Lula e Arthur Lira (Foto: Nelson Jr./SCO/STF | Ricardo Stuckert | Marina Ramos/Câmara dos Deputados) |
"As
apostas hoje são de que, inevitavelmente menor, Lira poderá ter uma pasta mais
modesta e a manutenção do apoio à sua reeleição. E olhe lá", diz a
jornalista Helena Chagas (*)
Ainda que tenha tomado ares de parceria
no pós-eleitoral, o duelo Lula x Lira é o que é: uma disputa envolvendo poder
no futuro governo. No momento, a plateia espera, respiração suspensa, para ver
quem pisca primeiro: Lula diz que só nomeará políticos do centro-Centrão depois
de aprovada a PEC da Transição na Câmara, mas esses políticos dizem que só
votarão a PEC depois de garantirem seus ministérios.
Com poder de vida e morte sobre a PEC -
que tem que ser votada semana que vem - Lira vem fazendo exigências acima do
razoável, mesmo depois de ter obtido o apoio formal do PT à sua reeleição ao
comando da Câmara em fevereiro. Quer um ministério forte, tipo Saúde, para um
aliado polêmico como o deputado Elmar Nascimento (União-BA), que sempre
achincalhou Lula e o PT e que sofre forte oposição dos petistas da Bahia.
Ainda que aliados afirmem que Lira pede
Saúde para ganhar algo tipo Integração ou Minas e Energia, talvez nem isso Lula
precise dar ao presidente da Câmara. Com desfecho mais uma vez adiado - agora
para segunda-feira -, o julgamento do orçamento secreto no STF parece caminhar
para uma solução favorável ao petista - um acordo pelo qual a Corte exigirá que
as emendas RP9 sejam transparentes, revelando seus autores, e tenham
obrigatoriamente que se enquadrar em programas e ações do Executivo, além de
serem distribuídas proporcionalmente entre bancadas e regiões.
Essa solução, que vem sendo inclusive
discutida no Congresso, ainda que com menor rigor de critérios, não provocaria,
como se temia, a vingança maligna de Lira e do Centrão contra a PEC. Esse temor
tomou conta de articuladores da transição essa semana, quando a relatora Rosa
Weber proferiu voto em que considera inconstitucional o orçamento secreto e
decreta sua extinção. Nesse caso, Lira, cujo poder emana do manuseio das
emendas secretas, estaria liquidado e arrastaria o novo governo para um jogo de
perde-perde.
Tudo indica, porém, que não vai ser
assim, e que a PEC da Transição será votada na terça-feira dentro do acordo que
vai desinflar e tirar o caráter secreto das emendas de relator - mas que não
acaba com elas. O placar de 5 x 4 em favor da posição de Weber poderá virar na
segunda-feira com os votos de Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, justamente
os dois que pediram o adiamento do julgamento nesta quinta - diz-se que
esperando o acordo.
Paradoxalmente, esse acordo
Congresso-STF, que mantém vivas as emendas RP9, é politicamente melhor para
Lula, neste momento, do que a extinção da excrescência que é o orçamento
secreto. Em vez de um Lira vingativo, o novo governo estará diante de um Lira
mais fraco.
E aí chegamos ao ponto de partida.
Sabendo que vai perder boa parte de seu poder de manipulação das bancadas,
baseado no orçamento secreto, Arthur Lira quer substituí-lo por outro
instrumento - o controle de um ministério forte, tipo Saúde, com seus
cargos e estruturas. É o que lhe restará.
Mas Lula, a rigor, não precisa dar tudo
o que ele pede. A favor do presidente eleito age a Lei da Gravidade Política,
segundo a qual a perspectiva de poder atrai os parlamentares, mas sua perda
repele. As apostas hoje são de que, inevitavelmente menor, Lira poderá ter uma
pasta mais modesta e a manutenção do apoio à sua reeleição. E olhe lá.
(*)
Helena Chagas é jornalista, foi ministra da Secom e integra o Jornalistas pela
Democracia
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