.
Lula fará duas indicações para o Supremo Tribunal Federal (STF) neste ano. A primeira será em maio, quando o ministro Ricardo Lewandowski se aposenta, e a segunda, em outubro, com a saída da presidente da Corte, Rosa Weber. O grupo vai sugerir nomes para essas cadeiras, como Pedro Serrano, Lenio Streck, Heleno Torres, Carol Proner, Dora Cavalcanti e Manoel Carlos de Almeida Neto, mas admite apoiar candidatos que não pertencem ao Prerrogativas. Nessa lista estão Cristiano Zanin, advogado de Lula na Lava Jato, apontado como favorito para a vaga de Lewandowski, e o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas.
O Estadão tentou entrar em contato com Bolsonaro, mas não
conseguiu localizá-lo.
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